Ana Hickmann 3

ANA HICKMANN E OS ANZÓIS NUM RELACIONAMENTO TÓXICO (série – texto 3)

Publicado em Psicologia, Relacionamento abusivo, Relacionamento amoroso, Relacionamentos tóxicos

No começo do ano, a pedido de leitores que queriam saber o que eu pensava sobre a separação de Ana Hickmann, publiquei dois textos usando uma entrevista dada pela modelo ao Domingo Espetacular, para trazer algumas reflexões sobre violência doméstica. E antes que me atirem pedras, reforço o esclarecimento de que não estou nem afirmando nem tentando esclarecer se o narrado pela entrevistada é ou não verdade. Isso é assunto para a Justiça

 

No primeiro – ANA HICKMANN E O IMPACTO DA ANCESTRALIDADE, falei sobre a importância de conhecermos a história dos nossos antepassados, para aprendermos com ela e nos conhecermos melhor. No segundo – ANA HICKMANN, ROBERTO CARLOS E A FOLHA CAÍDA NA CORRENTEZAabordei os riscos que corremos quando nos jogamos de cabeça numa relação com alguém a respeito de quem pouco ou nada sabemos de fato, movidos pela paixão, pela necessidade premente de encontrar o amor da nossa vida.

 

Hoje, vamos conversar sobre o que acontece com uma mulher que, mesmo estarrecida com a transformação do parceiro, leva adiante, muitas vezes por décadas, um relacionamento que só piora apesar de todos os esforços feitos por ela para que tudo volte a ser a maravilha do começo. E, embora eu me refira a mulheres heterossexuais, o que eu aqui disser vale para qualquer gênero e também para relações homoafetivas. 

 

O que faz com que tantas mulheres teimem em se manter em um relacionamento que todo mundo e a torcida do Flamengo sabem que, além de não ter salvação, pode lhes custar a vida? Como falei no primeiro texto da “Série Ana Hickmann”, pode ser que ela ainda não tenha compreendido o peso da ancestralidade e dos círculos viciosos. Ver avós, mãe, tias vivendo e se mantendo com fervor em relações tóxicas, apesar de tudo, pode fazer com que uma garotinha cresça sem ideia ou com uma ideia distorcida do que é uma vida a dois saudável.

 

Ou pode ser que ela acredite que “O que Deus uniu, ninguém separe” ou que “O divórcio desagrada a Deus e, por isso, Ele não criou uma outra mulher nem um outro homem para Adão e Eva”. Isso sem falar nas que veem a relação como o resgate de um carma que precisam suportar com coragem e fé, até que Deus as livre daquela odiosa criatura, para que elas possam finalmente ser felizes. E nem é preciso que se diga que, se não todas, a maioria sonha, de olhos fechados e abertos, com o passamento do encosto. Não tenho nada contra religião nenhuma, mas é nessas horas que penso: De onde as pessoas tiram essas interpretações nada evangélicas? Jesus, me chicoteia!

 

Não creio que ainda existam, como no século passado, mulheres que tenham receio de virem a ser discriminadas por serem divorciadas. Mas sei que há muitas que têm medo de serem vistas como fracassadas por não terem sabido escolher o parceiro ou por não terem sido capazes de manter o casamento, o que acreditam ser responsabilidade das esposas. Isso, sim, coisa do século, aliás, do milênio passado!

 

Também pode ser que elas tenham medo de, com a separação, passarem por privações ou perderem os luxos a que estão acostumadas. E assim, terminam perdendo a vida por feminicídio ou por doenças graves que resultam da infelicidade que carregam e impõem aos seus filhos, o que, na minha singela opinião, é um preço alto demais a se pagar.

 

Há as que acreditam que nunca mais encontrarão alguém que venha a se interessar por elas. Eu já ouvi isso de uma paciente de 14 anos. Uma menina linda, fofa, inteligente, da chamada classe alta, dessas que frequentam as lojas mais caras dos shoppings mais elitistas, que estão sempre super arrumadas, com o cabelo impecável, cheias de jovialidade e estilo, que, de tanto ouvir isso e coisas piores de um aspirante a sociopata de apenas 19 anos, terminou acreditando que ela era um lixo e que, se ele a deixasse, estaria acabada. Jesus, me chicoteia de novo!

