Coluna Eixo Capital / Por Ana Maria Campos
À queima-roupa / Fátima Sousa
Enfermeira sanitarista, foi diretora do Departamento de Ciências da Saúde da UnB e candidata ao GDF pelo PSol em 2018. Professora e especialista em saúde pública com pós-doutorado pela Universidade de Quebec, no Canadá
Acredita que a vacina pode colocar um fim na pandemia?
Não creio, pois a vacina é uma estratégia de proteção coletiva. Ainda precisaremos que a população dos 5.570 municípios seja vacinada. O uso de máscaras, distanciamento social e outros cuidados sanitários ainda seguirão, por bastante tempo, essenciais à segurança da população.
É possível ter esperança de que a vida vai voltar ao normal?
A vida tem seguido para muitos do modo que podem. Mas o normal ao qual estávamos acostumados, penso que demorará um pouco até que tenhamos segurança de que a população esteja imunizada. Mesmo assim, deveremos seguir nos cuidando individual e coletivamente. Precisamos cada vez mais de consciência sanitária.
A senhora diz que a imunização é uma estratégia coletiva. Não há vacina para todos. Como deve ser?
Devemos recuperar o tempo perdido por atos de desgovernos e acelerar a compra dos insumos necessários à produção de vacinas para toda a população. Deve-se prover o Butantan e a Fiocruz com o que for necessário à ampliação dos imunizantes. Além de reestabelecer as relações comerciais com a China e outros países para alcançarmos a meta de, no mínimo, 70% de cobertura vacinal.
Na pandemia, o que a senhora faria de diferente se tivesse sido eleita governadora do DF?
A Secretaria de Saúde do DF estaria nas mãos de gestores comprometidos com a ciência, a saúde e a vida da população. Teríamos apresentado um Plano de cuidados à prevenção da covid-19. Prepararia a Rede de Atenção à Saúde com os agentes comunitários e as equipes de Saúde da Família, orientando todas as pessoas de suas áreas de atuação. Não relaxaria nas orientações do distanciamento social. Apresentaria um projeto de renda mínima para a população mais vulnerável. Fiscalizaria as condições de seguras para o transporte público saudável. Teria um plano de informação e comunicação para dialogar de forma transparente, franca e em tempo real com a sociedade e a mídia. Estaria, junto aos governadores dos Estados, Opas/OMS, Conass, Conasems e as instituições de pesquisa, definindo estratégias nas negociações à produção de vacina em massa. Estaria ao lado dos poderes instituídos para, juntos, atravessarmos esse tempo tão atípico e difícil. A Câmara Legislativa pode ajudar muito nesse sentido.
Temos notícias de fura-filas pelo país afora e no DF. O jeitinho é uma cultura do nosso país. Como impedir que os ricos e poderosos levem vantagem?
Não devemos naturalizar situações em que o brasileiro é definido como um povo de “jeitinhos”. Algumas pessoas, de fato, agem a partir de interesses individuais e pensam que o dinheiro tudo pode comprar. A covid-19 tem sido uma pandemia de todas as classes, cores, credos e gerações, entretanto, tem dizimado as vidas de muitas mulheres e homes negros, pobres e desempregados, sobretudo, das periferias. Nossa luta deve persistir pelo acesso à vacina orientado pelos princípios da equidade e da universalidade como valores fundantes do SUS. Para impedir essa incivilidade, devemos cumprir, rigorosamente, a prioridade de vacinar profissionais na linha de frente, idosos, indígenas, quilombolas, pessoas em situação de rua e as privadas de liberdade, professores e trabalhadores dos serviços essenciais. Quem não cumprisse as metas prioritárias responderia administrativamente pelos seus atos.
O PSol apoia o impeachment de Bolsonaro. Uma mudança em meio à pandemia será positiva?
A permanência de um governo que negou a pandemia, minimizou as mortes, trabalhou contra a ciência, prescreveu medicamentos sem evidência científica ao uso, que gerou intrigas e discórdias entre os poderes federativos, não pode ser digno de conduzir o país. É preciso uma mudança imediata para que a saúde e as vidas sejam protegidas. Basta de mortes.