Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – No final do mês da pessoa idosa, lembramos a situação das cuidadoras que já passaram dos 60 anos e começam a apresentar esquecimentos e déficit cognitivo.
Isso pode ocorrer durante ou depois de passar anos cuidando pessoas na família.
Depois de anos de estresse constante, de sobrecarga física e mental. De duplas e triplas jornadas para dar conta de atender uma ou mais pessoa doente e demais membros da família, particularmente filhos e filhas.
Este talvez seja o maior fantasma de quem cuidou ou cuida de um familiar.
Depois de todo sofrimento por perder diariamente uma pessoa querida e a frustração por não poder salvá-la, cuidadoras ou ex-cuidadoras correm o risco de “herdar” a doença. Ou seja, também apresentar um quadro de demência.
São noites de medo e solidão. De pesadelos e silêncios. De dúvidas e incertezas.
De tentativas de contar os receios para outras pessoas da família ou para amigas, sem que estas aceitem ou reconheçam as dificuldades crescentes.
Em geral, as pessoas diminuem os receios. E se negam a falar sobre essa possibilidade.
Por amor (e medo), diminuem as dificuldades, como se os esquecimentos fossem normais. “Coisas da idade”.
Mas os sinais não param de se manifestar.
É a panela esquecida no fogo. Não saber como preparar uma comida que fazia há anos. Esquecer nomes ou datas. Ou os dois. Combinar algo com as amigas e esquecer.
Com as medicações, acontecem diferentes situações. Esquecer de comprar ou tomar os medicamentos. Ter dúvida se já tomou. Ou ter várias agendas e anotações para garantir que não vai se esquecer e se perder no meio delas.
Quando isso acontece, é preciso ajuda especializada. Ainda que médicos e especialistas também sejam amigos. É preciso fazer exames e ver as mudanças que estão ocorrendo nos últimos tempos enquanto ainda há tempo.
Quando ocorre, é essencial ter uma rede de apoio para garantir acolhimento. Às vezes a ajuda vem de pessoas que não convivem todos os dias.
Pode ser muito duro para pessoas mais próximas aceitarem que a supermãe, supertia, superavó, superamiga, supercolega ou superprofissional, já não terá condições de ser a mesma de antes.
Buscar a ajuda de psicólogos ou psicanalistas é essencial, caso ainda não tenha começado tratamento.
Também é preciso coragem de lidar com o novo momento. Com a dor, com a frustração e com a raiva.
Raiva que pode virar contra a própria pessoa ou contra os outros na forma de irritação, reatividade, agressividade. Um turbilhão de emoções frente a um desafio que pode ser ainda maior. Ainda mais quando a pessoa compreende o que podem significar os sinais.
Para ter certeza do que realmente está ocorrendo, é preciso ir a um especialista em demências (geriatra, cardiologista ou psiquiatra) ou um médico que acompanhe a família há alguns anos.
Ou buscar serviços gratuitos, como o Centro de Medicina do Idoso do Hospital Universitário de Brasília (HUB).
Lá o bom atendimento público pode se misturar à vergonha de ter alunas e alunos escutando sobre o caso enquanto a pessoa passa pela avaliação clínica e cognitiva, que envolve a linguagem, o raciocínio e a memória. E incluem exercícios cansativos, combinados com o medo de errar. Tudo ao mesmo tempo.
É importante pedir ajuda. E (tentar) mudar os hábitos. Entre eles, alimentação saudável, com mais frutas, legumes e verduras e menos açúcar, gorduras e frituras. Mais sucos e menos refrigerantes.
É indicado fazer exames para garantir um sono melhor. E, se necessário, usar equipamentos que ajudem o oxigênio a circular sem dificuldade no cérebro. Dormir mais cedo e acordar mais cedo. Aproveitar para sair a caminhar ou fazer exercícios, fortalecendo a musculatura.
É importante seguir tentando convencer a família e amigos que algo está ocorrendo, mesmo que se neguem a escutar.
As redes de apoio podem ajudar. Mesmo frente ao pior dos pesadelos, é preciso acreditar que não se está só. A vida segue.
Ps: Para quem nos lê a primeira vez: usamos o termo cuidadoras no feminino porque, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a atividade de cuidado é majoritariamente feminina. As mulheres representam 96% da atividade no Brasil, sendo 82% cuidadoras familiares, que trabalham diariamente de forma invisível e sem remuneração.
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