Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Diariamente as pessoas que participam do Coletivo Filhas da Mãe contam os desafios que enfrentam com seus familiares com demências, entre elas o Alzheimer.
Diariamente nos dois grupos de WhatsApp, cuidadoras familiares de diferentes lugares do país e também do exterior, acolhem essas dores, contam a sua experiência e comentam como resolveram determinada situação.
A dor emocional está presente nos relatos. E os primeiros sinais de adoecimento psíquico das cuidadoras familiares também.
Diariamente lemos histórias que revelam sofrimento, angústia, horas sem dormir. Insônia. Lemos sobre pensamentos repetitivos. Sobre o desejo de muitas filhas de curar ou salvar seus entes queridos. Algo impossível de acontecer.
Ouvimos relatos sobre a violência de alguns pacientes. Sobre mágoa, sobre tristeza, porque é difícil entender que o ato violento da pessoa doente não é especificamente contra a pessoa cuida. É uma característica das demências e o quadro só pode ser reduzido com a medicação adequada.
Em outros pacientes a violência não aparece, mas a falta de freio social é mais evidente com ações, comentários que causam constrangimento e até indignação na família ou em público.
Recebemos relatos diários sobre medicamentos que não estão funcionando. E sobre como é difícil falar rapidamente com os médicos para obter uma nova orientação.
Lemos sobre a falta de ajuda de outros familiares. E sobre o avassalador sentimento de solidão e medo do futuro que as cuidadoras familiares sentem.
Não é por acaso que no Coletivo Filhas da Mãe a ênfase são as cuidadoras familiares e ex-cuidadoras. Elas vivenciam a invisibilidade do trabalho de cuidado diário, cansativo, não reconhecido e gratuito. E, em geral, se dedicam tanto a cuidar dos outros que deixam de lado a si mesmas, adoecendo física e emocionalmente.
No janeiro branco, mês dedicado à saúde mental, convidamos as cuidadoras a abrirem espaço para o autocuidado. É tempo de cuidar de si, se proteger e fortalecer para ter forças para cuidar de um familiar doente ou dos filhos.
Um dos primeiros passos do autocuidado é cuidar a própria alimentação (e não apenas a da pessoa enferma). Outro é fazer exercícios, ainda que seja uma caminhada de meia hora por dia. Os exercícios ajudam a liberar seratonina, o chamado hormônio da felicidade. Ele contribui para a melhora do humor e para ter uma visão mais positiva da vida.
Um terceiro fator importante para manter a saúde mental das cuidadoras é procurar um especialista, seja uma psicanalista ou uma psicóloga para atendimento contínuo semanal. A médica psiquiatra deverá ser procurada em caso de sofrimento psíquico que necessite medicação.
Também sugerimos estimular a saúde mental praticando um hobby e atividades lúdicas. É importante criar espaços para o riso, para brincadeiras e para o encontro sem que haja responsabilidade constante de fazer algo “sério”.
Nós, do Coletivo Filhas da Mãe, há 03 anos escolhemos o Carnaval como espaço de brincadeira, de diversão e de relaxamento. Mesmo que as cuidadoras não tenham nenhuma experiência anterior em blocos carnavalescos, em marchinhas e em samba no pé. Ou que tenham medo de passar vergonha ou “fazer feio”. Convidamos todas a rir de si mesmas e passar por novas experiências.
Este também é um momento de chamar a atenção das famílias e das autoridades sobre as demências já instaladas, reduzindo o medo e o preconceito da população.
O Carnaval é um ótimo momento de falar sobre os riscos de um envelhecimento sem políticas públicas de cuidado e falar sobre qualidade de vida. Vivemos no país que é um dos três que envelhecem mais rapidamente no mundo e não podemos ficar de braços cruzados.
Nesta sexta-feira, dia 19, começaremos em Brasília uma Oficina de Samba no Pé sob a coordenação da professora de dança Lilian Araujo.
Os encontros de Samba no Pé vão acontecer semanalmente a partir das 15h45 e marcam o começo dos preparativos para o Carnaval 2023. Inscrições aqui.
Marque na agenda! O Bloco Filhas da Mãe sairá às ruas em cortejo de carnaval no primeiro sábado após o carnaval, junto com o Bloco Rivo Trio e demais blocos da saúde mental do Distrito Federal.
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