Eu e o Alzheimer

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Ana Castro &  Cosette Castro + Convidadas

Brasília – Nas sextas-feiras do mês de conscientização sobre o Alzheimer –  a demência que se manifesta com mais frequência entre os pacientes –  seguimos convidando nossas parceiras para contar suas história. Desta vez  abrimos espaço para Ana Heloisa Arnaut, da página do Facebook  Alzheimer – minha mãe tem- ANA’S fazer Relatos da Memória.

Ana Heloísa – “Desde pequena sempre fui muito unida a minha mãe . Ela sempre foi participativa em tudo em minha vida. Ela era mais do que mãe. Era uma amiga, sempre presente.

Tão presente que  se tornou confidente até das minhas amigas. Era uma pessoa  comunicativa e  alegre. Adorava escrever trovas, poesias e recitar. Decorava poesias enormes.

Fazia lindos trabalhos manuais como crochê, tricô e confeitava bolos como ninguém. Ela era uma pessoa muito ativa. Tinha  saúde excelente. Eu  jamais podia imaginar que o Alzheimer entraria em nossas vidas.

Morávamos em Caxambu (MG) e, quando comecei a trabalhar, mudei para Belo Horizonte. Logo que foi possível,  trouxe minha mãe  para morar comigo.

Tínhamos uma vida tranquila. Ela era evangélica da Congregação Cristã no Brasil e pertencia a obra da piedade, que é onde as pessoas fazem visitas e ajudam as pessoas no que é necessário. E andava por toda Belo Horizonte e cidades vizinhas,  sempre de ônibus.

Minha mãe estava muito acostumada a essas viagens. Um dia  ela foi visitar a  irmã que tinha vindo a Belo Horizonte.  E qual não foi a nossa surpresa! Ela se perdeu.

Não conseguiu achar a casa aonde ela ia. Ficou perdida por um bom tempo até que chamaram a polícia e conseguiram achar a casa. Eu fiquei muito assustada e resolvi marcar um médico para ela.

Foram feitos todos os exames e o médico  disse que ela estava com uma demência e que se chamava Alzheimer. Fiquei arrasada a princípio por achar que demência era loucura.

Fui pesquisar e descobri o que era realmente a doença de Alzheimer. Foi aí que pensei: como posso cuidar dela?

Disseram para colocar minha mãe em uma casa de repouso, pois me daria muito trabalho.  Isso jamais passou pela minha cabeça. Ela sempre cuidou de mim e  eu iria cuidar dela.

Resolvi que seria a sua memória. Como éramos muito unidas,  sabia de tudo que ela gostava, dos hábitos e dos seus horários.

A doença evoluiu devagar,  pois logo no início já entrei com as medicações necessárias. Tive uma equipe de home care que me ensinava tudo o que eu teria que fazer.  Como nossa condição financeira não era boa,  então era eu que fazia tudo.

Quando a doença começou a avançar,  tudo foi ficando mais complicado. Mas uma coisa não mudou:  o bom humor. Ela sempre estava sorrindo,  nunca queixou. Eu  ficava preocupada pra saber se estava sentindo dor e ela  dizia que não. Quando não falava mais,  balançava a cabeça.

Passamos pela fase dela não querer mais se alimentar. Essa foi uma das piores fases. Sugeriram usar a sonda nasogástrica e essa foi a decisão mais difícil  que eu tive que tomar.

Na época ela era ainda muito ativa. Andava e  mexia muito com as mãos. Ela não gostava de nada que a incomodasse. A enfermeira chegou a tentar a medir o tamanho dá sonda e ela não deixou. E  tive que tomar a decisão colocar ou não. Para colocar, eu teria que deixar ela contida na cama e isso não tinha coragem de fazer.

Passei a tentar alimentá-la de todas as formas possíveis. Tinha que ser pastosa,  o que não deixa a comida com aparência muito boa. Mas foi assim que consegui, aos poucos, com muita paciência. Às vezes demorava duas horas para dar 200 ml de alimento, mas essa etapa foi vencida.

Houve outras  fases difíceis. Mas com jogo de cintura, consegui passar por elas”.

O relato de Ana Heloísa faz parte dos desafios vividos por milhares de mulheres cuidadoras. Ao compartilhar suas experiências, elas sentem que não estão sozinhas e que fazem parte de uma rede de apoio.

Quebre o silêncio! Conte você também  Relatos da Memória. #setembroroxo

Cosette Castro

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