Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Não é um tema fácil. Nenhum assunto relativo às demências é.
No Brasil, 82% das atividades do cuidado ficam a cargo das mulheres. Na maioria, cuidadoras familiares ou informais, por conta das amigas ou vizinhas. Outros 17%, são exercidos por cuidadoras pagas, profissionais, na casa da própria pessoa enferma. Ou de alguém da família. Apenas 1% dos brasileiros de mais de 60 anos que precisam de cuidados são institucionalizados.
O primeiro motivo: faltam instituições de longa permanência de idosos (ILPIs) públicas para atender a crescente demanda da população que envelhece de forma acelerada. No DF, há sempre longa fila de espera até para casos encaminhados pela Justiça.
Segundo motivo: há falta de oferta de instituições privadas. As poucas que existem na capital do país, nem sempre atendem às necessidades dos idosos, nem às expectativas das famílias.
Em geral, o preço é incompatível com o orçamento, apesar do alto padrão de vida do Distrito Federal. E aqui, manter um familiar em um residencial custa mais caro do que na maioria das capitais. Uma vaga não sai por menos de R$ 5 mil mensais em quartos compartilhados, sem luxos. E pode ultrapassar os R$ 10 mil. Nos dois casos, o valor não inclui medicamentos, fraldas e produtos de higiene. Ou a alimentação por sonda, de alto custo.
O terceiro motivo é mais complexo. Temos no Brasil uma cultura de não institucionalização de idosos. Como se os residenciais (nome dado aos antigos asilos) fossem similares aos manicômios. Não são. As leis proíbem que sejam.
Há um mito de que as ILPIs seriam instituições psiquiátricas onde as equipes maltratam as enfermas. No feminino, porque a maioria das hospedes é de mulheres. Mas existem normas de funcionamento e fiscalização que as instituições registradas nos Conselhos do Idoso são obrigadas a seguir.
Muitas ILPIs se assemelham mais a hotéis (de diferentes estrelas) que oferecem serviços de saúde, alguns exercícios e entretenimento. Deveria ser o contrário. Casas de saúde, de convivência, prevenção e tratamento de doenças, com bom serviço hoteleiro.
Tomada a difícil decisão de levar a mãe, o pai ou outro parente para uma instituição, vem o desafio de escolher uma que leve em conta localização, orçamento e afinidade. É uma situação dolorosa. Gera culpa, medo e dúvidas.
Ao marcar uma visita para conhecer cada local, sugerimos não ir só. Uma amiga ou alguém da família sensível a essa questão pode ajudar a observar detalhes que podem passar despercebidos pelo envolvimento emocional.
Antes de marcar uma visita, vale conhecer virtualmente a instituição por fotos ou vídeos. Outra ideia é procurar informações nos grupos de apoio e conversar com outras pessoas que colocaram o familiar em uma ILPI. Ajuda também fazer buscas no Google, checar se há denúncias envolvendo a instituição, se apresenta problemas financeiros. E se há alta rotatividade de funcionários. Em tempos de pandemia, tudo é mais complicado, pois a rotatividade é uma realidade e as visitas são restritas.
Algumas sugestões: observar o local, se há área verde para a pessoa enferma passear. Analisar a relação entre o número de idosos e de funcionários em cada turno, principalmente nos fins-de-semana. Verificar se há médica ou enfermeira disponíveis durante a semana e no fim-de-semana. Se oferecem serviço de ambulância para emergências e qual o plano de proteção para funcionários e pacientes durante a pandemia. Outra dica é fazer visitas em horários diferenciados.
Antes de assinar o contrato, vale descobrir quais serviços estão incluídos. E se informar sobre cardápios e horários das refeições. Assim como as rotinas de banho. Algumas ILPIs, particularmente aquelas com maior número de moradores, chegam a tirar os idosos da cama até antes de 6 horas da manhã para a higiene. Isso modifica totalmente a rotina da pessoa doente.
Há outra questão bem mais difícil de lidar. Colocar o familiar em uma instituição ainda é visto e sentido como abandono. Este sentimento muitas vezes é reforçado por parentes que sequer se envolvem no cuidado diário.
O cuidado familiar em geral é visto como dever. Nas demência, não se leva em conta apenas o afeto. É amor por obrigação. Não uma escolha.
Mas nem sempre a família ou a pessoa responsável tem condições de cuidar ou seguir cuidando na medida que a enfermidade avança. As demências adoecem também as famílias de diferentes maneiras, física e mentalmente. E para as cuidadoras familiares a sobrecarga física e mental é muito maior.
Nenhuma instituição vai ser igual à nossa casa. Ninguém será tão amorosa como nós. Mas existem empresas comprometidas com o respeito aos idosos e profissionais atentas. Capazes de ajudar a manter a saúde física e mental da cuidadora familiar. Por isso, seguimos pressionando pela criação de centros dia e ILPIs públicas em todo o país. Acreditamos que o direito ao cuidado é um direito humano.
Cosette Castro & José Leme Galvão Jr. Brasília – Na próxima segunda-feira, 25/11, completará um…
Cosette Castro Brasília - A semana passada foi intensa em todos os sentidos. Hoje destacamos…
Cosette Castro Brasília - Às vezes, quando ficamos sem palavras frente a uma situação ou…
Cosette Castro & Vicente Faleiros Brasília - A disputa pelo dinheiro público do orçamento da…
Cosette Castro Brasília - Em tempos de negação constante da morte, o filme O Quarto…
Cosette Castro Brasília - Este foi um fim de semana especial. Começou o novembro negro…