Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – As alucinações visuais, olfativas e auditivas e os surtos psicóticos costumam ser um grande desafio para quem cuida um familiar com demência, entre elas o Alzheimer.
Eles são comuns na fase intermediária e, às vezes podem se manifestar ainda no estágio inicial. Mas é na fase avançada da doença que as alucinações e os surtos psicóticos podem ser mais freqüentes e intensos.
Pacientes podem pensar que estão sentindo cheiros, escutar ou ver coisas e bichos que não existem. Situações características das alucinações. Também podem acreditar que alguém roubou ou que foi atacado quando isso não aconteceu. Essas são situações características dos surtos psicóticos, um transtorno mais amplo que pode incluir alucinações e delírios.
Não bastasse o inusitado da situação, a falta de conhecimento sobre tais quadros característicos das demências assusta e, muitas vezes, deixam os familiares sem reação.
No caso das alucinações, algumas pessoas tentam trazer o familiar com demência para a realidade, sem êxito. Isso gera sofrimento e estresse tanto para quem cuida como para o familiar enfermo.
Outros acreditam que o surto psicótico é um ataque pessoal contra a pessoa que cuida ou contra outro familiar. Isso costuma ocorrer, por exemplo, no caso de surtos onde o paciente acredita que foi roubado e acusa a cuidadora familiar. É importante recordar que surtos psicóticos são parte do quadro demencial. A pessoa enferma não tem consciência do que está fazendo, mas pode se tornar violenta. Ela precisa de ajuda e tratamento.
Hoje vamos focar na questão das alucinações. Para contar um pouco da sua experiência com o tema, convidamos Ana Heloísa Arnaut que cuidou da mãe por 13 anos. Ela coordena a página no Facebook “Alzheimer – Minha Mãe Tem”, com 150 mil seguidores e seguidoras.
Ana Heloísa Arnaut – ” As alucinações podem ser frequentes em pessoas com demências, entre elas o Alzheimer. Minha mãe teve algumas. Vou contar sobre como agia nessas situações.
Uma vez ela estava na sala lendo como gostava de fazer. De repente escuto um grito. Corri até lá e ela estava olhando assustada para a janela. E me diz: “está pegando fogo na cortina”.
Eu mais do que depressa corri para a cortina e comecei a balançá-la. Aí perguntei para minha mãe: “já apagou tudo? Ela disse já. “Ainda bem que você estava aqui para me salvar”. Levei ela para a cozinha, mudei de assunto e tudo acabou bem.
Outra vez escutei ela conversando no quarto. Fui ver e perguntei: “com quem está conversando?” Minha mãe me disse: “não conheço. Ele entrou aqui no meu quarto. Observei para onde ela estava olhando e olhei também.
Fui até lá e disse para a pessoa imaginária: “Por favor, agora não é mais hora de fazer visitas. O senhor pode me acompanhar?” Olhei para minha mãe e dei uma piscadinha. Saí do quarto e voltei com um suco para ela e não falei mais no assunto.
E assim ocorreram outras vários momentos. Eu sempre “via o que ela falava que estava vendo”. Nunca discordava da minha mãe nem tentava mudar o rumo da conversa.
Cada caso é um caso. Sugiro observar o que pode estar causando a alucinação.
Será que o seu familiar está urinando direito ? Ou evacuando bem? Ou quem sabe é infecção urinária? Outra possibilidade é o efeito colateral de remédios.
Pode haver várias causas para as alucinações. Sugiro que anotem tudo que está acontecendo, assim como as informações sobre a situação específica para levar para o/a médico/a que acompanha seu familiar”.
PS: Outros fatores podem causar alucinações. Por exemplo, verifique se há algo no ambiente que possa causar as alucinações, como sombras e reflexos de espelho. Sugerimos observar os sentimentos que podem causar os sintomas. Se a pessoa se sente perseguida ou tem medo, um abraço pode ajudar SE o familiar aceitar a interação. Evite discussões. Sugerimos distrair com música, exercícios, com fotografias da família ou outros temas, como comentou Ana Heloísa. E lembre que mudanças bruscas na rotina podem causar alterações no familiar com demência.
PS2: Ontem fomos assistir em Brasília a pré-estreia do filme “Tia Virgínia”, com Vera Holtz. O cuidado familiar e a falta dele entre pessoas da mesma família são o ponto central da história. Na segunda-feira vamos comentar a obra. Também teremos como convidado o advogado Ademar Costa Filho escrevendo sobre curatela compartilhada entre cuidadora particular e cuidadora profissional.
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