Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Câmeras de segurança e babás eletrônicas fazem parte da vida moderna e podem facilitar a vida das cuidadoras. Também podem ajudar na melhora do atendimento prestado a pessoas com demência.
Elas permitem acompanhar o trabalho de cuidadoras profissionais, de empresas que terceirizam o cuidado ou mesmo as rotinas de quem ainda não precisa de atenção 24 horas por dia e pode ficar alguns períodos só ou com outros familiares.
Decidir monitorar o trabalho de terceiros e a rotina dos pacientes não é uma decisão fácil. Envolve a culpa por invadir a privacidade de outras pessoas. E também a sensação de poder decorrente da fiscalização das ações alheias, mesmo de longe.
Esses sentimentos contraditórios podem ocorrer mesmo que o ato de vigiar seja feito em nome do cuidado com o familiar com demência que já não pode se auto-proteger. Mesmo que ocorra por limitações da vida profissional, familiar ou por morar longe.
E nem sempre há consenso entre a família. Por pudor, por negação da doença ou por outros motivos que estão mais ligados a interesses pessoais do que ao cuidado amoroso.
Vale lembrar o pioneirismo de Yara Portugal, cuidadora do marido com Alzheimer em Porto Alegre. Além de criar a regional da ABRAz no Rio Grande do Sul, foi uma das primeiras pessoas a escrever sob a ótica das cuidadoras. Em 2007, ela publicou o livro “Doença do Alzheimer e seu Cuidador”, que ajudou muitas cuidadoras familiares.
Uma das dicas da Dona Yara foi exatamente a adoção da babá eletrônica que, na época, sequer tinha imagem. Por intuição, ao notar a expressão de medo do marido, decidiu recorrer à tecnologia usada por pais preocupados em ouvir o choro do bebê. Foi assim que descobriu a rotina de ameaças a que o marido era submetido.
A violência contra pessoas idosas infelizmente é comum até hoje. É uma triste realidade nacional ao lado da violência contra as crianças e adolescentes e a violência contra as mulheres. Particularmente em tempos de isolamento social, quando as vítimas são obrigadas a conviver com os agressores.
Levantamento do Disque 100, número destinado a denunciar a violência contra pessoas idosas, revelou que, com a chegada da pandemia, o número de casos cresceu de 3 mil em março para 17 mil em junho de 2020. Quintuplicaram! E esses números mostram apenas os casos que foram denunciados oficialmente. Ou seja, esse número pode ser muito maior.
Com relação a instalar câmaras de segurança, não importa muito o modelo. Desde que caiba no orçamento e estejam claros os motivos da decisão de monitorar a pessoa enferma. Um sistema de câmeras em toda a casa, com som, visão noturna e gravação permite acompanhar pelo celular a rotina das pessoas idosas, inclusive de outras cidades e estados, já que o sistema é online.
Filhos que moram em outros estados ou países podem ter acesso a todas ou a algumas câmeras. Mas vale lembrar: a família, a equipe de cuidadoras profissionais ou a empresa contratada e que terceiriza o serviço de cuidado precisam estar cientes, pois é ilegal o uso de câmeras escondidas.
Em termos de cuidado familiar, é um divisor de águas. A monitoração permite acompanhar as conversas, reduzindo brigas e fofocas entre as cuidadoras profissionais de diferentes turnos, por exemplo.
Também é possível checar se a rotina estabelecida para os pacientes está sendo cumprida, acompanhar a frequência das trocas de fraldas geriátricas ou checar o uso de luvas e as medicações. E no caso de empresas que terceirizam o serviço de cuidado, conferir se houve mudança na equipe, sem aviso prévio à família.
A gravação de imagens pode auxiliar os profissionais da saúde a avaliar casos de doenças em pacientes com demência, como infecções, convulsões, marcha lateral ou dificuldades na alimentação. Isso ajuda ainda mais em tempos de pandemia e isolamento social.
É importante levar em consideração a privacidade dos enfermos. Ao instalar câmeras no banheiro para pacientes com certa independência, por exemplo, sugerimos buscar um ângulo nas câmeras que mostre o rosto da pessoa ou o chão. Assim evitamos estar no banheiro junto em um momento íntimo, como fazer xixi ou cocô.
Atualmente, as babás eletrônicas, pensadas para crianças, apresentam diferentes modelos e são de fácil uso. Muitas têm alertas para mudança no padrão de som, movimentos bruscos do corpo ou urina no colchão.
Se olharmos desde o ponto de vista do mercado, há espaço para criar equipamentos mais adequados às necessidades dos idosos. É um mercado a ser explorado diante do acelerado envelhecimento no país e do aumento das demências, onde a cada 03 segundos um novo caso é diagnosticado no mundo.
Apesar de toda tecnologia disponível, é preciso que esse acompanhamento seja feito estabelecendo limites, com respeito à privacidade. E aceitando que não é possível controlar tudo. Até porque quando controlamos tanto a vida dos outros (familiares queridos ou outras pessoas na vida pública), em geral sobra pouco tempo para olhar para nossa própria vida.
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