Cosette Castro & Convidada
Brasília – Esta terça-feira, 09/04, ofereceremos Oficina gratuita de Cuidado e Autocuidado voltada para mulheres que cuidam seus familiares na Capital Federal em parceria com o Instituto Tocar.
A atividade presencial é voltada para mulheres que cuidam sem remuneração pessoas com diferentes níveis de dependência. Aproveitando o projeto, convidamos uma cuidadora familiar para contar sua rotina nestes últimos anos. Mariana T., 57 anos, é professora na UnB. Ela cuida da mãe de 91 anos em estágio moderado a avançado de Alzheimer.
Mariana T. – “É difícil fazer um relato da situação que vivi quanto fomos forçados a fazer isolamento físico que, em muitos aspectos, se tornou um isolamento social das nossas relações extrafamiliares. Isso, talvez, porque eu me esforce em viver no presente e, às vezes, me angustie com as previsões de um futuro próximo e anunciado.
Hoje, eu estou me permitindo reviver as lembranças desses últimos tempos.
No início da pandemia, eu e meu sobrinho nos mudamos para a casa da minha mãe. Estávamos em transição para a contratação de uma cuidadora para a minha mãe e suspendemos. Apesar de estarmos confinados em casa, do medo de sair e ser exposta ao Covid-19, trazê-la para casa, foi uma situação confortável… E feliz!
O trabalho era virtual e meu sobrinho também estava com aulas remotas. Contudo, não havia mais dias e horas de trabalho certos. Todo dia e toda hora podiam ser usados para o trabalho, dentro e fora de casa. Com a ajuda do meu sobrinho, nos revezávamos para cuidar da minha mãe que estava em um estágio inicial de demência.
Há quatro anos ela fazia tarefas rotineiras, cozinhava com assistência, acompanhava os programas na TV e conversava. Mesmo que nunca tenha processado o Covid-19 ou o isolamento a que estava sujeita. Fazíamos tudo juntos e o convívio me fazia sentir realmente feliz.
Cozinhar para a minha mãe sempre foi muito bom, porque ela manifesta surpresa e alegria quando vê o que vamos servir!
Com o final da pandemia, voltamos às atividades presenciais no trabalho e isso foi e é muito difícil. Faço as atividades que precisam ser presenciais e as que podem ser realizadas de forma remota, em casa. Encaixo minhas atividades e horas de trabalho nos horários que se distribuem para o cuidado da minha mãe.
Com o tempo, o Alzheimer avançou. Ela passou a fazer menos atividades e a ficar mais e mais dependente. Mas uma coisa não mudou: ela lê sem parar. Lê tudo que chega em suas mãos.
Levo-a três vezes por semana na fisioterapia, pois fraturou o dedinho e a coluna e não recuperou ainda os movimentos. A levo também em consultas médicas com diferentes especialidades.
Com a demência, aumentaram as infecções urinárias. Às vezes é desesperador imaginar que ela possa estar no início de uma infecção urinária. Tenho que estar sempre atenta a qualquer mudança de comportamento. Isso demanda atenção e cuidado constante com a minha mãe.
Nesse período, minha saúde física piorou. Eu tinha esteatose hepática, agora tenho fibrose no fígado. Inseri a contragosto duas aulas de natação na semana. E deveria, de acordo, com a hepatologista inserir idas à academia nos outros dias. Deveria…
É o que o Coletivo Filhas da Mãe me lembra sempre. Cuidar primeiro de mim para ter condições de cuidar dos entes queridos.
Meu sobrinho agora tem aulas presenciais na faculdade e continuamos nos revezando para eu poder dar aula à noite e para poder sair no fim de semana. Ele é uma benção. Um jovem de 21 anos, sempre disposto a ajudar.
Temos cuidadoras profissionais agora e elas ficam com a minha mãe das 8 às 17h, seis dias da semana. Não sei até quando poderei contratá-las, pois a questão financeira está ficando apertada. Cozinho o almoço para elas e para minha mãe todos os dias.
Temos um relacionamento difícil com um irmão que vive com a minha mãe. Não reconhece nosso esforço em cuidar da nossa mãe.
Não entende o processo do Alzheimer, não entende a minha mãe. Nunca mudou seu estilo de vida. Quando precisamos dele, sempre reclama, dramatiza, diz ser muito difícil. Fico muito desconfortável em pedir ajuda. Não contamos com ele.
Algumas vezes, essas atividades constantes me sufocam, me angustiam e desesperam. E é uma rotina sem fim. Ainda bem que faço terapia com uma psicóloga desde que minha mãe foi diagnosticada com Alzheimer.
Estranho dizer, mas estava muito mais feliz em casa na pandemia do que agora na situação atual. Trabalho muito mais, pois além da atividade presencial ainda tem a alimentação da família e das cuidadoras profissionais. Não paro nunca.
Sempre me questiono se haverá um dia em que não serei capaz de dar conta do cuidado da minha mãe. Apesar da dúvida, neste domingo aceitei o convite do Coletivo Filhas da Mãe e me dei o direito de ir ao Parque Olhos D’Água escutar música com o Coletivo Café com Chorinho”.
PS: Até às 18h desta segunda-feira é possível se inscrever para a Oficina presencial de Cuidado e Autocuidado através do e-mail coletivofilhasdamãe@gmail.com
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