SANGRIA – A BEBIDA DA ALEGRIA

Publicado em coquetéis

Depois da sangria com o vinho Petrus volto ao tema para falar da história e da receita desta bebida tão tradicional da Espanha.

SANGRIA – A BEBIDA DA ALEGRIA

A Sangria é uma bebida à base de vinho tinto e frutas, é símbolo da Espanha, uma verdadeira tradição, sendo sempre associada à alegria, festas, verão e praias. Tanto o seu nome como a sua receita envolvem diversas versões e histórias, gosto de todas estas possibilidades que fazem parte da construção da sua lenda.

A origem do nome “sangria” é disputada pelos idiomas espanhol, inglês, francês e o português. Em todas as versões a origem do nome é atribuída à sua cor avermelhada, semelhante à do sangue, devida ao vinho tinto utilizado e também ao fato da bebida ser diluída com água, lembrando o antigo tratamento médico que diminuía a pressão sanguínea.

Na versão do espanhol derivaria da palavra “desangre” (sangue), com origem na região de Andaluzia, Espanha. Do inglês a origem seria “sangaree”. Os franceses tem uma versão mais elaborada, colocando a origem da bebida nas Antilhas Francesas, sendo o nome vindo de sang-gris, a bebida que era elaborada com vinho, açúcar, limão e especiarias. Já outros franceses acreditam que sang-gris era uma outra bebida consumida nos navios dos piratas, onde misturavam a tinta das lulas e dos polvos aos vinhos para dar sabor e assim obter uma nova cor para a bebida. Devemos lembrar que o vinho nesta época se conservava muito mal e logo ficava com um sabor bem desagradável, daí a necessidade das misturas.

Finalmente viria do português “sangue”, talvez pelas qualidades medicinais que lhe eram atribuídas que resultavam em depurar o sangue dos seus consumidores.

   Em 1803 a Real Academia Espanhola alterou a definição da palavra sangria passando de uma simples limonada para uma bebida composta de limonada e vinho tinto. Com o passar do tempo e a inclusão de novos ingredientes o significado de Sangria também se alterou e hoje a Real Academia Espanhola a define como uma “bebida refrescante que se compõe de água e vinho com açúcar, limão e outros complementos”.

Apesar de toda esta longa história a Sangria só veio a ser conhecida internacionalmente após a sua apresentação na Feira Mundial de Nova York em 1964, quando se tornou um grande sucesso. A partir daí passou a ser consumida em todas as classes sociais e se tornou uma bebida presente em muitos países.

Ia falar da receita mas me lembrei de uma historinha que aconteceu comigo e que tem uma relação com a Sangria. Estava em Barcelona, Espanha, em companhia das Madames E e N, e nos dirigíamos mais uma vez em direção a um restaurante para, como bons turistas, comermos um paella e tomarmos uma sangria. Notem que este episódio se passa antes de nós termos consumido a pequena porção de álcool encontrada na jarra da bebida.

Divido a responsabilidade do acontecido entre a estranha sola do sapato que usava, parecida com uma tábua rígida sem mobilidade, e a irregularidade na altura dos meios-fios das calçadas catalãs.

Quando fui iniciar a atravessar uma rua, já chegando às famosas Las Ramblas, imaginei uma altura para o primeiro passo, só que esta devia ser o dobro, e o pé demorou muito mais que imaginei para atingir o solo, sendo que o acabei tocando com bico do sapato, que mais uma vez provou ser totalmente rígido. Resultado, tropiquei, balanceei e fui projetado, caindo reto que nem uma vassoura! Mas, ágil, rápido e esperto que sou, me agarrei na bolsa de uma incauta que estava na minha frente e fiquei, totalmente esticado, parelho ao asfalto e pendurado na bolsa. Confesso que demorei um pouquinho a largar a bolsa que a proprietária, sem nenhuma compaixão, puxava com força enquanto me gritava xingamentos em catalão e espanhol. Só me recuperei após a segunda jarra de Sangria. Sim, minhas acompanhantes se divertiram bastante com a situação, até bem mais do que considerei apropriado.

RECEITA

Não há uma receita única para se elaborar uma Sangria. Há um ditado espanhol para responder a quem pergunta qual é a verdadeira receita: “cada maestrillo tiene su librillo” (que numa tradução capenga seria “cada mestre tem a sua receita”), ou seja, a receita depende de quem a prepara, tanto que não é considerada um coquetel e não consta do catálogo da International Bartenders Association (IBA).

Então podemos ficar à vontade para elaborarmos a nossa própria receita, acrescentando outras bebidas alcoólicas, refrigerantes, especiarias ou água com gás. Mas, vamos combinar, que alguns ingredientes são indispensáveis. Na base da Sangria deveremos sempre ter vinho tinto, água para dar uma diluída e frutas da estação, não podendo faltar algumas cítricas e outras vermelhas (já estou falando da minha receita). A especiaria mais utilizada, se desejada, é a canela em pau, mas o anis-estrelado ou o gengibre também são bem interessantes.

Se achar que está fraca de álcool, inverta o objetivo de sangrar (diluir) o vinho e acrescente algumas doses de brandy, rum, gim ou de um destilado de frutas.

O vinho de preferência é um tinto seco com mais corpo. Não precisa ser um vinho caro, mas também não economize muito, todo produto final só é bom se iniciar com ingredientes de qualidade.

Vou tomar a liberdade de sugerir a receita de uma pessoa que admiro muito.

SANGRIA DA RITA LOBO

Ingredientes:

– ½ garrafa de vinho tinto (cerca de 375ml)

– 1 lata de água tônica

– ½ xícara (chá) de caldo de laranja (cerca de 1 laranja-baía)

– 1 maçã fuji

– ½ abacaxi cortado em cubos médios congelados

– 4 colheres (sopa) de açúcar

– ¼ de xícara (chá) de gin (opcional)

– Cubos de gelo (a gosto)

Modo de preparo: Misture tudo com bastante gelo. Deixe a bebida marinando com as frutas por, no mínimo, uma hora.

 

DICAS

  • Para uma dose extra de refrescância: opcionalmente adiciona-se alguma bebida carbonatada, como água tônica, soda, água com gás, etc.
  • O segredo está em pressionar um pouco as frutas picadas para que ela absorva o vinho e, em troca, libere um pouco do seu sabor.
  • Mas esse processo é lento e exige, em média, duas horas de descanso (de preferência na geladeira, sangria se bebe gelada!) – menos que isso, a bebida não ganha sabor; se passar desse tempo, as frutas oxidam, escurecem e perdem o frescor.
  • Gelo – não utilizar direto na sangria, apenas na taça.

Existe a Sangria industrial vendida engarrafada, sendo que pela legislação europeia, desde 2014,  somente as Sangrias fabricadas na Espanha e em Portugal, com no mínimo 12% de álcool, podem ser rotuladas como “Sangria”. As bebidas similares produzidas em outros países da Comunidade devem ser rotuladas como “bebida aromatizada à base de vinho”.

   Na Antiguidade os gregos e romanos já misturavam seu vinho com água do mar, especiarias e tudo que dispunham, assim a Sangria não foi uma novidade nem a única neste tipo de elaboração. Encontramos com receitas bem similares o ponche, que tem sempre sucos de frutas e refrigerantes e o Clericot, elaborado com vinho branco ou espumante.

Ao contrário de muitos especialistas nada tenho contra estas bebidas, drinks e coquetéis elaborados à base de vinho, na verdade me divirto muito na sua elaboração e consumo com os amigos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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