A Flona, o Parque Nacional de Brasília e o Cuidado Coletivo

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Cosette Castro & João Carlos Machado

Brasília – Depois de um feriado prolongado na Capital Federal, o domingo promete ser agitado para quem gosta de estar na natureza e de desfrutar os parques e a Floresta Nacional de Brasília (Flona).

No domingo, dia 27, às 8h, grupos de caminhadas, ciclistas, de defesa do meio ambiente e pessoas de todas as idades vão se reunir na Flona, localizada em Taguatinga.

A Flonaterapia, como é chamada carinhosamente por muitos de seus visitantes e o Parque Nacional de Brasília (PNB) correm o risco de se tornarem alvos de concessão à iniciativa privada. Mesmo sendo espaços de cuidado e bem estar coletivo, de lazer e qualidade de vida para a população do Distrito Federal.

Para refletir sobre o tema, o convidado desta edição é o professor e ambientalista, João Carlos Machado. Ele, que coordena o Grupo Caminhadas de Brasília (GCB) e o Movimento de Apoio aos Caminhos do Planalto Central conta sobre os riscos que os dois espaços  públicos estão sofrendo.

João Carlos Machado – “Desde 2016, com centenas de voluntários, participo de processos de criação de trilhas ecológicas pelo Distrito Federal. São trilhas onde famílias, grupos de amigos de diferentes idades, jovens e trabalhadores buscam momentos de lazer com mais saúde de uma forma muito especial: o contato com a natureza.

Dentro da Flona há mais de 150 km de trilhas para ciclistas e caminhantes que beneficiam todo o DF. Especialmente aqueles que vivem na região de Ceilândia, Taguatinga, Samambaia, Sol Nascente, Brazlândia. E outras Regiões Administrativas (RAs), onde vivem cerca 1 milhão de pessoas, a maioria formada por famílias de baixa renda.

As trilhas foram criadas e são mantidas há quase 10 anos por ciclistas, caminhantes e ambientalistas. São pessoas comprometidas com a conservação ambiental e a proteção desses territórios que trabalham voluntariamente e com recursos próprios. Essas trilhas foram fundamentais para a proteção da região contra a especulação imobiliária e a grilagem.

É uma alegria enorme ver o resultado da criação das trilhas. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),  entre 2015 e 2024 o número de visitantes da Flona saltou de menos de 5 mil para 100 mil pessoas anualmente. E isso tem um valor inestimável.

No entanto estamos muito preocupados diante da proposta de concessão privada da Flona e do Parque Nacional de Brasília (PNB).

Para defender a manutenção do uso público da Flona e do PNB, mais de 50 entidades, entre elas o grupo Caminhadas de Brasília (GCB), entregou um  Manifesto (leia e assine aqui) ao ICMBio.

No documento as entidades fazem vários alertas. Elas apontam a incerteza quanto à proteção dos reservatórios de Santa Maria e do Descoberto, com riscos à disponibilidade e à qualidade da água, sobretudo em um cenário de mudanças climáticas.

Também criticam a cobrança de ingressos para acesso às trilhas, sendo um grave fator de exclusão social, que afetará o direito de milhares de cidadãos e cidadãs. O acesso às trilhas da Floresta Nacional de Brasília e do Parque Nacional de Brasília são um direito social que não pode ser retirado.

Vale lembrar que o  direito social ao lazer foi estabelecido como cláusula pétrea no Art 6º da Constituição Federal (leia aqui). Ela também consagra no Art 225 sobre o princípio do meio ambiente como bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo (saiba mais aqui).

É importante dizer que a concessão, como está proposta na consulta pública (leia aqui), também pode ser lesiva aos cofres públicos. Ela prevê destinação irrisória, estimada em apenas R$ 500 mil por ano, às atividades de conservação, fiscalização, educação ambiental e outras funções primordiais para o cuidado da Flona, do PNB e da segurança dos visitantes.

O Manifesto pede ao Ministério do Meio Ambiente e ao ICMBio a suspensão da consulta pública com abertura de diálogo que busque alternativas. Levamos em conta a conservação e o direito de toda a coletividade ao contato gratuito com a natureza, o direito à saúde e à qualidade de vida.”

Em abril de 2025 o Ministério Público abriu inquérito para investigar a concessão privada da Flona e do Parque Nacional. (saiba mais aqui).

O Coletivo Filhas da Mãe, parceiro do Grupo Caminhadas de Brasília, também defende a natureza e o uso gratuito da Flona e do PNB como espaços de autocuidado, de cuidado coletivo e qualidade de vida para toda população.

No próximo domingo, dia 27,  estaremos na Flona. Depois, vamos caminhar na trilha Jatobá  (6 km) e fazer lanche compartilhado. Encontro: às 8h, no Quiosque dos Mapas.

Cosette Castro

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