Em Busca de uma Sociedade do Cuidado

Publicado em Cuidado e Autocuidado

Brasília – No Brasil, vivemos em uma sociedade da violência, onde a desigualdade entre homens e mulheres é naturalizada em todos os níveis. Passar a viver uma sociedade do cuidado, não é fácil. Mas é urgente.

No que diz respeito às mulheres, a violência tem seu lado mais conhecido na violência doméstica cujo ápice é o feminicídio.

Mas a violência tem várias facetas. Ela se caracteriza também pela invisibilidade das mulheres que cuidam, ampliando a sobrecarga física e mental diária dessas pessoas. Isso ocorre porque o cuidado não é tratado como uma co-responsabilidade da família. Muito menos do Estado.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2021, as mulheres representavam 76,2 % do trabalho gratuito de cuidado no mundo. Os países economizam 10 trilhões de dólares ao ano ao não remunerar o cuidado feminino, de acordo com o estudo “O Tempo do Cuidado“, da Oxfan (2020).

Levando em consideração a urgência de estimular uma sociedade do cuidado que priorize o direto a cuidar, a ser cuidada e ao autocuidado, assim como a sustentabilidade da vida,  recomeçamos as edições mensais do programa Terceiras Intenções. Em 2023 temos nova apresentadora, Juliana Lira, fonoaudióloga e professora da UnB e, em março, contamos com uma convidada especial.

Guacira Oliveira é socióloga, ex-cuidadora familiar e diretora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA). Trata-se de uma das mais conhecidas ONGs de gênero do Brasil que, nos últimos 10 anos, tem debatido  e desenvolvido projetos em todo país sobre cuidado e autocuidado.

O programa de março foi realizado em versão híbrida. O formato presencial  aconteceu na terça-feira,  dia 21, em parceria com a Colabora (507 da Asa Sul), e também houve transmissão on line (acesse aqui).

Durante uma hora, Guacira Oliveira comentou sobre questões de gênero e sobre políticas públicas de cuidado. Falou sobre a dimensão do  cuidado como afeto, como vínculo indispensável para sustentação da vida. E também sobre o cuidado visto como um direito. Não apenas como responsabilidade que recai,  majoritariamente,  sobre as mulheres.

Ao ser pensado como um direito, o cuidado ganha nova dimensão.  Sai do espaço individualizado ou familiar para ser tratado como política pública. Desta maneira, é reconhecida a responsabilidade e o dever do Estado em relação ao cuidado, desde a perspectiva da economia do cuidado.

Caminhamos para o reconhecimento da responsabilidade do Estado sobre a questão do cuidado, uma omissão que, historicamente, tem gerado desigualdades signficativas, sociais, econômicas, culturais e em termos de saúde para as mulheres. Um dos primeiros passos do governo federal para criar uma Política Nacional de  Cuidados vai ocorrer dia 30 de março com a realização do Seminário Cuidar, Verbo Transitivo, na sede do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). O evento terá formato híbrido.

O Coletivo Filhas da Mãe estará presente para contribuir com propostas. Entre elas, 1. reconhecer como trabalho o cuidado familiar, 2. regulamentar licenças para a pessoa responsável pelo cuidado familiar, 3. reconhecer o tempo de trabalho dedicado ao cuidado familiar como tempo para aposentadoria, 4. incentivar a guarda parental compartilhada da pessoa idosa entre homens e mulheres, 5. criar a função de cuidadoras comunitárias/sociais que vivam nos territórios para realizar semalmente visitas às pessoas idosas, diminuindo a carga das cuidadoras familiares e 6. Reconhecer a profissão de cuidadora profissional, com devido piso salarial.

Outros Cuidados

Na quinta-feira, dia 23, o SESC-DF de Taguatinga Sul inaugurou o projeto SESC+ Ativo. O projeto é voltado para a população com 50 anos ou mais com exercícios físicos e cognitivos para melhorar a saúde das pessoas em processo de envelhecimento.  O SESC+ Ativo inclui circuito de prevenção de quedas, auxílio no tratamento de doenças crônicas, contribui para redução do processo de dinapenia (perda da força muscular relacionada ao envelhecimento), estimula a memória, o autocuidado e a socialização. O projeto  deverá ser ampliado para outras unidades do SESC-DF ainda em 2023.

 

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