Sobre o Viver e o Morrer

Publicado em saúde mental

Ana Castro, Cosette Castro & Convidadas

Brasília – No dia do encerramento da campanha do Setembro Roxo, mês mundial de conscientização sobre demências, entre elas o Alzheimer, abrimos espaço no Blog para falar sobre saúde mental entre pessoas idosas.

Nossas convidadas de hoje são Leandra Lofego, servidora pública e participante do Coletivo Filhas da Mãe, e Maria Emília Bottini, psicóloga clínica, com doutorado pela UnB. Elas escrevem a quatro mãos sobre suicídio no Brasil.

Leandra Lofego e Maria Emília Bottini – “Vamos fazer uma pausa e respirar? Que tal participar do grupo de caminhada? Temos uma programação maravilhosa para este final de semana!”

Esses são alguns dos chamados que recebemos no Coletivo Filhas da Mãe.

São chamados para ocupar-se de viver, para dar atenção ao autocuidado entre pessoas ocupadas de cuidar. Ou mesmo, ocupadas do morrer.

Morrer é parte do viver, mas, em geral, não temos consciência disso. Sequer somos educadas para falar sobre isso. No geral esperamos pela morte. Mas, há os que, perdidos em um mar de dor, se ocupam de antecipar a própria morte.

O suicídio, um fenômeno que envolve vários fatores, é um ato deliberado cujo resultado é o fim da vida. O fim da esperança.

Diferente do que muitas pessoas imaginam, o suicídio pode estar presente em qualquer fase do desenvolvimento humano. Mas atinge especialmente pessoas idosas.

Estudo da USP ( 2021) mostra que pessoas idosas apresentam um risco de suicídio 47% maior que o restante da população. Entre este grupo, homens  idosos morrem mais que mulheres.

São cerca de 15 homens para 100 mil pessoas e aproximadamente 3 mulheres para a mesma base. Ao longo dos anos, essa taxa vem aumentando para homens e diminuindo para mulheres. Isso nos chama atenção especial para o homem idoso, para risco que representa e para a fragilidade que tenta esconder.

Longevidade

No Brasil, envelhecer é uma novidade.

A novidade é o crescimento em números absolutos e a possibilidade de viver anos a mais do que gerações anteriores. No entanto, pessoas idosas, além de sofrerem preconceito por idade (etarismo) enfrentam cada vez mais, e por mais tempo, perdas pessoais.

Elas e eles se sentem solitários e abandonados, particularmente quando não têm um projeto de vida e não possuem vida social.

Pessoas idosas também se deparam com o desafio de se sentirem “inúteis” por causa da perda de autonomia e pela presença de doenças crônicas. Ou pelo desenvolvimento de transtornos mentais, muitas vezes não reconhecidos e tratados.

Acrescente-se a isso a pouca chance de aposentadoria e os baixos valores, particularmente no caso do INSS. Pessoas 60 mais enfrentam empobrecimento financeiro e a perda da qualidade de vida.

Neste contexto se instala o desamparo e a depressão, sitiações que aumentam o risco do suicídio no envelhecimento. Eles corroboram com o esvaziamento e perda de sentido da vida, ampliando a consciência da finitude de si. Isso pode ser muito difícil de lidar e pode levar ao desejo de morrer.

Caso uma pessoa idosa apresente tristeza persistente é importante direcionar esforços para ajudá-la. Um primeiro passo é a consulta a especialistas, como psiquiatras e psicólogas, assim como buscar outras ajudas no sistema de saúde.

É importante acolher a dor da pessoa em sofrimento mental. Isso pode ser feito oferecendo espaço para a pessoa idosa expressar sua dor e sofrimento, valorizando suas queixas e ouvindo as histórias que essa pessoa tem para contar.

Temos algumas sugestões para estimular a pessoa idosa. Uma delas é fazer um diário de suas memórias. Outra é realizar caminhadas coletivas, ler textos curtos e jogar com outras pessoas.

Outras sugestões incluem visitar pessoas queridas,  tomar sol, ouvir música e participar de rituais religiosos e/ou espirituais. Tudo isso pode ajudar no processo para devolver cor e energia à pessoa idosa sem esperança.

Viver é desafiador, mas é possível encontrar poesia nas pequenas coisas. Fazer amizade com o inesperado. Contemplar a beleza de estar vivo percebendo que a cada segundo tudo pode mudar.

Depois do inverno, a primavera chega com suas cores e flores. É um bom momento para ocupar-se do viver.

Fechamento do Setembro Roxo

Nesta sexta-feira faremos o encerramento do Setembro Roxo 2023 com um encontro especial às 18h, na quadra 507 da W3 Sul. Será um bom momento para o abraço e para o afeto.

Além disso, haverá Roda de Choro, cinema no Beco com vídeo sobre Cuidado e a instalação de áudio Pequeno Roteiro da Memória. Você poderá acompanhar a finalização da arte na rua sobre Cuidado, Memória e Saúde Mental.

PS: No domingo, dia 1o de outubro, dia internacional da pessoa idosa, é também o dia de eleger uma pessoa para o Conselho Tutelar de sua Região. As crianças brasileiras merecem cuidado e acompanhamento. Veja aqui o local de votação usando o título eleitoral. Este ano o local de votação pode ser diferente.

 

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