Sociólogo defende união entre PT e PSB para construir um projeto para o pós- Lula

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ANA MARIA CAMPOS/EIXO CAPITAL

ENTREVISTA: Raphael Sebba, sociólogo com formação em teoria política e mestrado em planejamento urbano

“O campo progressista tem duas missões fundamentais nesse contexto: primeiro, garantir a vitória de Lula em 2026 para preservar a democracia. A segunda, é formular um novo projeto de país que seja capaz de encantar a população no pós-Lula”

Como você avalia o momento político que o Brasil vive hoje?

Pela primeira vez desde a redemocratização, o Brasil vivenciou a possibilidade real de sofrer uma ruptura institucional. Nesse contexto, antigos adversários se reconhecem no mesmo compromisso: proteger as regras do jogo, a Constituição e a democracia. Acredito que a partir de 2027 teremos o início de uma espécie de “big bang” na política nacional: o surgimento de um novo universo, um rearranjo completo que se forma sem a figura eleitoral do Lula em 2030. O campo progressista tem duas missões fundamentais nesse contexto: primeiro, garantir a vitória de Lula em 2026 para preservar a democracia. A segunda, é formular um novo projeto de país que seja capaz de encantar a população no pós-Lula. Isso passa por questões como desenvolvimento com inclusão, transição ecológica, segurança cidadã e tecnologia a serviço da sociedade.

Acredita que a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro foi bem assimilada pelas forças ligadas a ele?

Podemos dividir o apoio ao Bolsonaro em 3 núcleos: um mais ideológico, representado pelo Eduardo Bolsonaro. Um fisiológico, composto pelo centrão. E um econômico, que sustenta o bolsonarismo com vistas a acumular riqueza. Cada um reage de um jeito. Eduardo Bolsonaro atua como se estivesse em uma realidade paralela, negando os fatos. Isso chega ao extremo de conspirar contra o próprio país, tentar sabotar a economia, prejudicar a população. O Centrão quer surfar na imagem de Bolsonaro, mas já articula nomes alternativos. E o núcleo econômico está disposto a apoiar o caminho que mais se submeter a ele.

Como será, na sua opinião, o embate eleitoral do próximo ano diante da polarização intensa da última eleição?

Mesmo sem Bolsonaro na urna, o projeto que ele simboliza seguirá presente e terá representantes. A eleição será tensa. O debate central é democracia e direitos versus ruptura e retrocesso. Assim como em 2022, não haverá margem para “ficar em cima do muro”. Será preciso ter lado: ou se defende a democracia, os direitos sociais, a justiça tributária, a soberania. Ou se abre mão disso. É preciso disputar a maioria com soluções concretas que baixem o custo de vida, melhorem serviços públicos, promovam uma vida melhor. E, ao mesmo tempo, reafirmem a Constituição de 1988 e a democracia.

Como avalia as chances de reeleição do presidente Lula?

Não existe eleição ganha. Mas tenho muita segurança de que Lula será reeleito. Apesar da resistência e da sabotagem imposta pelo Congresso, o Governo conseguiu avançar em importantes pontos. Como, por exemplo, a isenção do Imposto de Renda para os que ganham menos, o Pé de Meia e a defesa da soberania brasileira contra as intimidações de Trump. Essas são medidas com impacto material e simbólico muito fortes. O aumento da popularidade de Lula comprova isso.

Você foi candidato a deputado federal pelo PSol em 2022 e recebeu 15.050 votos. Como considera o seu desempenho na última eleição?

Fizemos uma campanha muito vitoriosa, que mobilizou muita gente, que rodou todas as RAs. Tudo isso com pouco recurso, sendo uma das campanhas com menor valor gasto por voto conquistado no DF. Isso foi possível porque além de pedir voto, apresentamos uma perspectiva consistente de DF e de Brasil. Desde então, continuamos nas ruas, trabalhando e construindo a política. Agora, com o que aprendemos em 2022, pretendo ser eleito em 2026.

Por que trocar o PSol pelo PSB?

Estou voltando ao PSB, onde me filiei aos 20 anos e onde me formei politicamente. Volto porque precisamos nos conectar ao Brasil real, às demandas materiais e à diversidade do nosso povo. O campo progressista tem de voltar a dialogar com quem está na batalha diária: trabalhadores de app, pequenos comerciantes, empreendedores, evangélicos. No DF, vejo o PSB comprometido com esse caminho. As conversas com Cappelli, Rollemberg, a deputada Dayse e Rodrigo Dias me deram certeza de que ali posso continuar e avançar com ainda mais força na construção do que acredito.

Pretende agora concorrer a qual cargo?

Deputado distrital! A CLDF está tomada pelo centrão a serviço da Celina e do Ibaneis. Apesar de termos ótimos parlamentares, ainda são poucos para frear projetos graves, como a compra do Banco Master, a concessão de estacionamentos públicos por 20 anos, o desmonte da saúde, a perseguição do DF Legal contra quem só quer trabalhar, entre tantos outros problemas. O DF pode ser melhor: pode ter mais áreas verdes, pode ter mais opções de cultura e lazer, pode ser mais acolhedor para pequenos negócios, pode ter um sistema de mobilidade que respeite as pessoas, pode estar mais preparado para os eventos climáticos como as chuvas e as queimadas. Mas tudo isso depende de uma CLDF diferente da que existe hoje. Pretendo ser parte dessa mudança.

Quais seriam suas principais prioridades caso fosse eleito deputado distrital?

Justiça Climática! Temos que acabar com a ideia de que a pauta ambiental é algo distante. É um tema social e cotidiano. A seca atinge todo o DF, mas quem não tem asfalto respira mais poeira. A chuva cai no DF inteiro, mas o impacto dos alagamentos é maior em determinadas regiões. No racionamento hídrico, quem tinha caixa d’água grande quase não sentiu; quem não tinha precisou planejar o dia de tomar banho. O DF pode ser referência mundial se: trocar investimento nos carros por transporte público; descentralizar serviços e empregos; garantir habitação com infraestrutura verde e drenagem; oferecer lazer no sol e na chuva; climatizar salas de aula; apoiar a agricultura familiar e democratizar o acesso a alimento saudável e sustentável. É isso que chamo de justiça climática. Quero ser o deputado do planejamento urbano justo, do clima, da boa alimentação, dos animais e do Cerrado na CLDF!

Quais são, na sua opinião, os maiores obstáculos para a renovação política no Brasil?

Os maiores obstáculos são três: dinheiro concentrado, máquina pública nas mãos de quem já está no poder e barreiras simbólicas que afastam maioria da população. A saída é aproximar a política da vida real: núcleos de bairro, apoio a quem organiza ações de solidariedade, montar gabinete de rua, ter a escuta e a vontade popular como guia da atuação política.

O PSB deve se aproximar mais de partidos como o PT ou manter uma posição mais independente?

Eu defendo e trabalho pela unidade da esquerda. Não apenas no momento eleitoral. PSB e PT possuem uma longa relação histórica: em 1989, na primeira campanha de Lula, o vice era do PSB. E agora Lula tem o PSB como vice. Temos que nos aproximar da base da sociedade para conseguirmos derrotar a extrema-direita e sua narrativa de ódio em todos os lugares. E isso passa necessariamente por fortalecer o governo do Presidente Lula e do Vice-Presidente Alckmin.

Ana Maria Campos

Editora de política do Distrito Federal e titular da coluna Eixo Capital no Correio Braziliense.

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