Qual é a sua história sobre comida afetiva? Aqueles pratos da sua infância que vinham da cozinha da sua mãe ou da sua avó. Pratos que são mais do que simples alimentos, que representam gestos de carinho, envolvem emoções, memórias e trazem um senso de pertencimento.
Qual é a sua “Madeleine de Proust”? Aquele sabor ou cheiro que o transporta para o passado, evocando memórias profundas e, muitas vezes, inesperadas.
Valter Silva, Sommelier e Diretor da ABS-DF, nos conta como o simples pode ser sofisticado.
“Não sei se minha história se encaixa no mundo glamoroso do vinho. Mas, é no mínimo sugestiva por ser simples e prazerosa.
A minha mãe, que Deus a tenha, foi para mim a melhor chefe de cozinha que conheci. Me saía água da boca quando ela estava cozinhando. Dos seus pratos, o mais famoso era justamente o mais simples, que muita gente despreza, talvez por desconhecer o segredo do tempero.
Ela fazia bife acebolado bem passado, temperado com sal e pimenta do reino preta. Para acompanhar tinha salada de alface com tomate e cebola (frita até o ponto de amarelada) regada com azeite e o famoso arroz com feijão carioca.
Os temperos do bife eram equilibrados. Nada passava. Esse era o segredo das mãos mágicas da minha memorável mãe. Nunca vi igual. Era umami!
Para mim esse prato harmonizaria com um bom Cabernet Sauvignon, amadeirado e elegante, com aromas de tostado e especiarias.
Aprendi com minha mãe que o sofisticado é bom, mas se o simples for feito com amor e sabedoria se torna mágico e umami, que em japonês tem o significado literal de “sabor delicioso”.
DICA DO SOMMELIER: Aqui temos o prato que é a verdadeira expressão da cozinha caseira brasileira. Concordo com a sugestão de harmonização do Valter, mas acrescentaria o meu pitaco. Talvez o sabor mais marcante seja o da cebola frita. Apesar de vinhos brancos, sem passagem por madeira, cítricos e com boa acidez pudessem responder bem, devido aos sabores intensos e marcantes presentes na combinação de ingredientes do prato, optaria por tintos de estrutura média, frutados e com taninos macios, das uvas Malbec, Merlot ou Cabernet Franc.
One thought on “QUAL É A SUA HISTÓRIA SOBRE A COMIDA AFETIVA? – VI responde Valter Silva”
A comida, além de nos nutrir, tem o poder de nos transportar para lembranças especiais e momentos inesquecíveis. Estou encantada em acompanhar esse trabalho tão cheio de carinho e dedicação.