LANÇA TODO ESSE PERFUME, RITA!

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Na véspera da partida de Rita Lee, vi na internet uma de suas últimas fotos e me entristeci pensando em como a doença havia detonado uma mulher que tinha sido tão bonita na juventude, pele linda, cabelos maravilhosos, de causar inveja a modelos da época.  Só permaneciam intactos os olhos, ainda cheios de força, bondade, curiosidade, vida. E, mesmo já esperando pelo desenlace, foi dureza receber a notícia, porque, quando um ídolo nosso se vai, parece que tomamos um caldo, arrastados pelas ondas que fazem de nós o que querem até nos atirarem de volta à praia, completamente atordoados. E Rita é especial. Nunca haverá outra. Deus a criou e jogou a forma fora.

Ela é única! Uma mulher honesta, corajosa, franca, que teve uma vivência rica, com tudo o que isso pode significar – momentos bons e ruins, alegrias e dores, altos e baixos; que amou e foi amada por sua família, por seu marido e companheiro da vida toda, por seus filhos e netos. Uma artista de muitos talentos, criativa, cuidadosa com o que entregava ao seu público – que cantava, compunha, tocava vários instrumentos, escrevia para adultos e crianças.

A Rita Lee escritora deixou livros surpreendentes e duas tremendas autobiografias. Na primeira, ela nos contou da sua infância até a despedida dos palcos, tudo o que rolou nesse período, em sua vida pessoal e profissional, inclusive casamento, nascimento de filhos e problemas com a ditadura militar, que censurou várias de suas músicas. Na segunda, ela falou do diagnóstico de câncer de pulmão, da dureza do tratamento, do impacto que tudo aquilo teve sobre ela e sua família. Mas falou de forma forte e destemida, como alguém que estava pronta para encarar o que viesse, neste mundo e no outro.

Quando escreveu para crianças, Rita Lee criou personagens como o Dr. Alex, um ratinho que, como ela, era um ativista preocupado com o meio ambiente, com os povos originários, com os animais selvagens e domésticos. E, no livro Dr Alex e Vovó Ritinha, Uma Aventura no Espaço, a espiritualizada Rita, preocupada com a forma como as crianças lidam com a morte, falou sobre esse assunto usando uma metáfora em que as pessoas saem da nossa vida num disco voador, para uma viagem pelo espaço.

Com suas músicas, Rita Lee não apenas nos diverte, ela nos ajuda a exorcizar demônios. Foi ela quem, não se importando em ser considerada transgressora, apresentou-se num show grávida e vestida de noiva, numa época em que as famílias acreditavam que uma moça deveria casar virgem para honrar o branco do vestido. Foi ela quem ensinou à minha geração que uma mulher não só pode gostar como pode pedir para ser deixada de quatro no ato e enchida de amor, numa banheira de espumas, el cuerpo caliente, un dolce farniente, sem culpa nenhuma.

Rita, você cantou que toda mulher quer ser amada, toda mulher quer ser feliz, toda mulher é meio Leila Diniz. Agora eu lhe digo que toda mulher adoraria ser como você, a nossa Rainha do Rock eternizada, um verdadeiro caso sério! Sei que você sofreu muito nos últimos anos, mas não há nada que uma bela viagem de disco voador pelo espaço não cure. Dr. Alex vai ajudá-la nisso.

Como você é neném e só sossega com beijinho, tenho certeza de que receberá todos os de que precisa para descansar e se recuperar logo. E, depois de tomar banho de sol, banho de sol, banho de sol, banho de sol e bailar, como se baila na tribo, com todos os seus afetos que partiram antes de você, quando se sentir novamente cheia de graça, deixe novamente de lado a vida sossegada, a sombra e a água fresca, lembre-se de nós que aqui você deixou com água na boca e volte a fazer um monte de gente feliz, lançando cá pra baixo todo esse seu perfume.

Obrigada por tudo, Rita!

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MARACI SANT'ANA

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