Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Esta semana a Agência de Vigilância Sanitária dos Estados Unidos, a Food & Drug Administration (FDA), voltou atrás na liberação da venda do novo medicamento para o Alzheimer, o Aducanumab, limitando seu uso a casos leves.
A medicação chegou ao mercado com controvérsia e com preço inacessível para a maioria dos brasileiros brasileiras. Nos Estados Unidos o tratamento custa 56 mil dólares/ano.
Aqui algumas autoridades da saúde saudaram acriticamente o medicamento em entrevistas e lives. Já nos Estados Unidos, três conselheiros do FDA renunciaram em protesto contra a aprovação do remédio. Dos 11 conselheiros da Agência, 08 votaram contra, 02 não tinham certeza e apenas 01 votou a favor.
O primeiro medicamento aprovado nos últimos 20 anos para o Alzheimer, contou com o alarde da mídia. No entanto, não demonstrou eficácia e os testes clínicos chegaram a ser abandonados após causar edema cerebral em 30% dos pacientes. A liberação para uso comercial colocou em xeque a credibilidade do FDA.
Notícias deste tipo causam agitação nas famílias, ansiosas por conseguir a cura para o Alzheimer e outras demências.
É difícil lidar com a morte diária dos pacientes, que ocorre aos poucos, e com a sensação de impotência que atinge diferentes graus. Depende da doença e do estágio de cada paciente, assim como das condições socioeconômicas em um país imerso na pandemia e na falta de expectativas para sair da crise.
A mídia não tem ajudado, embora tenha boas intenções, como é o caso do jornal espanhol El País.
No final de junho o jornal publicou uma matéria que ao invés de esclarecer, criou uma serie de expectativas que, infelizmente, não são reais. Esperanças que se multiplicam como rastilho de pólvora em grupos de Whats App., mas duram pouco.
O texto repetiu o que vem ocorrendo a cada “novidade”. Os telefones dos especialistas e os grupos de apoio não param de falar no tema, anunciando a “boa nova”.
Como conta o presidente da Associação Brasileira do Alzheimer (ABRAz)/DF, Otávio Castello, já no título existem duas informações equivocadas. O geriatra informa que existe tratamento para a doença, o que ainda não existe é a cura. E tratamento vai muito além da medicação. Inclui os estímulos e o contexto de atenção e afeto em que vive o paciente.
Otávio Castello lembra que a incidência da doença não vem caindo 16% a cada década. Ao contrário, dobrou nos últimos 20 anos e deve triplicar nos próximos 30 anos. Os fatores de risco também estão aumentando.
Entre esses fatores de risco está a idade. Aos 60 anos, 02% das pessoas tem demência e essa prevalência dobra a cada 07 anos. Aos 83 anos, 30% dos idosos têm demência. Outro fator de risco é a genética, que corresponde a 7% dos casos.
Entre os fatores de risco tratáveis estão o controle da pressão, do colesterol, da diabete, o controle do peso, o fim do tabagismo e a prática contínua de exercícios físicos. Se esses hábitos forem estimulados na população, os fatores de risco diminuem, seja de problemas no coração ou de demências.
São necessárias políticas públicas para modificar os hábitos de uma geração que terá impacto nos próximos 20, 30 anos. É preciso educação para práticas alimentares saudáveis e ter renda para garantir 03 refeições diárias para toda família.
Entretanto, o Estado brasileiro não investe na saúde da população. Ao contrário, cortou orçamento da saúde e da educação por 20 anos no governo Temer e o SUS, maior sistema de saúde público do mundo, tenta fazer milagres em meio a pandemia. Sequer os casos de pressão alta são tratados. De cada paciente com pressão alta, apenas 1 está tratando e apenas 1 foi diagnosticado.
Até o começo de 2016 havia o programa de ginástica na praça ao ar livre, gratuito, para toda população, inclusive para idosos. Atualmente no DF não há manutenção dos aparelhos e o medo da pandemia afastou muitas pessoas da academia ao ar livre.
Não é por acaso que o Coletivo Filhas da Mãe possui uma linha de ação voltada para políticas públicas de cuidado e autocuidado, assim como de políticas públicas voltadas para a prevenção, diagnóstico e tratamento de pessoas com demências e Alzheimer, seus familiares e cuidadoras. Como o Projeto de Lei 1265/2020, recentemente aprovado em segundo turno na Câmara Legislativa do DF e que aguarda ser sancionado pelo governador Ibaneis Rocha. #sancionaalei1265Ibaneis.
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