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“Enquanto cidadãos, estamos fazendo nosso dever?”, questiona presidente do Iges sobre luta contra dengue

Publicado em Coluna Brasília-DF, GDF

À queima-roupa conversa com Juracy Cavalcanti Júnior, presidente do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF)

“A dengue também surge em apartamentos, existem muitos casos nas áreas verticais. E, hoje, 94% dos focos estão dentro das próprias residências. Se você tem água parada numa planta, por exemplo, você pode ter foco de mosquito ali”
Juracy Cavalcanti

Houve aumento de 435% dos casos de dengue e o problema aflige a todos. Por que isso está acontecendo agora?

A dengue sempre é problema. Então, todos os anos, todos os estados do Brasil passam por esse período de sazonalidade da dengue. Hoje, se nós formos avaliar o mapa brasileiro em termos de demografia epidemiológica, nós vemos que o país inteiro está infestado da dengue. Então, realmente vejo que o sistema de saúde tem que estar preparado para abarcar isso, mas tem também a necessidade de conscientização da população.

Depois da dramática pandemia da covid, podemos dizer que vivemos uma segunda onda da saúde pública com a dengue?

Hoje, alguns especialistas até colocam que uma próxima pandemia pode vir por meio de mosquito. A dengue, se a gente for comparar, tem surgido cada vez mais forte e, obviamente, a gente tem que estar sempre buscando um avanço. Não vamos conseguir erradicar o mosquito. Mas a pergunta é: todos nós, enquanto cidadãos, estamos fazendo nosso dever de casa, estamos cuidando das nossas residências, dos nossos lotes? Então, o governo do DF, de maneira muito assertiva, fez uma convocação recente de todos os administradores regionais, juntamente com a doutora Lucilene e os órgãos de saúde vinculados para fazer justamente esse choque de gestão. Quando a gente observa algumas falas dos administradores, nós podemos observar nessas regiões administrativas, lotes, que são focos, mato, temos o lixo verde que pode sim ser uma fonte da dengue. Então, eu acho que tem que ser uma ação conjunta. A dengue também surge em apartamentos, existem muitos casos nas áreas verticais. E, hoje, 94% dos focos estão dentro das próprias residências. Se você tem água parada numa planta, por exemplo, você pode ter foco de mosquito ali.

Como as pessoas podem colaborar?

Todos têm que ter consciência de estar procurando os focos. Algumas pessoas têm aqueles jardins de pedra e no meio daquelas pedras pode ter plantas empoçadas e pode ser foco. Então, é importante ter, primeiro, esse olhar do cidadão. E, obviamente, nós, enquanto profissionais de saúde, nos preparamos para qualquer demanda, mas igual à pandemia que nós tivemos de covid, é importante ter esse controle de contaminação, digamos assim, para você também não dar uma sobrecarga na rede.

E como é que tem sido o aumento do atendimento nas UPAs? Há superlotação?

As nossas UPAs estão, sim, superlotadas, com pacientes com suspeita de dengue. Então, recentemente, nós fizemos estudo para tentar caracterizar esses pacientes, digamos assim, traçar perfil epidemiológico desses pacientes. Esses dados são importantes para traçarmos uma estratégia junto à Secretaria de Saúde para buscar apoio nas unidades básicas de saúde. É importante ressaltar para a população que esses casos leves de dengue devem ser atendidos em uma unidade básica de saúde. Os casos mais complexos, com o paciente mais grave, é que devem procurar uma UPA. Em caso de febre alta, dores fortes na barriga, falta de ar e sangramento na gengiva, no estômago ou ao evacuar, o paciente precisa imediatamente buscar atendimento na UPA, considerando que há risco de complicação.

Quais são as providências que as pessoas devem tomar para evitar a contaminação? Além desse cuidado com a água, as pessoas devem usar repelente? Que conselho o senhor dá?

Olha, o que eu recomendaria a toda a população, enquanto médico, seria primeiro, a conscientização, dentro da própria casa ou de onde ela circula. Segundo, é importante essa população também ser uma via de denúncias. Então, se porventura a pessoa passa em uma região, vê lote baldio com muito mato e que aquilo ali pode ser uma área de foco, comunique às autoridades responsáveis sobre isso. E outro ponto importante são aqueles pacientes que porventura têm situação de risco, ou grávidas, pacientes mais idosos com comorbidades, é importante utilizar repelentes ou algum utensílio de tomada que possa repelir esses mosquitos.