Cosette Castro
Brasília – Sagradas. Assim são consideradas as pessoas idosas entre os povos indígenas no Brasil. As crianças também.
Bem diferente dos valores da sociedade urbana e rural em que a maioria de nós reside.
Vivemos em uma sociedade que dá mais valor a uma criança bonita. Dá preferência às brancas, loiras, “normais” e, se possível quietinhas.
Uma sociedade onde pais não encontram tempo para escutar seus filhos e filhas. E, para compensar essa falta de tempo, quem tem orçamento entrega celulares para crianças desde a tenra idade.
Quando não estão na escola e em atividades extra escolares, estão nos celulares, laptops e computadores de mesa. De todos os tipos que o orçamento doméstico possa pagar.
Poucas brincam com pé na grama ou na terra.
Raras têm horta na escola, no edifício, na quadra (horta comunitária) ou no apartamento (horta vertical) para incentivar projetos comunitários e a relação com a natureza. Água, só de piscina. Em clubes pagos e fechados.
Raramente crianças que vivem nas cidades têm acesso a rios, cachoeiras ou lagos, um bem gratuito que pertence a toda população. Assim, não aprendem a sentir as águas da natureza como suas.
No Brasil, as crianças de classe média e alta colecionam brinquedos e objetos tecnológicos. Coisas para compensar. Coisas que estimulam o individualismo e a competição.
Desde o ponto de vista dos povos indígenas as crianças não vão pra creche. Nas tribos, a convivência é comunitária desde o nascimento. Todos são parentes. São família.
Não existe o meu, a posse. Existe o nós e o cuidado coletivo em todas as fases da vida.
Essa é a realidade das 305 comunidades indígenas que resistiram ao genocídio daqueles que queriam e ainda querem suas terras.
São valores bem diferentes do individualismo em que vivemos, onde a maioria só é solidária com parentes ou com o grupo ao qual pertence. E, às vezes, com o exótico.
No outro extremo da pirâmide etária estão as pessoas com 60 anos ou mais. No Brasil urbano e rural são percebidas pela ótica do preconceito. E do demérito. Sob esse ponto de vista, estão na reta final…
Desde o ponto de vista da longevidade, as pessoas idosas têm, com qualidade de vida, mais 40 ou 50 anos pela frente.
Desde o ponto de vista das comunidades indígenas que falam 274 línguas no Brasil, nenhuma oficial, as pessoas idosaa são os guardiões da sabedoria, da cura e dos saberes ancestrais.
Entre as comunidades indígenas, aquelas que o Brasil urbano costuma virar as costas, e o Brasil rural em geral quer tomar terras ancestrais, pessoas velhas são sagradas. São professores e professoras.
Não são babás, nem cuidadoras familiares nem muito menos empregadas domésticas. Um lugar invisível onde umas trabalham gratuitamente e outros se sentem no direito de serem eternamente cuidados.
As pessoas idosas indígenas carregam e multiplicam o conhecimento das ervas, frutas e raízes.
São escutadas e reverenciadas como os portadores do saber ancestral. Através da oralidade passam adiante a linguagem, a história e a cosmologia indígena.
No Brasil de 2024, somos 30 milhões de pessoas com 60 anos ou mais.
A maioria é vista como um peso para suas famílias. E, em muitas instituições, também. Inclusive em seleção para empregos. Somente 5% das pessoas 60+ têm carteira assinada no Brasil.
Mais de 70% das pessoas idosas utiliza o Sistema Único de Saúde (SUS). O maior sistema público de saúde do mundo viveu seis anos de sucateamento e, aos poucos, vai se reerguendo, mas também ele não escuta as pessoas mais velhas.
As pessoas idosas, em sua maioria, dividem aposentadorias precarias com suas familias. Em geral filhos, filhas e netos. Jovens e adultos trabalhos precários, informais que seguem precisando de ajuda. Vivem sem carteira assinada e sem perspectiva de aposentadoria.
Temos muito a aprender com as comunidades indígenas.
Os povos indígenas não precisam de creches nem de Instituições de Longa Permanência para Pessoas Idosas (ILPIs). As crianças e pessoas idosas têm papel estrutural e fundante naquelas sociedades.
Eles representam vida cuidadosa, resistência e amor à natureza. Esses três elementos deveriam bastar para que aprendessemos com eles em qualquer fase da vida.
Acampamento Terra Livre (ATL)
Brasília passou a última semana de abril mobilizada com o Acampamento Terra Livre (ATL) que, em 2024, completou 20 anos.
Este ano cerca de 9 mil indígenas estiveram mais uma vez reivindicando seus direitos básicos. Reivindicam o direito à terra de quem já estava aqui antes que os primeiros navios brancos chegassem.
Nossos povos ancestrais são aqueles com quem precisamos urgentemente aprender.
Eles possuem um marco ancestral. Sempre estiveram aqui protegendo a natureza e, consequentemente, a todas e todos nós. Gratidão!
PS: Esse texto foi inspirado nas informações de @weena_tikuna
#demarcaçãojá
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