Sobre a Impermanência

Publicado em Cuidado e Autocuidado

Ana Castro & Cosette Castro

Brasília – Muitas pessoas pensam que podem controlar tudo. A sua vida, a dos filhos e filhas. A família em geral, inclusive a dos parentes enfermos.

Isso ocorre na esfera do desejo. Desejo de controlar os acontecimentos. O presente e o futuro. Mas não temos o poder de controlar o tempo. Nem a vida, nem os acidentes de percurso. Muito menos a morte.

Quantas vezes as pessoas planejam festas, viagens e tudo sai completamente diferente do sonhado e projetado? Ocorre também de uma pessoa estar perto de assumir um novo posto de trabalho e, de repente, tudo muda.

Alguém adoece. Outra morre inesperadamente. O carro quebra. O despertador não toca. Outra pessoa é contratada e os planos para o futuro (ao menos momentaneamente) se esvaem água abaixo.

Frente a algumas situações, muitos ficam vendo a vida passar como se estivessem fora do quadro.

Imagine que você foi a uma estação de trem.
Está lá esperando, de modo bonito. Fez tudo certinho. Arrumou a mala com 2 dias de antecedência. Chegou meia hora antes. Mas o trem quebra no meio do caminho e não chega. Ou simplesmente passa direto. Não para na estação.

As duas situações mostram a impermanência da vida e das coisas. Pessoas e fatores externos podem modificar completamente a nossa agenda do dia, da semana, do mês ou mesmo do ano. Ou de muitos anos, no caso das cuidadoras familiares.

Nesses momentos, é possível (tentar) aprender a conviver com a impermanência. Com a necessidade de mudança de planos. Com os novos fatos que desafiam a vida.

E talvez o mais importante. Há a possibilidade de observar e vivenciar um estado ou situação que expõe a fragilidade e a beleza de estar viva. E seguir vivendo.

É verdade que as pessoas necessitam da rotina e da ordem para não se perder no caos cotidiano. Entretanto, é falso acreditar que é possível ter o domínio (ou controle) de tudo.

Outros exemplos. A mãe de uma participantes do Coletivo teve convulsão de madrugada e precisou ser internada. A festa de aniversário planejada segue adiada.

A mãe de outra amiga caiu em casa no dia do aniversário de 85 anos. O acidente ocorreu enquanto a filha estava comprando a decoração da festa. A comemoração também foi adiada.

Outra participante do Coletivo levou a mãe para fazer um exame de rotina no hospital. A vida deu uma grande reviravolta. Em poucos dias teve de tratar do funeral da mãe.

A impermanência é um conceito chave do budismo que convida a compreender que tudo é transitório. Tende a se modificar ou acabar. Assim como nossos corpos que mudam diariamente, ainda que seja difícil notar as micro mudanças.

Envelhecimento e Outubro Rosa

Neste mês de outubro seguimos refletindo sobre envelhecimento, sobre longevidade e também sobre o câncer de mama no Brasil. Sem esquecer que hoje se comemora o dia mundial da saúde mental.

O dia 10 de outubro lembra que existem cerca de 1 bilhão de pessoas com transtornos mentais no mundo. A depressão é uma das principais causas de adoecimento de adolescentes e pessoas adultas. Essas pessoas precisam urgente de políticas públicas voltadas para a formação profissional, acolhimento e investimento em saúde mental.

No que diz respeito às pessoas idosas, ao mesmo tempo em que aumenta a possibilidade de que elas vivam mais tempo, acompanhamos projetos pessoais de cuidadoras familiares de pessoas dependentes sendo prorrogados. Ou suspensos, temporária ou definitivamente.

Pelo tempo dedicado ao cuidado familiar,  muitas cuidadoras deixam de cuidar de si. Elas esquecem de fazer exames, de ir a consultas médicas e praticar o auto toque, que ajuda a prevenir o câncer de mama, o de maior incidência no Brasil.

Pensando nisso, na sexta-feira, dia 07, realizamos uma ação (foto) de prevenção e solidariedade no Outubro Rosa: pintamos o cabelo ou o corpo com spray rosa em solidariedade às mulheres que passam ou já passaram por esse desafio.

Em tempos de impermanência, a solidariedade e o trabalho em rede nos fortalecem, contribuindo para a saúde mental. E enchem de esperança.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*