Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Hoje quem escreve o texto é Cosette Castro, em homenagem especial à Ana Castro, uma das criadoras do Coletivo Filhas da Mãe.
Cosette Castro – “É preciso ter coragem para uma pessoa falar publicamente de suas dificuldades. Em geral, elas tentam esconder seus problemas, fragilidades. Ou perdas, como as cognitivas.
Isso não ocorre com Ana Castro, uma das criadoras do Coletivo Filhas da Mãe. Ela tem transformado seus desafios cotidianos em força e inspiração pra outras pessoas.
Ana foi diagnosticada com comprometimento cognitivo leve (CCL) em 2019 depois de observar esquecimentos, dificuldade para dirigir seu carro e apresentar dificuldades para planejamento de projetos.
O primeiro passo foi ouvir diferentes especialistas, buscar diagnóstico. Descobriu o CCL e o próximo passo, foi compreender o que era. O Comprometimento Cognitivo Leve é um conjunto de sintomas relacionados à memória e outras funções cognitivas que podem prejudicar atividades complexas.
Algo que Ana conseguiu fazer com acompanhamento terapêutico semanal e com apoio de uma rede de amigos que se espalha para além do Distrito Federal.
Descobrir as perdas não foi algo fácil. Nunca é. Ela poderia esconder, fazer de conta que não tinha problemas. Ou fechar-se em uma concha. Mas até quando isso seria possível?
Ana, que cuidou da mãe e do padrasto com demência, tem sido uma cuidadora familiar de longa data ajudando irmãos e outros familiares. Inclusive de um dos filhos, diagnosticado com câncer na adolescência.
Ela tem cuidado de outras pessoas durante toda sua vida. Algo ensinado, naturalizado entre as meninas de sua geração. Mas para Ana, é quase um mantra.
No trabalho jornalístico, ajudando colegas. Ao público, tem ofertado vídeos e textos jornalísticos primorosos. Ela também é conhecida pelo apoio à diferentes grupos etários, de crianças à pessoas idosas, saudáveis ou com demências.
O trabalho voluntário vem acontecendo há anos nas diferentes ONGs que ajudou a fundar ou coordenar em São Paulo. Ou no Distrito federal, na atuação na ABRAZ-DF, no Conselho Distrital da Pessoa Idosa – DF e na criação e construção do Coletivo Filhas da Mãe.
Na vida pessoal oferta escuta atenta para suas amigas e amigos. Ou encontra tempo para conversar pessoas que não conhece. “A gente se sente muito sozinha quando se torna cuidadora familiar. Também já me senti assim.”
Apesar das suas dificuldades cotidianas, há poucos meses Ana ajudou a formar uma rede de apoio para uma amiga diagnosticada com câncer que não tem familiares em Brasília. Com direito a camiseta com slogan e a acompanhamento semanal.
Ana Castro vem combatendo suas perdas cognitivas com diferentes estratégias.
Uma delas é não alimentar fantasmas. Não guardou o diagnóstico a sete chaves como um segredo a não ser revelado.
Ao contar sobre o CCL e comentar sobre seus desafios, Ana vai mostrando para outras pessoas que é um ser humano em expansão. Ela não se define apenas pelo diagnóstico.
Em janeiro de 2023 ela anunciou que precisava reduzir sua participação em projetos do Coletivo. Com isso, teve mais espaço na agenda para cuidar de si mesma. Para praticar autocuidado.
Ana anda de bicicleta, virou trilheira, caminhando em grupo por toda Brasília. Faz curso de estimulação cognitiva e curso de atualização digital.
Pensa que ela para por aí?
Às vezes ligo para ela e está saindo da piscina ou dos treinos de musculação. Algo que pode ocorrer em diferentes horários na semana. Ou indo para aula de dança semanal com outras cuidadoras familiares do Coletivo.
Ana pratica semanalmente “netoterapia”, termo criado pelo neurologista Ivan Okamoto, que ela vem utilizando para contar como se sente com a convivência intergeracional com os dois netos. Os netos a incentivam a inventar brincadeiras, a cantar, sair de casa para passear, contar histórias, fazer comidas, ensinar a cozinhar e a conviver com outras crianças.
Ana tira fotos e grava pequenos vídeos dos netos e da família para estimular a memória. E envia para as amigas que, indiretamente, também desfrutam desses momentos amorosos.
Como ela mesmo diz, é preciso não se esquecer de se lembrar.”
PS: Leia aqui a entrevista sobre memória que concedeu ao jornal Correio Braziliense.
PS2: Estamos criando no Coletivo Filhas da Mãe, com a participação da Ana, um grupo de caminhadas. Venha caminhar com a gente.
Ah! Apesar do mesmo sobrenome, não somos parentes.
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