Ana Castro, Cosette Castro & Convidada
Brasília – A vaidade, quando não ocorre em excesso, é sinônimo de autoestima e pode ajudar na qualidade de vida das pessoas com demência, independente de gênero.
Hoje trouxemos diferentes histórias para você. Ana Castro relata sobre as idas de sua mãe, Normita, ao salão de beleza. Já Marcia Uchôa, conta sobre os brincos novos da Dona Maria. Há ainda os casos do Seu Geraldo e do Seu Afonso.
Ana Castro – “Sou de poucas vaidades. Nunca fui de usar maquiagem e aos 66 anos, grisalhos assumidos, me pego imaginando meu visual no futuro. Imagino quando forem decidir por mim o comprimento do cabelo. Vão pentear para trás? Ou repartir de lado? De que lado?
Essa angústia me perseguiu ao cuidar da minha mãe. Ela ficou mais vaidosa à medida que envelhecia. Deixar de pintar e manter mais curtos os cabelos da Normita foi uma decisão difícil.
Por anos minha mãe só lavou o cabelo no salão. Demandava muito tempo e logística retocar raízes e luzes com frequência. E fazer escova duas vezes por semana. Eu imaginava o sofrimento dela ao se ver grisalha e sem as ondas que tanto curtia. Mas foi ficando exaustivo manter o visual.
Quem cuida sabe que ficar duas horas em uma atividade, mantendo as mãos longe da cabeça com tinta, lavar e escovar, exige colaboração. Sem contar que era preciso levar lanchinho e providenciar troca de fralda. E os acidentes?
Tivemos que dar banho em minha mãe no salão após um episódio de diarreia. E tentar acalmá-la quando aumentava o barulho dos secadores e conversas. Fazer as sobrancelhas, então? Valia o sofrimento?
Fui pedindo para a cabeleireira que se tornou amiga , Irani, ir cortando o cabelo. Apenas hidratava o cabelo e, aos poucos, abandonamos a tinta. Para facilitar a transição, tirei os espelhos da casa. E quando era necessário usar um elevador , escolhia o de serviço. Tudo para evitar momentos de ansiedade e sofrimento, pois Normita não se reconhecia.
As unhas eram um caso a parte . Como esperar secar? A manicure desenvolveu uma técnica . Punha uma toalhinha no colo dela e pedia que segurasse com as mãos abertas. Normita gostava de colaborar. Mantive a maquiagem nos aniversários com direito a fotos profissionais. Depois ela assistia a exibição delas na TV e se achava linda.
Provocar sorrisos e bons momentos aliviava (um pouquinho) a dor das perdas”.
Márcia Uchôa – “Minha mãe sempre foi vaidosa. Gostava e ainda gosta de vestir roupas bonitas. Passava batom até para ir na comercial. Trocava os brincos e sempre estava com anéis nos dedos.
Hoje tem com 92 anos (93 em julho) com Alzheimer moderado. Há mais de mês pedia para furar a orelha (uma delas estava fechada). Meu irmão tinha certo receio. Após explicar que vaidade é vida, levei-a à farmácia. As atendentes adoraram a velhinha simpática, com respostas rápidas na ponta da língua.
Ao chegar em casa, ela pediu um espelho para se olhar. Olhava de um lado de outro, colocava o cabelo trás das orelhas. Foi assim o dia todo. Semblante de felicidade, de conquista, de poder fazer o que quer. A vida é bela e este é um momento ímpar”.
A vaidade pode ser masculina também, como mostram os breves relatos sobre Seu Geraldo e Seu Afonso.
O Seu Geraldo passou a vestir apenas amarelo nos últimos anos. Foi um desafio para a família encontrar bermudas e calças nessa cor. Mas ele estava sempre de amarelo, inclusive o boné. Já o Seu Afonso gosta é perfume! Mas esconde os vidros e depois esquece onde colocou. Isso obriga a filha a manter um estoque atualizado de perfumes na casa.
É delicado o equilíbrio entre o respeito à individualidade de cada pessoa, a proteção e as formas de facilitar o cuidado.
Encontramos filhas que passam anos dedicadas a manter as preferências da mãe, seja no cabelo tingido, nas unhas vermelhas, no batom ou nas bijuterias. Mas todo esse esforço só tem validade enquanto fizer sentido para a pessoa enferma. Há um momento em que o conforto passa a ser prioridade.
Delicadezas familiares fazem bem a quem é cuidado e também a quem cuida. Na demência, a vaidade pode ser um sinal de que a autoestima ainda está presente e pode ser mantida.
PS: Nesta sexta-feira, 25 de março, é o último dia para se cadastrar na Pesquisa da Codeplan que vai traçar o perfil da pessoa idosa com demência e daquelas ainda em fase de diagnóstico. O estudo também vai conhecer o perfil de cuidadoras e cuidadores familiares e profissionais do DF. Link: http://bit.ly/formscodeplanidosos
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