“A causa animal é ativo universal”, diz chefe da Proteção Animal da SSP/DF

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Da coluna Eixo Capital, por Ana Maria Campos

Como começou seu envolvimento com a proteção animal?

Desde quando era criança, tenho uma forte conexão com a natureza e, especialmente, com os animais. Sou natural de Natal (RN), e minha infância foi fortemente marcada pelo convívio com a natureza. Guardo desde essa época um trauma por não poder adotar um cachorrinho. Minha família não permitiu. Tempos depois, já em Brasília, passei a me engajar na causa, criando com Fernando Alcântara no ano de 2009, o Instituto Ser de Direitos Humanos e da Natureza, e em 2014, idealizamos e organizamos a ‘Primeira Marcha Distrital Contra Crueldade Animal’, e, por ocasião da conclusão do curso de direito, defendi a tese sobre o “O reconhecimento do direito dos animais”. Naturalmente, por ter me notabilizado nessas causas identitárias, e, em conversa com meu amigo Sandro Avelar, secretário de Segurança Pública, acabei sendo convidado por ele para instaurarmos na secretaria essa pauta, dentro do conceito de integralidade — polícia cidadã e sociedade —, que ele estabeleceu como prioridade para sua gestão.

Houve algum caso marcante que fez você decidir se dedicar a essa causa?

Embora não tenha um caso específico para compreender a importância desse trabalho, sinto que a morte prematura de um filho de quatro patas, de nome Spock — um Yorkshire muito especial e inteligente —, tenha me servido de maior estímulo. As pessoas que não têm convívio com pets não sabem o amor que eles nos oferecem e o significado de suas partidas. Cada um que passa por essa nossa jornada têm um papel importante, sendo por sua própria identidade, insubstituível. A perda é uma dor excruciante, imensurável, que temos que levar conosco para o resto de nossas vidas. Assim, somente dedicar força a essa causa me traz certo alento e a certeza de estar contribuindo com a evolução do mundo, para que se torne um lugar melhor para todos, sem espaço para falsa pretensão de sermos a única espécie importante.

Como é o seu trabalho?

Minha rotina é de coordenação de ações, que contribuem com o combate aos crimes contra os animais. Nesse contexto, idealizei e, com total apoio de nosso secretário, Sandro, pusemos na estrada a ‘Caravana de Proteção Animal e Meio Ambiente, da SSPDF’, projeto piloto que ainda só existe no DF. A intenção é levar conhecimento, especialmente quanto aos canais de denúncias, conscientização, acolhimento, orientação em bem estar animal e, sobretudo, ajudar as famílias multiespécies e, em situação de risco e vulnerabilidade social. É, portanto, um formato de ação pública inexistente no resto do país, onde agregamos forças de segurança e órgãos distritais e federais, atuando em conjunto com a própria sociedade civil organizada, fornecendo diversos serviços, por ocasião dessas mesmas atividades. Cada edição tem representado uma nova experiência, especialmente que até mesmo promovemos adoções responsáveis. Para além dos aspectos de atuação repressiva aos crimes dessa natureza, nosso trabalho também comporta acolhimento às demandas de protetores individuais e de ONGs. Por meio desse conceito de integralidade, fomos em busca de apoio de empresários locais e profissionais liberais, o que tem representado importante ativo ao cumprimento de nossos objetivos.

O que significa, pessoalmente, ser um protetor animal?

Para mim, representa uma missão de vida. O pouco que puder contribuir com essa causa me tornará a pessoa mais realizada deste mundo.

Quais são as formas mais comuns de maus-tratos que você presencia?

Um abandono, que para muitos pode ser considerado algo de menor importância, entendo como fato de extrema maldade, de tamanha gravidade. Todos os dias e, mais precisamente nesses períodos de fim de ano, quando o ‘ser humano’ passa a divulgar em suas redes sociais aquelas frases motivacionais, na prática essa é a época de aumento desse tipo de crueldade. O que me faz refletir e até desacreditar na humanidade.

As leis de proteção animal são suficientes? O que ainda precisa melhorar?

Infelizmente ainda são insuficientes, creio que o caso do cavalinho, que o criminoso golpeou as patas demonstra bem essa nossa incapacidade. As penas ainda são muito brandas e acabam por estimular esse tipo de comportamento, resultando num ciclo vicioso. Nossos legisladores precisam ter mais compromisso com a questão, compreendendo que a causa animal é ativo universal.

O que a população pode fazer ao presenciar um caso de maus-tratos?

Denunciar por meio de nossos canais disponíveis como a chamada ao número 190 ou 197. Mas, em virtude da urgência atribuída a cada caso, podem se deslocar a primeira delegacia de polícia ou unidade policial de cada região, podendo, inclusive, realizar registros na condição de anonimato, para que nosso sistema solucione o caso e vá em busca da sanção do Estado.

Paulo Leite

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