MARIELLE, PRESENTE!

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Após seis longos anos, parece que chegamos aos mandantes do assassinato de Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. Será que são só esses mesmo? Os acusados são os irmãos Domingos Brazão, ex-vereador, ex-deputado estadual e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro; e Chiquinho Brazão, ex-vereador e deputado federal. Junto com eles, foi preso Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do estado, acusado de planejar o atentado e atrapalhar as investigações para garantir impunidade aos envolvidos.

Já estavam presos o PM reformado Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos; o ex-PM Élcio de Queiroz, acusado de dirigir o carro usado no crime; Edilson Barbosa dos Santos, o “Orelha”, dono de um ferro-velho onde o carro teria sido desmanchado; e Maxwell Simões Corrêa, o “Suel”, que teria sumido com a arma. Duas vítimas e, até agora, sete psicopatas. É claro que eles ainda não foram condenados, mas não vejo como poderão escapar. E acredito que ainda haja mais gente envolvida, mesmo que indiretamente, nesse ato bárbaro. Se continuarem investigando, é possível que cheguem a outros “picas-grossas”, ou seja, bandidos com foro privilegiado.

Marielle Franco nasceu e cresceu em uma favela do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro; começou a trabalhar aos onze anos como ambulante, juntando dinheiro para ajudar a pagar seus estudos; formou-se em Ciências Sociais e fez mestrado em Administração Pública; foi assessora do Deputado Estadual Marcelo Freixo por dez anos; elegeu-se vereadora em 2016 pelo PSOL; e lutou muito, de verdade, pelas mulheres, pela população LGBTQIAPN+, pelos negros, pelos favelados. Aliás, antes mesmo de entrar para a política, ela já era ativista de Direitos Humanos. Em outras palavras, não era apenas mais uma, era uma mulher extraordinária.

Ser negra, favelada, lésbica e mãe solo num país de tantos preconceitos, tanta desigualdade, não a impediu de fazer o que acreditava que deveria fazer como cidadã e parlamentar. Ela sabia que estava contrariando gente muito perigosa, assim como gente muito perigosa sabia que teria que matá-la para detê-la. E, em 14 de março de 2018, ela e Anderson Gomes foram assassinados a tiros, num crime que repercutiu em todo o Brasil e no exterior. Em delação premiada, o “gatilho de covarde” Ronnie Lessa confessou que a vereadora foi morta por estar atrapalhando os interesses dos irmãos Brazão ao atuar contra a grilagem de terras em áreas de milícia na Zona Oeste do Rio.

Não creio que o indiciamento dos irmãos Brazão tenha sido surpreendente, mesmo eles dando entrevistas lamentando a morte da vereadora. Eles são bem conhecidos no estado e não por cumprirem com seus deveres parlamentares. Mas a participação de Rivaldo Barbosa deixou quem era próximo de Marielle de queixo caído, porque ele, chefe da Polícia Civil do RJ, procurou familiares e amigos de Marielle para se comprometer, na qualidade de autoridade policial máxima no estado, a não descansar enquanto os culpados não fossem responsabilizados. Curiosa e convenientemente, ele havia sido nomeado para o cargo na véspera do crime, como se uma raposa tivesse sido encarregada de tomar conta de um galinheiro.

A sugestão de Barbosa para o cargo havia sido feita pela Inteligência do Comando Militar do Leste, então chefiado pelo general Braga Netto, aquele mesmo que foi ministro do ex-Presidente Bolsonaro e candidato a Vice-Presidente na reeleição que, graças ao bom Deus, que é Pai, não é padrasto, foi perdida. E a nomeação foi concretizada por outro general, Richard Nunes, que havia sido designado secretário estadual de Segurança Pública durante a intervenção federal no Rio de Janeiro, mesmo o nome do delegado tendo sido contraindicado pela Inteligência da Secretaria, que não gostou nadinha da ficha dele.

Sei que a atitude de Rivaldo foi um choque, mas um psicopata ou sociopata, como alguns preferem chamar, age exatamente assim. Vocês lembram de Guilherme de Pádua comovido consolando Glória Perez e Raul Gazolla quando o corpo de Daniella Perez foi encontrado? E de Suzane von Richthofen chorando no enterro dos pais? De um psicopata, deve-se esperar qualquer perversidade. E eles podem estar onde nunca imaginamos encontrá-los, como na nossa família, no nosso trabalho, nos órgãos de segurança, nos consultórios, em grupos religiosos. Só que, diferentemente do que as pessoas pensam, não existe “cara de psicopata”. Portanto, até profissionais treinados podem virar vítimas.

Entendo que há um espectro de psicopatia. Assim, nem todo sociopata mata ou manda matar. Mas todos são egocêntricos, desprovidos de valores morais, que desprezam as leis, não se apiedam ou sentem remorsos, não se modificam mesmo se punidos, e, o mais importante, por não serem doentes, não podem ser tratados. São pessoas de má índole, perversas, que usam de mentiras e outros artifícios para seduzir, intimidar, roubar, abusar, muitas vezes dos próprios filhos, e que se orgulham da sua capacidade de iludir para se dar bem. Sei que não existe prisão perpétua no Brasil, mas um psicopata deveria ser preso e ter a chave da cela jogada fora. Porque ele sempre representará um risco para a sociedade. Uma vez solto, voltará a fazer o mal.

Todos já sabíamos que Marielle e Anderson haviam sido vítimas de uma quadrilha de psicopatas. Assim como sabemos que esses que estão presos, suspeitos de terem participado do assassinato dos dois, infelizmente não são os únicos. O Brasil está cheio deles, alguns mandando e desmandando, fazendo e acontecendo. A Cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, onde nasci e que, nem sei como, ainda é chamada Cidade Maravilhosa, está infestada. E, o que é pior, independentemente dessas prisões, eles continuarão agindo, a ser eleitos e reeleitos, apoiados por outros sociopatas e por gente ignorante que os considera o máximo.

Mas o que importa é que Marielle Franco não morreu de verdade, porque ela entrou para a história do Brasil e a modificou no dia em que deixou pra trás esse plano e voltou para o mundo espiritual, de onde certamente trabalha para que outros brasileiros corajosos e de bom caráter consigam mudar nossa triste realidade, o que tenho a certeza de que só acontecerá com Educação.

Sei que nosso país já atravessou fases mais difíceis e sei que, muitas vezes, a gente sente uma vontade louca de sair correndo sem olhar pra trás. Mas as futuras gerações precisam de nós como precisamos de nossos antepassados. É assim que a coisa funciona. E tal qual cantado por Gal Costa em Divino Maravilhoso, precisamos estar atentos e fortes. Não temos tempo de temer a morte.

Feliz Páscoa a todos!

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MARACI SANT'ANA

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