QUAL É A SUA HISTÓRIA SOBRE A COMIDA AFETIVA? XIV – responde Osmir Moraes
Qual é a sua história sobre comida afetiva? Aqueles pratos da sua infância que vinham da cozinha da sua mãe ou da sua avó. Pratos que são mais do que simples alimentos, que representam gestos de carinho, envolvem emoções, memórias e trazem um senso de pertencimento.
Qual é a sua “Madeleine de Proust”? Aquele sabor ou cheiro que o transporta para o passado, evocando memórias profundas e, muitas vezes, inesperadas.
Osmir Moraes é Engenheiro Químico e Consultor na área downstream (indústria do petróleo) (*)
Dizem que a primeira vez ninguém esquece. Seis anos de idade, a aventura de pegar duas lotações de mãos dadas com a moça que tomava conta de mim naquele tempo não existiam as babás
Sem eu saber, acredito que nem meu pai nem minha mãe sabiam, fui ao cinema pela primeira vez
Tudo escuro, cadeira dura eu escorregava quase caindo no chão, pois tinha que sentar bem na pontinha para ver a tela, que estava coberta com um pano roxo parecido com os que minha mãe cobria os espelhos na quaresma
Uma música desconhecida, anos depois a descobri, era música clássica. Qual? Não me recordo.
O cinema tinha uma névoa que mesmo no escuro dava para sentir e toca-la; eram as pessoas fumando. Cheiro horrível! Será que veio daí a minha aversão ao cigarro?
Vai começar, anuncia um facho branco de luz nublado. Primeiro susto, as pessoas começaram a gritar sssh sshh quando surgiu uma ave que parecia um urubu. Conhecia o bicho, era um daqueles que ficavam em frente a um matadouro de animais, que naquela época de ambiente inteiro, era quase que dentro da cidade de Petrópolis-RJ.
Voltemos à ação. O filme se chamava, hoje eu sei, ”O Cão dos Baskervilles “ com Peter Cushing e Christopher Lee. Sherlock Holmes era o personagem principal, mas o que ficou para mim, nas noites seguintes, ainda que mal dormidas, foram as cenas dos cães, que me faziam lembrar do Cine Glória
Depois vieram os filmes ao ar livre na Praça da Liberdade, após andar de “bodinhos “. Vieram as matinês no cine Petrópolis aos domingos para ver “As Aventuras de Tom e Jerry “, mas aí é outra história.
Depois do cinema tinha o lanche em casa. Era assim. Casa grande, já tinha sido minúscula com banheiro fora da casa, minha mãe na cozinha, redundante, filha de portugueses tinha o dom, vinha no DNA já para colocar no currículo.
Ao lado do fogão, o botijão de gás todo paramentado, vestido de branco com bordados em vermelhos de vários tons com o toque do verde escuro.
Do outro lado, uma lata quadrada de banha de porco de 18 litros, que eu acreditava capaz de “moto- continuo”, pois durante a minha infância nunca a vi vazia.
A porta da cozinha sempre fechada, senão o vento apagava as chamas; quando entrávamos logo ouvíamos o alerta “feche a porta“. Mas bastava o aroma que vinha das frestas para sabermos que minha mãe estava trocando ideias com a deusa Deméter.
Somos três irmãos “criados por mãe”, dengados e dengosos, cada um não gostava de algum alimento e nunca eram os mesmos, por isso na mesa sempre tínhamos três combinações para agradar a cada um.
Das minhas lembranças, a mais forte vem pelo olfato e, até hoje, minha boca enche d’água : era a “cuca“ de banana que minha mãe fazia .
Não sabia à época que o nome “cuca“ vem de kuchen (bolo em alemão) tudo a ver com Petrópolis, cidade onde nasci, colonizada por alemães.
Bananas nanicas cortadas bem finas, receio dizer transparentes, acomodadas em um berço retangular da forma de bolo.
Saindo do forno, quentinha, era só fazer uma “chuvinha“ de canela em pó e concorrer com meus irmãos. Uma delícia, uma unanimidade.
Aprendi bem cedo que a primeira vez ninguém esquece. Saudades da minha mãe…
(*) O Osmir também é meu amigo e padrinho de casamento. Ele se apresenta como sendo “alegre e facinho de gostar dele!“
Receita Tradicional Alemã de Cuca de Banana
Uma delícia macia e coberta com farofa crocante, bem típica da confeitaria alemã e muito popular no sul do Brasil.
Ingredientes:
Para a massa:
- 500 g de farinha de trigo
- 10 g de fermento biológico seco (ou 30 g de fermento biológico fresco)
- 100 g de açúcar
- 1 pitada de sal
- 250 ml de leite morno
- 80 g de manteiga (derretida)
- 2 ovos
- 1 colher (chá) de essência de baunilha (opcional)
Para a cobertura (Streusel – farofa crocante):
- 100 g de manteiga gelada
- 100 g de açúcar
- 150 g de farinha de trigo
- 1 colher (chá) de canela em pó (opcional)
Recheio:
- 5 a 6 bananas maduras fatiadas
Modo de Preparo:
- Preparando a massa:
- Em uma tigela grande, misture o fermento com o leite morno e uma colher de açúcar. Deixe descansar por 5 a 10 minutos até espumar.
- Adicione a farinha, o restante do açúcar, o sal, a manteiga derretida e os ovos. Misture bem e sove por cerca de 10 minutos até obter uma massa lisa e homogênea.
- Cubra com um pano e deixe crescer em um local morno por aproximadamente 1 hora, ou até dobrar de volume.
- Preparando a farofa Streusel:
- Em uma tigela, misture a farinha, o açúcar e a canela.
- Adicione a manteiga gelada cortada em cubos e misture com as pontas dos dedos até formar uma farofa granulada. Reserve na geladeira.
- Montagem e finalização:
- Unte uma forma retangular média e espalhe a massa fermentada uniformemente.
- Distribua as fatias de banana por cima da massa.
- Polvilhe a farofa Streusel sobre as bananas, cobrindo bem toda a superfície.
- Deixe descansar por mais 20 minutos enquanto pré-aquece o forno a 180°C.
- Assando:
- Asse em forno preaquecido por 35 a 40 minutos, ou até a cuca dourar levemente por cima.
- Deixe esfriar
DICA DO SOMMELIER: na hora do lanche eu acompanharia com café coado, seu amargor irá contrastar bem com a doçura da cuca, com chá preto ou o chá de canela (infusão erroneamente chamada de chá) que trará um toque aromático que harmonizará com a leveza da massa.
Agora, tirando as crianças da sala, se for para ter um álcool, um espumante nacional Moscatel ou Demi-Sec será uma boa pedida, oferecendo um equilíbrio entre acidez, frescor e doçura. Uma tacinha de um vinho de sobremesa de colheita tardia também cairia muito bem.