Por Pedro Grigori
A fisioterapeuta e acupunturista Daniélle Cardim, 37 anos, teve uma surpresa nada agradável após comprar uma caixinha de suco de pêssego da Nutri Néctar para que a filha, Manoela Cardim, 4 anos, levasse de lanche, na última semana. No colégio, a criança sentiu que, no fim da bebida, algo impedia a sucção do líquido pelo canudo. A professora balançou a embalagem e também achou estranho. “Recebi uma ligação da escola dizendo que havia algo dentro do suco da minha filha e que ela havia bebido praticamente tudo. Corri para lá e decidimos abrir a caixa. Peguei uma luva cirúrgica e toquei a gosma que havia dentro da embalagem. Senti que parecia uma pele com pelos”, relembra a mãe.
Funcionários do centro de ensino fotografaram e filmaram toda a cena. Desesperada, Daniélle levou a filha para o hospital mais próximo. “Entrei em pânico. O líquido dentro da caixa parecia água de esgoto. Temi pela saúde dela, que nem percebeu o que estava tomando”, relata. Após ser examinada por duas pediatras e um infectologista, a menina voltou para casa, onde passou por 72 horas de observação para identificar possíveis sintomas de leptospirose.
Casos semelhantes aos de Daniélle e Manoela não são raridade. Hoje, com a internet, muita gente faz reclamações parecidas. Pelas redes sociais, casos de baratas em chocolates, de insetos em sanduíches e de pelos de rato em enlatados ganham destaque. Além disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebe relatos diários dos mais diversos tipos de insetos e objetos encontrados nos alimentos. Mesmo recorrentes, as dúvidas sobre o que fazer persistem.
Danos
A fiscalização sanitária de alimentos é realizada por órgãos municipais, estaduais e federais. Segundo a Anvisa, casos como o de Daniélle são verificados pela Vigilância Sanitária local, que encaminhará e tratará adequadamente a denúncia. A advogada de direito do consumidor Lorena Brito conta que, em situações nas quais são confirmados defeitos no produto, o fornecedor tem o dever de reparar o dano. “A saúde e a segurança do consumidor foram colocadas em risco. Dessa forma, uma ação pode ser ajuizada, e a pessoa deve fazer uma reclamação jurídica, podendo receber danos morais e materiais pelo ocorrido”, detalha. Caso a vítima não tenha condições de ter acesso a um advogado particular, deve procurar o Juizado Especial. O valor do ressarcimento pode chegar a até 40 salários mínimos, variando em decorrência da gravidade do caso.
Ao entrar em contato com o Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) do Grupo Mariza, responsável pela produção dos sucos Nutri Néctar, a fisioterapeuta Daniélle disse que a empresa pediu a conta bancária para reembolso. “Eu paguei R$ 1,35 pelo suco. Foi um valor insignificante comparado ao sufoco que passei. Não quero esse dinheiro de volta”, reclama. Segundo a advogada Lorena Brito, essa atitude é normal em casos de substâncias estranhas em alimentos. “As entidades pensam que apenas reparar o valor do produto ou entregar outro semelhante é suficiente, o que não é o caso. Um corpo estranho é motivo para, em processo, ser considerado defeituoso, o que já cabe danos morais”, explica.
Segundo a Diretoria de Vigilância Sanitária do Distrito Federal (Divisa), em situações de produtos defeituosos, a Vigilância Sanitária coleta o lote no estabelecimento da compra. Ele é submetido a testes e, havendo a detecção de irregularidade, a empresa é notificada e autuada. No fim do processo, pode haver aplicação de multa, que varia entre R$ 2 mil e R$ 1,5 milhão. Em uma ação, caso o denunciante não tenha mais o produto, são válidos como provas fotos, vídeos e testemunhas.
Perigo
Em junho, Juliana Sette, 21 anos, pediu pela internet um combo com sanduíche da empresa Sky’s Burger. A entrega demorou 40 minutos. Ao dar a primeira mordida, a jovem se deparou com algo escuro. Ao verificar com mais atenção, identificou um besouro. “Sempre comi lá. É uma situação muito chata, porque, de que adianta o gosto ser bom, se não há o mínimo de higiene? Agora, eu tenho nojo”, descreve. O proprietário, Carlos Perez, entrou em contato com a consumidora, lamentando o ocorrido e buscando mais informações sobre o incidente. “Há uns cinco meses, vinha adquirindo a alface já higienizada de uma agroindústria do DF. Possivelmente, aí ocorreu uma falha, que não foi detectada pelos colaboradores. Depois disso, a Sky’s Burger voltou a fazer a higienização da salada, como sempre ocorreu em sua história”, conta Carlos.
O clínico geral do Hospital Santa Lúcia, Marcos Pontes, conta que diversas doenças e infecções podem ser contraídas ao consumir alimentos contaminados. “Se isso acontecer, é importante ir de imediato ao hospital. É indicado que o paciente fique até 72 horas em observação, nas quais serão analisadas infecções que podem ser causadas pelas toxinas no alimento. Elas podem trazer diversas consequências, como viroses e até lesões renais”, alerta o médico.
Fungos
Em nota, o Grupo Mariza informou que o lote do Nutri Néctar em que a substância estranha foi localizada encontra-se em perfeitas condições, sem qualquer alteração de características organolépticas ou microbiológicas. Segundo a empresa, as análises foram repetidas e, dessa forma, o lote atende às exigências da legislação do órgão competente. A substância encontrada no suco, seria, segundo o Grupo Mariza, uma colônia de fungos, que tem chance de se desenvolver posteriormente, a partir de um único esporo microscópio. Isso poderia acontecer devido à presença de microfuros na embalagem, provenientes, provavelmente, da forma de armazenamento ou de transporte indevidos.
SERVIÇO
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O consumidor, ao notar alguma anormalidade no produto comprado, deve ligar para o telefone 160 e informar o nome do produto, lote e demais informações presentes no rótulo.
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