Uma Puxa a Outra

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Cosette Castro

Brasília – A última semana de fevereiro foi marcada pelos preparativos do 8M, sigla como é conhecido o 08 de março, dia internacional da mulher.

No Coletivo Filhas da Mãe estamos com agenda cheia.

Saímos das atividades do Carnaval e seguimos na campanha de esclarecimento sobre prevenção de  demências e sobre envelhecimento saudável e ativo. E também sobre a violência estrutural contra as mulheres.

Temos participado de reuniões online e presenciais, palestras, gravado vídeos e enviado mensagens. Queremos chamar atenção sobre quem cuida de quem cuida.

As mulheres brasileiras estão adoecendo. Estão exaustas. Há  urgência em cuidar da saúde física e emocional das mulheres cuidadoras. Desde cedo elas trabalham gratuitamente para suas famílias de forma invisível. Um trabalho que sequer é reconhecido como trabalho.

Conversamos com estudantes, mulheres adultas,  pessoas idosas e profissionais da saúde interessadas em refletir sobre práticas de cuidado e autocuidado. Sobre como acolhemos e sobre as possibilidades de atuar em rede.

Também ampliamos nossas  postagens nas redes sociais digitais chamando a atenção para a Sociedade da Violência que nós, mulheres de todas as idades, vivemos diariamente.

O Brasil não é um país seguro para as mulheres.

Basta acompanhar os absurdos números da violência doméstica, da violência sexual contra meninas,  jovens, mulheres adultas e também idosas que ocorrem, principalmente, dentro de casa. Essas violências são praticadas, majoritariamente, por homens da própria família, aqueles que deveriam cuidar.

Ou os índices da violência obstétrica, que segue impune e deixa traumas, marcas e dores nos corpos das mulheres. No Brasil, uma em cada quatro mulheres, particularmente negras e pobres, sofrem violência obstétrica. E ela é praticada em hospitais, por profissionais que deveriam acolher e proteger.

É impossível pensar em uma Sociedade do Cuidado se não olharmos para as violências cotidianas que as mulheres sofrem.

Entre elas a violência psicológica, física, moral e patrimonial. O casamento infantil. O assédio e os  abusos de poder no trabalho, as ameaças, a negligência, o abandono. A  violência política de gênero e o feminicídio, entre eles os assassinatos de mulheres trans.

Precisamos urgente de uma Política Nacional de Cuidados onde o Estado se corresponsabilize sobre o cuidado coletivo. Que reconheça o trabalho gratuito realizado pelas mulheres. E que  mobilize a sociedade para reduzir a  sobrecarga física e mental das mulheres.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2022)  mostram que  as mulheres brasileiras  dedicaram 9,6 horas a mais do que homens nos afazeres domésticos ou no cuidado de pessoas por semana. Sem remuneração.

Basta uma rápida comparação com outros países da América Latina para nos darmos conta que os números sobre as horas de  trabalho do cuidado não remunerado estão subvalorizados no Brasil.

Isso ocorre porque há um percentual importante de mulheres que  não se deu conta que cuidado familiar também é trabalho, embora invisível e gratuito. Ainda que algumas mulheres  imaginem que seja  “apenas” uma “obrigação amorosa”, é trabalho e merece ser remunerado.

Da parte do governo federal, esta semana houve uma extensa agenda internacional em Belém do Pará para discutir questões de gênero e cuidado. O encontro internacional incluiu as boas práticas que vêm ocorrendo entre os países vizinhos.

Em Belém, o Brasil passou a participar oficialmente da Aliança Global Pelo Cuidado  uma iniciativa do Instituto Nacional das Mulheres do México (Inmujeres) em parceria com a ONU Mulheres. Este é mais um passo para colocar a tema do cuidado no centro dos projetos e orçamento governamentais.

Nós, do Coletivo Filhas da Mãe,  apoiamos as iniciativas que acolham e respeitem as mulheres. Seguimos  atuando em rede para ajudar a construir uma Sociedade do Cuidado inclusiva para todas as idades com a certeza de que ninguém solta a mão de ninguém.

PS: Convidamos você a assistir nesta sexta-feira a noite o programa Globo Repórter Especial sobre Cuidados: Uma Puxa a Outra. O Coletivo Filhas da Mãe é um dos projetos apresentados no Programa.

PS 2: Assista até o final, na parte dos créditos. Surpresa..

Cosette Castro

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