 

Todas essas crenças limitantes funcionam como anzóis. É como se a mulher fosse um peixe fisgado, mas mantido dentro d’água, que se agita, mas não consegue se soltar e segue se debatendo até que ela entenda que não pode se safar sozinha, procure e encontre a ajuda de que tanto carece, ou até que ela receba um golpe fatal de quem só esperava amor. Como aconteceu com as quase 1.500 mulheres assassinadas por seus companheiros ou ex-companheiros no Brasil em 2023, uma a cada 6 horas. Isso pra falar apenas das mortes de que a polícia teve conhecimento. Muitas simplesmente desapareceram e delas nunca mais se ouviu falar. Essas nem viraram estatística, foram mortas, mas a coisa ficou como se tivessem simplesmente fugido, abandonado o lar.

 

Mas há dois anzóis super importantes que mantêm muitas mulheres fisgadas num relacionamento abusivo. Um deles é o medo de submeter os filhos a uma vida longe do pai, sem um modelo masculino, e prejudicá-los. O outro é o de não conseguir encontrar uma explicação plausível para aquele príncipe dos sonhos ter se transformado num pesadelo. Porque há coisas que parece que nem Freud explica, que a gente vai morrer sem entender.

 

É sobre esses dois anzóis que vou falar nos próximos textos desta série. Assim, se você viveu, está vivendo ou conhece alguém numa situação assim, mande uma mensagem por WhatsApp para (61) 99188.9002 ou para consultoriosentimentaldamaraci@gmail.com, contando a história. O seu nome não será divulgado, mas seu depoimento poderá ajudar muita gente.

 

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18 thoughts on “ANA HICKMANN E OS ANZÓIS NUM RELACIONAMENTO TÓXICO (série – texto 3)

  1. Acredito que essas histórias de princesas e final feliz e patriarcado não foi bom para nós mulheres.Porque achamos que encontraremos o par perfeito e se ele tiver um ” defeito” de fábrica concertaremos e nessas esses relacionamentos se mostram cruéis e como se segurando arame farpado ficamos ali sangrando literalmente segurando esse amor que nos fere, machuca e mata.

  2. Amanda Christina via WhatsApp: Acho importante alguém ter espaço e coragem de tocar o dedo na ferida além do que a própria artista permitiu e/ou quis fazer, porque quando um caso como o dela vem à tona as pessoas se dão conta do óbvio, de que artistas são pessoas normais, antes e acima de tudo e não têm a vida perfeita só por serem ricos ou pessoas públicas. Na vida privada e debaixo da terra todo mundo é igual.

  3. Fernando via WhatsApp: Bom dia! Muito importante a perspectiva apresentada no texto (mulheres que aceitam sofrer ao longo de uma vida). Acredito que tenha a ver também com a sociedade contemporânea, que tem tradição patriarcal (um suposto domínio dos homens).

  4. Débora via WhatsApp: É mto impactante saber que em pleno século 21 há ttas mulheres nessas situações. Nossa evolução tecnológica não acompanha a evolução das pessoas. Vide as guerras que ainda nos assolam. Pior que conheço uma pessoa nessa situação, o marido bebe para piorar. Ela é inteligente, tem nível superior e ele era pedreiro. Não é esse o problema, e ela o coloca nas nuvens, ele a menospreza e ela não quer saber de se separar. Nem pensar! Morre de medo de ficar sozinha. Triste demais …. Se vc conhece a psicossomática deve saber que problemas nos joelhos indicam questões relacionadas a escolhas de caminhos, más escolhas. Pois ela não consegue andar nem dirigir por conta dos joelhos. E se eu falar alguma coisa ela não ouve de jeito nenhum. Como isso é arraigado!

