Qual é a sua história sobre comida afetiva? Aqueles pratos da sua infância que vinham da cozinha da sua mãe ou da sua avó. Pratos que são mais do que simples alimentos, que representam gestos de carinho, envolvem emoções, memórias e trazem um senso de pertencimento.
Qual é a sua “Madeleine de Proust”? Aquele sabor ou cheiro que o transporta para o passado, evocando memórias profundas e, muitas vezes, inesperadas.
Vou iniciar essa série de conversas em família com o depoimento da minha prima, Martha Venancio Mignot, de Campos dos Goytacazes-RJ, cidade onde passei todas as férias da minha infância e que ainda continuo visitando todos os anos:
“Quando criança eu era enjoada para comer. Todo mundo falava que eu era qualificada de enjoada para comer. Mas falando de comida que me lembra meus avós tem algumas que me vêm à memória.
Se fosse na casa dos meus avós maternos, o destaque era, sem dúvida, os churrascos de carneiro. Nós, um bando de primos curiosos, ficávamos espiando o churrasqueiro, chamado Baiano — um homem enorme —, enquanto ele abatia o carneiro e o pendurava em uma árvore para sangrar. Ficávamos apavorados, observando tudo pelas frestas do portão. Depois, esquecíamos o choque inicial e corríamos para comer, brincando e rindo. Tentávamos até enganar nossa avó, que não comia carneiro, jurando que aquele espetinho era de boi. Fazíamos competições para ver quem comia mais. Eu não participava, mas tem uma lenda que um certo primo chegou a comer 16 espetinhos!
Já na casa da minha avó paterna eu me lembro da ambrosia. Não sei se ela cozinhava muitas outras coisas, mas ela fazia uma ambrosia maravilhosa, sempre com cravo, que eu nem gostava, mas tirava e comia. Nunca mais comi uma igual, mas eu acho que isso é sabor de infância mesmo. A gente fica com essa ideia.
Agora que estamos perto do final do ano, lembro que todo ano ela fazia rabanada para os natais lá de casa. Naquela época era tudo feito à mão, nem batedeira tínhamos. A medida que minha avó foi ficando mais velha e sem condições de fazer sozinha, passei a ir à casa dela para ajudar. Assim aprendi a fazer as minhas rabanadas, que agora são iguais às dela.
Já na casa de mamãe tinha um cardápio único todo o domingo, carne assada com batata, farofa e uma macarronada cheia de rodelas de ovo cozido. E este foi um prato que nos acompanhou por toda a vida. Mesmo depois que os filhos se casaram, continuou a tradição de irmos com as crianças pequenas para poder almoçar lá com eles. E a comida era sempre essa. Não adiantava! Ela podia comer qualquer coisa em outro dia da semana, mas no almoço de domingo era isso, carne assada com batata, macarrão com rodela de ovo cozido e farofa.
Nas sobremesas, algumas também marcaram muito. O bombocado das férias na praia de Atafona, o doce jenipapo do pé lá de casa, o bolo Tronco, sempre presente em todas as festas da família e o chuvisco, o docinho símbolo da nossa cidade.”
RECEITA DA VOVÓ DITOSA
RABANADA
Ingredientes:
4 pães de rabanada
1 L leite
Açúcar refinado
Canela
8 ovos
Modo de fazer:
– Corta-se o pão em fatias diagonais com dois dedos de largura
– Molhar cada fatia em mistura de leite com açúcar e canela
– empanar nos ovos batidos
– fritar cada fatia em óleo quente
– passar a rabanada frita na mistura de açúcar com canela
Dica de harmonização:
– Vinho do Porto Ruby ou Tawny, Vinho Madeira ou Moscatel de Setúbal.
2 thoughts on “QUAL É A SUA HISTÓRIA SOBRE COMIDA AFETIVA? – I – responde Martha Mignot”
Boa tarde!
Que alegria esse lindo trabalho.
Amo e trabalho com essas riquezas, as receitas afetivas que passam de geração em geração.
Também gosto muito, fico lembrando dos cadernos com as receitas escritas a mão. Agora vamos aguardar a sua história.