QUEM NASCEU PRIMEIRO – O BARRIL DE CHOPE OU A GARRAFA DE CERVEJA?
O título é apenas uma brincadeira com a história do ovo ou a galinha, não tem nem como ter dúvida que na Europa o barril veio primeiro. E no Brasil também. As primeiras cervejas que chegaram aqui vinham de Portugal ou da Inglaterra em barris de madeira armazenados nos porões dos navios, já viram que a qualidade inicial lá do local de produção não tinha como se manter. Não era uma bebida de consumo popular.
Na primeira metade do século XIX, com a vinda de muito imigrantes europeus, inclusive alemães, que tinham o hábito de consumir cerveja, começaram a surgir algumas tentativas da sua produção, mas que eram prejudicadas pela falta de tecnologia adequada além do malte e do lúpulo, seus principais insumos.
Da segunda metade do século XIX ao início do século XX, com a criação de grandes cervejarias, como a pioneira Bohemia em 1853, e com as novas técnicas de refrigeração, a cerveja passou a ser mais facilmente distribuída, ficando mais acessível, o que a tornou mais popular.
Depois surgiram os barris metálicos, de aço inoxidável ou de alumínio. Com grandes vantagens sobre os de madeira, como serem mais duráveis, mais fáceis de higienizar mantendo a qualidade da bebida e de suportarem pressões mais altas.
Por falar em o barril suportar uma pressão mais alta, uma das lembranças mais antigas que tenho sobre barril de chope foi em uma festa de família que o meu pai me levou quando eu tinha menos de 10 anos. Tinha um barril de chope na festa. Atenção, não sou do século XIX mas o barril era de madeira e tinha uma bomba, igual aquelas de pneu de bicicleta, para dar a pressão. Parece que cada um que tirava um chope achava que tinha que dar mais pressão. E dá-lhe de bombear. Daqui a pouco o barril explodiu e foi aquele lago de chope no chão. A partir daí fiquei com um certo ….., não diria medo, mas respeito por barris de chope, ainda mais com aquela bala de gás ao lado. Mas nunca mais tive problema algum.
Mas o que realmente popularizou a cerveja foi quando começou a ser vendida em garrafas, o que permitia a sua portabilidade para ser levada para ser consumida em qualquer lugar. Apesar deste engarrafamento ter se iniciado no final do século XIX, tudo mudou nas décadas de 1920 e 1930, quando as empresas automatizaram suas linhas de produção e ampliaram suas redes de distribuição.
Hoje o Brasil é o terceiro maior mercado de cerveja do mundo, perdemos apenas para a China e Estados Unidos. Em 2023 se estimava que tínhamos mais 2.000 cervejarias, sem contar a turma do artesanal sem registro. Ainda neste ano o nosso consumo foi de cerca de 13,5 bilhões de litros. É um número tão expressivo que representa 60% do total de todas as vendas de bebidas alcoólicas no país.
Para se ter uma ideia da disparidade do consumo da cerveja em relação às outras bebidas alcoólicas, enquanto o consumo de cerveja é de 67 litros por pessoa ao ano, as duas bebidas seguintes estão bem distantes, ficando a cachaça em torno de 4 litros e o vinho com 2,5 litros.
Em termos de consumo a cerveja ganha até dos refrigerantes, com seus 50 litros anuais por pessoa, perdendo apenas para a água mineral com 70 litros e o leite, que mesmo com a queda do seu consumo nos últimos anos, continua sendo o campeão com expressivos 120 litros.
Apesar de estarmos em terceiro lugar no volume total, no consumo per capita estamos fora do topo do ranking, que é liderado pela República Tcheca, que ultrapassa os 140 litros anuais.
Estava em um evento na embaixada da República Tcheca e comentei sobre este fato com um dos diplomatas, ele me esclareceu que não é tão fácil assim manter este recorde, afinal ele tem um filho de apenas 8 anos de idade, então, para não baixar a média, ele tem de tomar 280 litros de cerveja por ano. Uma afirmativa que prova que realmente o diplomata é um profissional que disponibiliza o seu fígado para servir à pátria.