Novas Formas de Envelhecer e Viver na Cidade

Publicado em políticas públicas

Ana Castro, Cosette Castro & Convidada

Brasília – Começamos o ano pensando em políticas públicas  de cuidado em suas diferentes dimensões. Isso inclui pensar o bem-estar das pessoas idosas em diferentes áreas, entre elas a vida nas cidades e o direito à habitação digna.

Nesta edição convidamos a professora da UnB, Leides  Moura, que pesquisa envelhecimento, e é uma das criadoras da startup Vitrine100Idade,  para escrever sobre a relação entre cidades e habitação e as novas formas de habitar.

Leides Moura – “No Brasil das últimas décadas as famílias sofreram modificação em tamanho e no tipo dos arranjos domiciliares. Hoje temos famílias menores e mais heterogêneas.

Há uma tendência descrita nos estudos que revela que pessoas idosas residentes nas cidades passam a conviver cada vez menos com pessoas  de suas famílias e têm dificuldade de contar com a disponibilidade de cuidadores familiares. Com isso, experimentam situações de isolamento social e  solidão.

Há um déficit de soluções habitacionais variadas para o público idoso tanto nas (poucas) instituições públicas quanto nas privadas. Em sua maioria, as Instituições de Longa Permanência para os Idosos (ILPIs) são estruturadas de maneira convencional, sem o protagonismo/participação das pessoas idosas e com questionável oferta de serviços de qualidade.

O descaso com a questão da moradia não acontece em um vácuo, uma vez que ela se articula com a continuidade de problemas estruturais decorrentes da ação e da omissão do Estado.

O ditado popular “É necessário uma comunidade para o desenvolvimento de uma criança” também pode ser aplicado na defesa dos direitos das pessoas idosas que vivem nas cidades. A operacionalização das condições para se efetuar o direito à moradia, apresentado na Constituição Federal e no Estatuto do Idoso, requer soluções inovadoras pensadas e induzidas pelo Estado em articulação com a sociedade, em especial das pessoas idosas e suas famílias.

A participação das pessoas idosas auxilia a co-criação e design de soluções diversas com abordagem humanizada, inclusiva, potencializando a interação social.

Envelhecer com qualidade de vida passa pelo tipo de arranjo de moradia que é acessível às pessoas idosas que vivem nas cidades. Isso vale para pessoas que vivem de forma independente, autônoma e participativa e também para aquelas em situação de dependência decorrente do declínio funcional.

Não há situações e nem soluções únicas quando se trata de arranjos de moradia para pessoas idosas. Há uma diversidade de arranjos unipessoais (pessoas que moram  sozinhas), multigeracionais e coletivos. Experiências na modalidade de co-residência, por exemplo, começaram na Dinamarca na década de 1960 e se espalharam pela Europa, Estados Unidos, Austrália, Japão,  etc.

Há também outras formas cooperativadas de construção de moradias e vilas comunitárias para pessoas idosas. São residências construídas coletivamente por grupos de pessoas idosas, com ou sem vínculos prévios, e que tem se tornado realidade em vários países.

Em um país como o Brasil, marcado por profundas desigualdades, cresce a quantidade de pessoas que moram sós, provenientes de diferentes posições sociais. Ao mesmo tempo,  aumenta o número de pessoas idosas em situação de moradia precária ou mesmo vivendo em situação de rua.

Construir uma agenda de soluções para a habitação digna de pessoas idosas que vivem nas cidades envolve pensar várias possibilidades.

Há soluções disponíveis como referencia em alguns países (como as citadas acima), que precisam levar em conta as particularidades culturais de cada região ou  a necessidade de soluções locais para o problema da habitação das muitas velhices. Há ainda a crescente pobreza multidimensional, que inclui vários fatores, entre eles os relacionados à moradia,  à saúde, à alimentação e ao transporte da população idosa que também precisam ser levados em conta.

As famílias seguirão como recurso estruturante na solução dos problemas de moradia para pessoas idosas, mas cada vez mais fica evidente que a longevidade requer novas soluções complementares, substitutivas e alternativas para  garantir o direito de envelhecer com dignidade. E para isso é preciso politicas e ações publicas, assim como a  implementação dessas políticas e ações, muitas já existentes na Constituição e no Estatuto da Pessoa Idosa.

Tanto o conceito de moradia como o de habitação traduzem uma expectativa social de proteção, segurança e pertencimento. O direito à moradia digna para pessoas idosas precisa ir além da ideia de responsabilidade familiar. A afetividade, a solidariedade e a responsabilidade não são uma exclusividade das famílias brasileiras”.

Nós, do Coletivo Filhas da Mãe, temos defendido que o cuidado não é uma ação privada e restrita à família. É uma co-responsabilidade do Estado e também da sociedade.  Buscamos ampliar a experiência intergeracional e reduzir o preconceito. Afinal, envelhecemos um pouco todos os dias.

2 thoughts on “Novas Formas de Envelhecer e Viver na Cidade

  1. Chegou até mim um texto de vocês “Coletivo filhas da mãe” na qual vocês falam da presença de políticas públicas para pessoas idosas com déficit de memória e outras doenças. Minha mãe está com Alzheimer e fico perdida nesse assunto. Gostaria me informar melhor, vocês podem me ajudar indicando um órgão para procurar ou o que puderem.

    1. Oi Samantha. Bem-vinda. Sim, nos preocupamos em contribuir com leis e pesquisas que melhorem a qualidade de vida das pessoas idosas enfermas e também melhorar a qualidade de vida das cuidadoras familiares. Ano passado conseguimos aprovar a Lei Distrital 6926/2021 e também conseguimos emenda parlamentar para realizar uma pesquisa no DF para conhecer o perfil das pessoas com demências ou em diagnóstico e também o perfil de cuidadoras familiares e profissionais.

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