A SEMANA DE PÁSCOA, BOLSONARO E LULA

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Há muito venho recebendo pedidos de um texto que fale sobre os sentimentos que tomaram conta do povo brasileiro da eleição de Bolsonaro à nova eleição de Lula. Mas esse assunto me desanima e, confesso, eu o vinha adiando, embora tenha falado alguma coisa a respeito em APAZIGUANDO CORAÇÕES BRASILEIROS. E ontem, algumas pessoas reclamaram por eu não ter escrito neste blog nada sobre a Páscoa. É verdade – não dá para não falar nesses dois assuntos, tão envoltos em sentimentos típicos da miserável situação que a Humanidade ainda vive, embora vá superar graças à bondade Divina. Daí eu pensei: E por que não fazer uma analogia entre os dois temas?

Quando Jesus nasceu, os judeus já comemoravam a Páscoa que, com Moisés, passou a significar a festa da libertação do povo de Israel do cativeiro no Egito. E foi durante a Páscoa que aconteceu a Santa Ceia, quando o Cristo teria falado aos apóstolos sobre amor, fraternidade universal e os acontecimentos devastadores que se aproximavam – a traição, a prisão, a tortura e a crucificação Dele na Sexta-Feira da Paixão. Foi um encontro para reflexão seguido de um período de sofrimento e frustrações só amenizadas no domingo com a ressureição, a vitória de Jesus sobre a morte.

Quando Bolsonaro foi lançado candidato, confesso que nem imaginei que ele viesse a ser eleito. Aliás, não considero que ele tenha vencido as eleições, mas sim que o PT as perdeu por não conseguir administrar a manobra política impetrada pela elite nazifascista sob o pseudônimo Operação Lava-Jato. Assim, qualquer um que chegasse ao segundo turno e tivesse sido esfaqueado teria sido eleito naquele momento em que Lula estava preso e o Partido dos Trabalhadores dividido, desequilibrado. Não o vejo como vencedor, mas como fantoche de gente que, diferentemente dele, é inteligente, intelectualmente bem preparada e muitíssimo esperta, acostumada a controlar o nosso país há séculos.

Nós também tivemos nossa Santa Ceia, nosso momento para reflexão, quando Bolsonaro começou a subir nas pesquisas. Mas olhávamos para aquele imbecil, de quem pouco havíamos ouvido falar, e não nos atentávamos para quem estava por trás dele e para o que poderia acontecer. E o resultado do segundo turno em 2018 nos trouxe susto e quatro anos de muito sofrimento e frustrações na pessoa de um presidente boçal, perverso, machista, misógino, racista, homofóbico, corrupto, envolvido com milícia. E, como se não bastasse, um genocida responsável por atrocidades como as cometidas durante a pandemia e contra os Yanomamis.

E esse horror não está somente na conta dele e dos que o cercavam, está na de todos nós. Porque ele não caiu de outro planeta, é uma lamentável figura daqui mesmo, que nós colocamos na Presidência da República por voto ou omissão. Porque ele sempre deixou bem claro o tipo de pessoa que é. E nem conseguiu disfarçar. Todas as suas falas, gestos, caras e bocas, atitudes, decisões, deixavam claro o ser ignóbil, repugnante, que combina com a horda que o acompanha chamando-o de “mito”, fazendo a alegria de quem quer ver o Brasil pegando fogo, para quem “quanto pior, melhor”.

Antes que me atirem pedras, não estou comparando Lula a Jesus, mas considero a vitória dele em 2022 um Domingo de Páscoa, um bálsamo que amenizou a ferida exposta no Brasil desde o impeachment da Dilma. Mas Lula não é o salvador da pátria. Esse trabalho é nosso. Precisamos nos agarrar a essa oportunidade, trabalhar para construir uma nação que não funcione como se vivêssemos numa montanha-russa que pode descarrilhar a qualquer momento. Porque, onde vemos pretos racistas, mulheres machistas, trabalhadores votando na extrema-direita, homossexuais ajudando a eleger homofóbicos e mais de quinhentas células nazifascistas, tudo pode acontecer.

Também porque a abjeta elite dominante, que é capaz de qualquer coisa para se manter no poder, vai continuar apostando na ignorância daqueles que creem em coisas do tipo: Cabral foi uma benção porque “descobriu” o Brasil; a Igreja Católica fez um belíssimo trabalho salvando as almas dos índios com a catequese; a Princesa Isabel libertou os escravos porque era uma pessoa boa; Deus é um velhinho de barbas brancas que fica sentado numa nuvem decidindo quem vai para o céu e quem vai para o inferno; a Terra é plana; a Xuxa é uma rainha; a vacina contra a COVID contém um chip que vai controlar quem a receber; gatos têm pacto com o demônio; a homossexualidade é antinatural; os negros são inferiores aos brancos porque têm um cérebro menor; a mulher é uma ajudante do homem.

Nós, que estamos numa situação um pouco melhor, que tivemos mais oportunidades, que somos capazes de elaborar um raciocínio minimamente inteligente, precisamos cuidar do nosso país, dos irmãos que continuam sendo tocados como gado sem nem perceber, acreditando que são tratados como especiais porque conseguem chegar perto de um presidente em um cercadinho. Tantos perderam a vida para que pudéssemos eleger nossos representantes, que não temos o direito de cuspir e sapatear sobre seus túmulos. Aliás, os túmulos dos assassinados pela ditadura militar cujas famílias conseguiram receber seus corpos para sepultar. Porque a maioria simplesmente sumiu.

Não há mérito na omissão, na permissividade. Não precisamos matar ninguém, apesar do discurso tantas vezes repetido de que bandido bom é bandido morto. Mas precisamos, sim, por exemplo, punir dentro da lei, mas com rigor, quem ousou e ousar se levantar contra a Democracia que tão recentemente conquistamos. Vamos deixar bem claro a esses golpistas que não somos uma república das bananas como muita gente daqui e de outros países pensa. Para esses, SEM ANISTIA!

Precisamos aprender a filtrar o que nos é dito, a olhar com olhos críticos e a amadurecer o que nos está sendo proposto, por mais sedutores que os discursos sejam. Precisamos aprender a separar o joio do trigo, mesmo que digam que é tudo em defesa da família, de nossos filhos, mesmo que falem diretamente das águas do Rio Jordão, de casas de oração, de igrejas, ajoelhados perante a cruz de Cristo e a imagem de Nossa Senhora, com os olhos lacrimejantes. Mesmo que usem o nome de Deus.

É preciso que estejamos sempre atentos e fortes, acompanhando tudo e agindo dentro da lei, mas prontamente ao menor sinal de perigo, com o coração quente, mas a cabeça fria. Não estamos sendo bons quando não nos posicionamos e não enfrentamos o mal, que é ousado, não tem meias medidas, não tem nada a perder e está sempre pronto para dar o bote. O mal não descansa nunca. Pensemos nisso.

Feliz Páscoa a todas as criaturas!

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MARACI SANT'ANA

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