Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Março não foi um mês fácil. Fechamos o mês com o triste recorde de 321.188 mortos por Covid-19 no país, sendo 3.950 apenas na quarta-feira, 30. Foram 66 mil mortes em 30 dias. No Distrito Federal a situação não foi diferente.
Em um Brasil sem vacinas para toda população e com tanta desinformação circulando, a pandemia tende a se arrastar pelos próximos um ou dois anos.
Ficamos apreensivas quando a primeira cepa do Covid-19 começou a atacar as pessoas acima dos 60 anos, em março de 2020. Ela colocou em risco a já frágil vida de nossos familiares, principalmente aqueles com demências. E por um bom tempo pensamos que só atacaria os mais velhos e fragilizados.
Na segunda etapa do vírus e suas variantes, o perigo aumentou. Não apenas pelos discursos contra as vacinas ou pelo incentivo ao comércio aberto. As variantes do Covid-19 não distinguem idade. Estão atingindo bebês e crianças. Foram pelo menos 15 bebês mortos em Alagoas, outros 16 em Santa Catarina e há casos de crianças entre 03 e 04 anos no DF, entre os divulgados.
Sem contar adolescentes, jovens e adultos na idade de trabalho. Uma população que ainda vai demorar pra ser vacinada, assim como as cuidadoras e cuidadores, não incluídos como prioritários na vacinação. Se levarmos em consideração a meta do governo federal de vacinar 1 milhão de pessoas por dia – muito aquém do necessário – quem tiver 35 anos talvez consiga se vacinar em março de 2022. Talvez.
Essa mesma população (crianças, adolescentes, jovens e adultos) diariamente recebe discursos contraditórios dos seus governantes. A cada vez que permitem lojas, bares, restaurantes, igrejas, templos ou escolas privadas abertas, governos de todos os níveis sinalizam que não há perigo, que as pessoas podem ir pra rua.
Tudo isso ocorre em meio ao colapso dos serviços públicos de saúde. Tudo isso, em meio ao corte das verbas para a saúde no orçamento nacional.
Como se fosse pouco, o governo federal anunciou na quinta-feira, 01 de abril, a redução do orçamento do programa Farmácia Popular. Em um momento em que o programa deveria ser ampliado. Principalmente para os 14,2% da população que estão desempregadas (IBGE, janeiro/2021) e para os 38,8% de trabalhadores informais, segundo o IBGE (outubro/2020). Isso significa uma população em torno de 53 milhões de pessoas fragilizadas e sem apoio.
Não adianta fazer lockdown de mentirinha e permitir a reabertura do comércio, como foi o caso do DF, que teve números recordes de mortes esta semana. Somente na quinta-feira foram 121 mortes por Covid-19, mais de 6 mil no total. Enquanto isso, todas as UTIs estão ocupadas e há filas de espera para ocupar as UTIs na rede pública e também na rede privada.
Governantes anunciam lockdowns parciais, mas não fazem campanhas de conscientização sobre os riscos das novas variantes nem proíbem as pessoas de circular. Por um lado, podem até fechar lojas e bares por alguns dias. Por outro, deixam abertas as estradas, convidando ao passeio e deixando as viagens livres.
Temos um chefe da nação que quer proibir as tentativas de alguns governantes de protegerem a população. Que segue seu discurso anti-vacina. Que não oferece ajuda aos micro, pequenos e médios empresários nacionais. E que oferece um auxílio emergencial vergonhoso de 250 reais para famílias de quatro, cinco pessoas ou mais.
O que fazer em uma situação assim?
Não podemos ficar caladas. Precisamos nos proteger. Ao nos protegermos, protegemos nossos familiares, amigos, vizinhas e vizinhos.
Muitas famílias dispensaram cuidadoras profissionais, cancelaram atividades e temem internações pelo risco de contágio. Outras recorrem a consultas virtuais sempre que possível.
Apesar do estresse de não poder proporcionar atividades para as pessoas com demência, fique em casa. Mantenha somente uma saída na rua perto de casa com o familiar para tomar sol. Sem aglomeração. Nos demais casos, saia apenas quando necessário, sempre com máscara, álcool gel e mantendo distanciamento.
Se precisar sair para trabalhar, redobre os cuidados. Use duas máscaras. Mantenha as janelas abertas. Redobre o uso de álcool gel e, se puder, evite elevadores. Subir e descer escadas é mais saudável e seguro.
Muitas cuidadoras familiares optaram ou precisaram cuidar sozinhas durante a pandemia, o que aumentou a solidão e a carga de trabalho. Nesses casos, vale a pena dedicar mais tempo para telefonemas e encontros virtuais com amigas e familiares. De preferência todos os dias.
Não é o momento de encontros presenciais nem de abraços. Por mais que a saudade doa. É tempo de garantir a vida de todas as gerações. De mandar beijos e abraços pela internet. De brincar de coelhinho nas salas virtuais.
Adote a telecompra para aquisição de medicações, alimentos e materiais de limpeza. Peça ajuda aos mais jovens para fazer compras pela internet, seja no computador ou no celular. E também para usar o banco digital.
Em tempos de feriados e de páscoa, independente da sua religião, contribua para preservar a vida.
2 thoughts on “Março não foi fácil. Como será em abril?”
Importante esta iniciativa de trazer a pandemia para o universo dos pacientes e cuidadores.
Oi Sonia. Sim, não era possivel falar de cuidado sem falar nos riscos da pandemia.