Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Um dos momentos mais gratificantes no Coletivo Filhas da Mãe são os aprendizados, as novas pessoas e grupos que vamos conhecendo nesta caminhada. Há quatro anos tudo começou com uma pergunta: Quem Cuida de Quem Cuida?
No caminho foram surgindo convites e novos projetos. Novas parcerias em um movimento constante de solidariedade e acolhimento.
Um mundo se abre a cada encontro, às vezes bem desafiante. Novas escutas se tornam possíveis. Novas idéias surgem. E elas ocorrem no mundo presencial e no mundo virtual.
Temos a possibilidade de descobrir, por exemplo, que as nossas dores não são únicas. São similares a de outras experiências, independente da idade de quem cuida. São compartilhadas por outros grupos e famílias.
Mas mesmo as dores similares podem ser mais pesadas para mulheres negras que vivem nas periferias ou para pessoas que precisam cuidar de mais de um familiar ao mesmo tempo e onde o orçamento é mais apertado.
Descobrimos que nossas dores não são únicas ao participar da rede de apoio virtual no grupo de WhatsApp do Coletivo. Lá, cuidadoras familiares compartilham experiências diferenciadas, acolhendo e apoiando umas às outras. E aprendendo juntas.
Escutamos o medo de algumas mulheres em participar dos projetos gratuitos que oferecemos. E mesmo assim, não desistimos. Nesses quatro anos, convidamos as pessoas a “fazer a experiência”.
Nunca bordou ou customizou uma camiseta, ou criou uma tiara de carnaval? Nem elaborou um estandarte?
Esse é um bom motivo para participar das oficinas que nossas parceiras carinhosamente preparam.
São espaços de encontro com outras pessoas, ajudam a desenvolver novas habilidades e estimulam o sonho coletivo de uma vida com menos peso e responsabilidade. Ao menos por algumas horas.
Não sabe sambar? É o momento certo para aprender, para relaxar, para dar risada de si mesma. E para se orgulhar depois dos primeiros passos.
Nunca vestiu uma fantasia? Nem saiu em um bloco de carnaval?
Esse é o momento ideal para fazer a experiência e se dar ao direito à brincadeira, ao riso, a alegria. E se dar ao direito de ocupar a cidade.
Nunca participou das oficinas de leitura e escrita criativa oferecidas durante o ano? É um bom momento para começar. É a possibilidade de dar um primeiro passo para escrever sobre si mesma e, quem sabe, abrir comportas para contar historias escondidas, guardadas há muito tempo.
Nessa jornada de quatro anos, convidamos as mulheres cuidadoras a contarem suas experiências de diferentes maneiras. Em 2020, em plena pandemia, pedimos – e foram enviados – vídeos curtos gravados no celular onde Filhas da Mãe Contavam Histórias. Eles estão disponíveis no nosso canal no YouTube (Filhas da Mãe Coletivo).
Em 2021, 2022 e 2023 as cuidadoras familiares foram convidadas a escreverem suas histórias no Blog. A contar quando se deram conta que eram cuidadoras, os desafios e medos que enfrentam.
Um dos comentários que mais escutamos é: “eu não sei escrever”.
Nós acreditamos que contamos histórias todos os dias. Que todas nós sabemos escrever. Só não sabemos que sabemos. As vezes é melhor contar a história no gravador do celular como se tivesse falando para uma amiga. E só depois passar pro papel. Até tomar corpo e forma. Tom e cor.
É lindo ver quando uma mulher se enche de coragem, respira fundo e escreve sem cair nas garras do monstro do perfeccionismo que vive dentro de nós, aquele que compara tudo que fazemos com o que outras pessoas fazem (ou escrevem).
É gratificante quando vemos a alegria de alguém que produziu algo que nunca tinha feito, como uma tiara ou flores de papel com frases sobre cuidado e autocuidado. Quando cria coragem e sai no Bloco de Carnaval do Coletivo Filhas da Mãe. Ou envia um texto para publicarmos.
Sabemos que estamos no caminho certo quando uma pessoa que não pratica exercícios, que não caminha, decide caminhar em grupo conosco pela primeira vez. Seja na Caminhada da Memória, durante o Setembro Roxo, seja nas caminhadas dos domingos pela manhã nos parques de Brasília.
Ou quando alguém que nunca plantou uma muda de árvore, como aconteceu no ultimo domingo, se vê agachada ajudando a brotar a vida e colaborar para a saúde do planeta. E que sorri mesmo com as mãos sujas de terra.
Cada vez que uma mulher toma coragem e compartilha o cuidado familiar com outra pessoa, que delega responsabilidade e sai de casa para praticar autocuidado e o cuidado coletivo junto a um grupo de pessoas que também cuidam, ela está gerando energia para mobilizar outras mulheres. Mesmo que não se dê conta disso.
Cada vez que uma mulher abre espaço para o autocuidado e para buscar uma vida com mais qualidade e dignidade, ela está representando outras mulheres. Aquelas que ainda não conseguem se defender e se cuidar, que só aprenderam a cuidar dos outros.
Toda vez que vemos uma cara nova ou alguém que volta a participar de uma atividade do Coletivo, que alguém comenta as matérias do Blog ou envia sugestões para pautas e projetos, temos a certeza de que estamos no caminho certo.
PS: No sábado, 16/12, vamos comemorar o aniversário do Coletivo com um almoço compartilhado no Espaço Longeviver (601 Sul, Ed. Providência, 2o. andar). Depois teremos a assembleia de fundação do Coletivo. Edital com local retificado aqui. Esperamos você!
2 thoughts on “Caminhos que se Cruzam e Acolhem”
Parabéns pelas vitórias, histórias, parcerias etc. Amor à causa do cuidado e autocuidado.
Parabéns para Nós!! Que venha 2024!