  5. Matheus Cellano via WhatsApp: Você arrasa né ?! Bom dia minha amiga linda. Abençoado seja o seu dia. Que seja também recheados de alegrias, surpresas agradáveis, amor que transborda e paz que acalenta a alma. Muita gratidão ao Senhor, amém 🙏🏼💓

  6. Alan via WhatsApp: Muito bom viu! Já encaminhei para uma colega que está com esses pensamentos que você cita no texto. Acha que não tem vida após uma separação.

  7. Marcos via WhatsApp: Eu li a 3a parte sobre a Ana Hickman e os anzóis. É o que você falou. As mulheres ficam presas nos relacionamentos e não conseguem se livrar. Sempre que faço pareceres de medidas protetivas, me pergunto o que faz uma mulher ter ficado com um sujeito que a xinga, a agride, moral e fisicamente. Muitas vezes, quando ela vai registrar a ocorrência pela 1a vez, ela já apanhou e foi xingada por muito tempo

  8. Covarde e desonesto tirar conclusões sem ouvir os dois lados da história. Ouça o outro lado e veja a série de ilícitos cometidos pela Ana Hickmann (legais conforme consta em processo) e morais, pois foi comprovado que ela traia o marido com o Edu Guedes (vá no perfil do Ricardo Fetrin e veja vários vídeos e fotos desmascarando a narrativa dela.

    1. Mais uma vez, quero esclarecer que, em primeiro lugar, não sou jornalista, sou psicóloga e o que escrevo não é baseado em achismo, mas em anos de experiência clínica. Em segundo lugar, como está destacado em todos os meus textos da série, não escrevo sobre o que aconteceu com a Ana Hickmann, escrevo sobre violência doméstica a partir da entrevista dada pela modelo ao Domingo Espetacular.

  9. Assim como as mulheres, os homens também nascem do ventre materno. E, em maior parte, os homens ficam mais aos cuidados da mãe do que do pai. As mães reservam o seu melhor para esse ser que está sendo preparado para o mundo, dando-lhe carinho, amor atenção… Porém o homem está perdido e assustado pois após a fase de criação, ao ser entregue à sociedade para constituir família, é visto como um mostro que surgiu do “seio” mais sublime e amoroso que existe, que são as mulheres! Onde a sociedade está errando? Ou serão os pais, que semeiam esse ser que está cada vez mais perdido, que estão errando? No futuro, vai faltar homem de verdade no mercado! Quem viver, verá!

    1. Perfeito seu comentário! Eu me pergunto: se são as mulheres que na maioria das vezes educam e dão formação moral aos homens, o que é preciso fazer para que eles se tornem homens melhores? O que é que está sendo disfuncional na criação e educação dos meninos, para se tornarem péssimos seres humanos? Por que nunca se levanta essa questão e atribui-se sempre essa responsabilidade a entidades genéricas como a “sociedade patriarcal” ou ao “machismo”? Por que nunca se menciona que todos os seres humanos tiveram mulheres em suas vidas, cujos ensinamentos foram primordiais para a formação de seu caráter? Será que a origem do problema não está nos valores morais que os homens recebem desde o berço??? Eu como mãe de dois homens sempre tive como propósito formar dois cavalheiros, dois homens de conduta irreprimível, principalmente no trato com as mulheres. Será que é com esse propósito que as mulheres estão educando os homens??? Pelo que tenho visto, com muita tristeza, os meninos não têm o menor respeito nem pelas próprias mães… e a culpa é da “sociedade patriarcal” e do “machismo”??? Essa situação não vai mudar enquanto as mulheres não mudarem a maneira de lidar com os homens, educando-os, seja vomo mães ou como esposas.

  10. Charles via WhatsApp: Bom dia. Em relação a esse artigo, não seria interessante que ele passasse por uma atualização, já que novos fatos veem à tona demonstrando que os acontecimentos não eram exatamente como se pensava no início?

    1. Bom dia, Charles. O que vem acontecendo na vida da Ana Hickmann e no seu processo de divórcio não tem importância para esta série de textos. Eu usei a entrevista que ela concedeu ao Domingo Espetacular, que foi bastante rica, para falar sobre violência doméstica em geral, para reflexão.

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