Conferência Livre Nacional e a Visibilidade de Quem Cuida Sem Remuneração

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Cosette Castro

Brasília – Este fim de semana nós, do Coletivo Filhas da Mãe, nos sentimos com o dever cumprido.

Apoiamos, ajudamos a construir e aprovar propostas na 1a. Conferência Livre Nacional de Pessoas Cuidadoras de Pessoas Idosas.

O uso do gênero neutro no título da Conferência – pessoa cuidadora – é um reflexo das mudanças. Foi mais um passo para tirar as mulheres cuidadoras da invisibilidade. E trata-las com o  respeito que merecem.

Até pouco tempo, mesmo representando mais de 90% de quem cuida, as mulheres tinham seu trabalho diário apagado pelo uso da língua portuguesa no masculino.

Ou seja, ao usar  a palavra “cuidadores” no masculino estimulamos a falsa impressão de que os homens participam lado a lado no cuidado familiar e doméstico. Não participam. Mudar o nome é o primeiro passo para mudar a realidade. E contribuir para que os homens se deem conta disso e passem a assumir a co-responsabilidade no cuidado.

A Conferência Livre foi a etapa preparatória para a 4a. Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde (CNGTES). A 4a. CNGTES vai ocorrer em dezembro, em Brasília.

O evento foi  organizado pela  Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ). E, para se concretizar, contou com o apoio de 21 instituições e movimentos sociais do país, entre eles o Coletivo Filhas da Mãe.

Foram aprovadas seis propostas, divididas em dois Eixos, que serão levadas para a  4a. CNGTES.

Entre as propostas as propostas aprovadas está: retomar os investimentos na Política Nacional de Educação Permanente em Saúde para qualificar os servidores do SUS e a formação contínua de pessoas que cuidam com e sem remuneração. Os participantes da Conferência online também apoiam a implementação da Política Nacional de Cuidados e o reconhecimento da profissão de pessoa cuidadora.

No que diz respeito às pessoas que cuidam sem remuneração, foram aprovadas, entre outras, as seguintes propostas:

1. O direito ao cuidado como um direito humano: o direito a cuidar, a ser cuidada/o e o direito ao autocuidado
2. O reconhecimento da atividade de cuidado como trabalho
3. A urgência das pessoas que cuidam gratuitamente receberem auxílio financeiro permanente. A maioria das mulheres que cuidam vivem em situação de empobrecimento e endividamento, além da sobrecarga física e emocional diária
4. Flexibilização no horário de trabalho para aquelas mulheres que precisam seguir trabalhando, além de cuidar de um ou mais familiares
5. O direito à aposentadoria das pessoas que cuidam gratuitamente, levando em conta os anos  dedicados ao cuidado familiar e doméstico

Realizada no sábado, 03/08, pela manhã  no formato online, a  Conferência Livre Nacional reuniu 403 participantes de todo o país.

Foram eleitos oito delegadas e delegados e outros oito ficaram como suplentes. Até dezembro serão realizadas reuniões online com a equipe de delegadas e delegados que tem como delegada chefe (nata) a representante da ABRAZ no Conselho Nacional de Saúde, Walquiria Alves Barbosa.

Este é mais um espaço de participação nacional que o Coletivo Filhas da Mãe esteve presente levando as propostas que vem sendo construídas e debatidas há (quase) cinco anos como movimento social. Assim que a edição final das propostas estiverem liberadas, divulgaremos no Blog.

Cosette Castro

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