Ana Castro, Cosette Castro & Convidad@s
Brasília – Mais uma vez o Blog do Coletivo Filhas da Mãe abre espaço para convidadas e convidados. Em julho, o convidado é o professor Otávio Nóbrega, da diretoria científica da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – DF. Como conta nosso convidado, muitas pessoas idosas têm insônia, e é muito mais comum do que imaginamos.
Otávio Nóbrega – A insônia é bastante comum em idosos e pode durar dias, meses e até anos.
Pessoas com essa condição têm dificuldade para adormecer e permanecer dormindo, uma vez que pode estar acordando muitas vezes durante a noite. Ou acordando cedo sem conseguir voltar a dormir. Acorda cansada e sente-se muito sono durante o dia.
Frequentemente, não conseguir dormir torna-se um pesadelo mesmo durante o dia, quando a pessoa se preocupa (e sofre) em não conseguir dormir antes mesmo de ir para a cama. Isso pode dificultar o adormecimento e um sono reparador.
Muitas pessoas 60+ que têm problemas para dormir recorrem a medicamentos vendidos sem prescrição médica. Podem também usar medicamentos prescritos para ajudá-las a dormir, sob o risco de desenvolver dependência.
Uma medicação pode ajudar quando usada por um curto período de tempo, mas, em regra, medicamentos não são uma cura para a insônia.
A apneia do sono é uma causa frequente de insônia em idosos. Pessoas com apneia fazem pequenas pausas na respiração enquanto dormem e essas pausas podem acontecer várias vezes durante a noite.
Se não for tratada, a apneia do sono pode levar a outros problemas, como hipertensão, derrame e/ou prejuízo para a memória. Sentir-se sonolento durante o dia e ouvir que você está roncando alto à noite podem ser sinais de apneia do sono.
Se você acha que pode ter apneia do sono, consulte um médico, pois orientações adequadas sobre melhores posições corporais que mantém as vias respiratórias abertas, podem ajudar. O tratamento com um dispositivo de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) quase sempre ajuda as pessoas com apneia do sono.
Outra importante causa de insônia comum entre idosos é a síndrome das pernas inquietas (SPI). Trata-se de um distúrbio do movimento periódico e involuntário dos membros e pode comprometer a tranquilidade do sono.
Pessoas com SPI têm a sensação de formigamento, rastejamento ou alfinetadas ou simplesmente uma necessidade incontrolável de movimentar uma ou ambas as pernas. Essas sensações são piores à noite.
Alguns medicamentos, banhos quentes, exercícios físicos e práticas de relaxamento podem ajudar. De novo, prevalece a recomendação de consultar um médico para obter mais informações sobre tratamentos.
Já as demências, e em especial a doença de Alzheimer, costumam mudar os hábitos de sono da pessoa enferma. Algumas pessoas dormem demais. Outras não dormem o suficiente. Uns acordam muitas vezes durante a noite. Outros perambulam ou gritam à noite.
A pessoa com Alzheimer não é a única que perde o sono. As cuidadoras podem passar noites em claro, ficando ainda mais cansadas pelos desafios que enfrentam.
Se você cuida de alguém com demência, siga algumas etapas para ajudar todos a dormir melhor à noite. Não deixe objetos soltos espalhados pelo chão, incluindo tapetes e revestimentos. Dificulte o acesso do paciente a medicamentos. Prenda barras de apoio no banheiro.
Tranque portas e janelas ou instale um cercado em torno de áreas e ambientes potencialmente perigosos para a pessoa acessar, inclusive escadas. Tente criar um lugar seguro e tranquilo para dormir.
Mantenha um telefone próximo, com números de emergência de discagem rápida, mas sempre no modo silencioso à noite. Tenha uma lâmpada ao alcance que seja fácil de acender. Coloque um copo d’água ao lado da cama para o caso de acordar com sede.
Independente se você é uma pessoa idosa com bom estado de saúde física e mental, cuidadora familiar ou se é paciente, fique atenta.
Caso se sinta cansada , com muita sonolência diurna e incapaz de fazer suas atividades regulares por mais de 2 ou 3 semanas, converse com um médico sobre o que pode ser feito para ter uma boa noite de sono. Você pode ter ocorrência de um transtorno de sono e um profissional pode lhe ajudar.
PS: Escrevemos cuidadoras no feminino (inclusive no texto d@s convidad@s) porque 96% da atividade de cuidado é desempenhada por mulheres, em geral de forma invisível e sem remuneração.