Quando o Etarismo Econômico Bate à Porta

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Ana Castro, Cosette Castro & Convidada

Brasília – Para dar continuidade à edição de segunda-feira, 31/07, sobre os etarismos que nos rodeiam, hoje vamos tratar de um tipo específico de preconceito por idade: o etarismo econômico  realizado por  empresas.

Convidamos a fonoaudióloga Felomenia Pinho, de São Paulo para falar sobre o tema. Recentemente ela, que está prestes a completar 59 anos, foi vítima de etarismo econômico por parte de mais de um plano de saúde privado.

Felomena Pinho – “Até a semana passada, eu nunca tinha ouvido falar em etarismo econômico. Só descobri o significado desta expressão depois de contar em um grupo de WhatsApp o que vivi recentemente.

Há dois meses, eu resolvi mudar de operadora de saúde porque o valor de reajuste anual (24%) somado ao da faixa etária (mais 75%) seria incompatível com o meu orçamento. O valor do plano já comprometeria 50% das minhas despesas mensais.

Seria uma portabilidade da empresa Sul América para outra empresa da área de saúde. Fui cliente desta empresa por mais de 20 anos e achei necessário rever as minhas despesas porque vou completar, em breve, 59 anos.

Recebi como resposta da empresa Porto Seguro: DEVOLVIDO!

Foram duas tentativas com esta empresa com corretores diferentes, porque pensei que era algum erro daquele que me atendia há mais de 20 anos. Procurei um outro profissional que parecia mais objetivo. As respostas foram as mesmas.

Se sou boa pagadora, se o plano de saúde tem um valor considerável, mesmo que menor que o  anterior, o que poderia estar acontecendo para ter vetada a aprovação pela Porto Seguro?

Cheguei a duas hipóteses: 1. Poderia ser um caso de preconceito por idade ou 2. Poderia ser por ter doença pré-existente, pois nasci com uma cardiopatia congênita. No entanto,  ela já foi corrigida através de cirurgia há oito anos. Estou saudável.

Comentei com algumas pessoas que atuam no combate ao etarismo. Elas ficaram chocadas, assim como eu.

O que fazer? A população mundial está envelhecendo rapidamente e, em breve, seremos em torno de 1/3 da população do Brasil. Todos seremos descartados?

Seremos muitos e, boa parcela de nós, somos ativos financeira, social e intelectualmente.

Embora saudável, tive de assinar um termo, exigido pelos convênios, referente ao uso dos serviços cirúrgicos e/ou de exames mais complexos (leia-se mais caros). Eu fui proibida de utilizar estes serviços por uns dois anos para ser aceita no plano. Ou seja, eu ia contratar um plano de saúde para me proteger, mas deveria abrir mão da proteção de casos complexos, caso ocorressem, por dois anos.

A situação beirava o absurdo! Ia contratar um plano de saúde para não utilizá-lo porque, na lógica do plano, a relação doença versus idade, pode significar um maior ônus para o plano de saúde. Também enviei uma solicitação para a empresa Amil e a resposta foi: RECUSADA!

Essa situação me causou (e ainda causa) muita tensão. Eu me senti desamparada. É como se o meu envelhecimento fosse um mal quando é apenas parte do processo da vida.

Senti angústia, tristeza, indignação, sensação de inferioridade. Senti medo de envelhecer em uma sociedade que valoriza apenas quem é jovem e saudável.

Pensei que devia escrever para que outras pessoas pudessem refletir sobre este assunto que é de interesse de todos.

Recebi muitas palavras de indignação quanto às atitudes das empresas de “saúde”.

Foram tantos relatos de situações semelhantes que não caberiam aqui. Mas um me chamou a atenção. Uma médica, a Dra Ana, que reside em São Paulo, também tem plano de saúde da Sul América e vai tentar mudar para a Porto Seguro devido aos reajustes, o anual e o por idade. Fiquei pasma! Até os médicos estão passando por isso.

Eu só me dei conta que estava sofrendo preconceito de idade e etarismo econômico há uma semana, depois de ser entrevistada no Jornal O Globo.

Demorei mais de um mês para ter condições emocionais e conseguir escrever sobre o tema. E refleti muito sobre o meu compromisso social antes de publicar este relato nas redes sociais digitais. Mais gente pode estar passando pela mesma situação. Não posso me calar. É um preconceito que envolve a todos que pagam para utilizar convênios médicos.

O que ocorreu comigo não é uma questão individual. É uma questão coletiva. Vem acontecendo com muito mais gente que talvez nem tenha se dado conta que é vítima de preconceito. Isso pode acontecer com você  amanhã”.

Nós, do Coletivo Filhas da Mãe, apoiamos Felomenia Pinho e todas as pessoas  de 50, 60 anos ou mais que vêm sofrendo preconceitos diariamente. Seja no mercado de trabalho que vai fechando portas a partir dos 40, 50 anos. Seja das empresas que desrespeitam seus clientes de mais idade.

Não fique calada!

PS: No domingo, 04/08, o Grupo Caminhantes realizará trilha no Parque das Garças, em Brasília, a partir das 8h30. Quer participar? Envie uma mensagem no Instagram @blocofilhasdamãe.

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