Cosette Castro
Brasília – Hoje acordei mais triste.
De volta a Brasília depois de passar uns dias em Belo Horizonte, cedinho ligaram para avisar da passagem do jornalista Jose Roberto Garcez. Um amigo que nunca mais poderei convidar para partilhar mensagem no Instagram. Ou simplesmente curtir uma caminhada quando ele compartilhava suas descobertas pelas ruas de São Paulo.
Não há mais tempo para falar do glorioso Colorado (Sport Clube Internacional) ou discutir temas do cotidiano. Nem para falar sobre a importância de seguir ocupando às ruas, mesmo quando desanimamos ao observar os rumos conservadores de algumas campanhas políticas.
Conheci Garcez ainda nos tempos em que era correspondente do jornal O Globo em Porto Alegre e ele era referência para nós, uma geração mais jovem. Era o irmão mais velho do Itamar, colega de caminhada no jornalismo no Sul do país. E, entre muitas atividades, foi diretor da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
Desde aqueles tempos, no final do século XX, defender um país mais justo e igualitário era como respirar. Garcez sempre representou o espírito da democracia e uma forma de ser gaúcho. Seguia ligado ao Rio Grande do Sul e respeitando suas raízes, mesmo sem morar mais lá.
Nos reencontramos no século XXI em Brasília e foram bons tempos de convivência junto com a sua companheira, Vania Barbosa. Ele colorado doente e ela gremista da gema. Uma demonstração de amor e convivência admirável regada a boas risadas.
Depois do Golpe contra Dilma Rousseff eles foram morar em São Paulo. Uma perda para Brasília e para o jornalismo de qualidade que ele incentivava na Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Na época da EBC, ele apoiou a campanha nacional que eu coordenava pela obrigatoriedade da disciplina de Comunicação Pública nas universidades.
Acompanhava Garcez através do Instagram e das caminhadas na cidade de São Paulo. Ele gostava de conhecer a cidade a pé, de ônibus, de metrô e de trem. E de caminhar ouvindo música. Seguia fiel a @fmcultura de Porto Alegre e também à boa música proporcionada pela @katiasuman. Gostava de música popular brasileira (MPB) em geral, de Rita Lee, tão representativa da cidade que adotou. E de Elis Regina.
Despedidas não são fáceis, mas necessárias. Ainda mais as radicais, onde é impossível marcar uma cerveja estupidamente gelada para colocar a conversa em dia. Algo que tive oportunidade de fazer com pessoas amigas de quase 40 anos nos últimos dias em Belo Horizonte.
A despedida de hoje é uma homenagem ao Garcez, mas também a todas as pessoas que fazem da solidariedade a sua prática cotidiana. Independente do local onde vivam.
É uma homenagem àqueles que vivem (e sobrevivem) no Estado arrasado pelas enchentes. E àqueles, como José Roberto Garcez, que escolheu São Paulo para viver e morrer sempre com um olhar atento às pessoas fragilizadas. Um jornalista preocupado com o cuidado coletivo, mesmo que ele não usasse esse termo.
PS: Hoje o Programa Participação Popular da TV Câmara tratou sobre Alzheimer. O Coletivo Filhas da Mãe esteve presente nas falas de quem cuida.
Cosette Castro Brasília - A semana passada foi intensa em todos os sentidos. Hoje destacamos…
Cosette Castro Brasília - Às vezes, quando ficamos sem palavras frente a uma situação ou…
Cosette Castro & Vicente Faleiros Brasília - A disputa pelo dinheiro público do orçamento da…
Cosette Castro Brasília - Em tempos de negação constante da morte, o filme O Quarto…
Cosette Castro Brasília - Este foi um fim de semana especial. Começou o novembro negro…
Cosette Castro Brasília - Seis anos, sete meses e 17 dias. A Justiça é lenta,…