circecunha@gmail.com; arigcunha@ig.com.br
Velhinha aos 50 anos
Fim melancólico de José Roberto Arruda no governo do Distrito Federal. Preso por ordem do Tribunal Superior de Justiça, viu o sol nascer quadrado no cubículo da Polícia Federal. Considerou-se vítima de armações. O povo nas ruas desmentiu com os protestos da cidade. Por outro lado, em cada casa há uma história sobre os feitos do ex-governador.
Estranhava um homem aparentar tanta dedicação à cidade que governava. Obras espalhadas denotavam que eram malfeitas e, pior ainda, malconservadas. O bolo foi crescendo. O povo começou a abrir os olhos. Era obra demais para tão pouco tempo. Ideal seria mesmo que fosse investigado o que acontecia no Distrito Federal.
Reação do povo veio na hora exata. O que havia de maldade, pretensão, orgulho e avanço no dinheiro público ruiu por terra como um castelo, dessa vez de baralho.
As investigações eram feitas pela Polícia Federal. Passo a passo foram chegando mazelas que José Roberto Arruda engrenava. Era coisa muita, mas a medida do ter nunca se enche. A ganância é fraqueza dos que pensam mais em dinheiro do que no país, na vida, na família.
José Roberto Arruda, quando governador de Brasília, desenvolveu muitas obras em direções várias. O veículo leve sobre trilhos, por indicação do destino, chegou à porta da Polícia Federal. Fim da linha para o governo. Arruda não teve o cuidado de fazer pistas para liberar o trânsito. Em todo o DF, faltavam acabamento e coletor de águas pluviais.
Durante muito tempo, a população da capital federal acusava “os de fora” de todas as maldades que a imprensa anunciava. A coisa era corroída por dentro. Quando o escândalo chegou ao Tribunal Superior de Justiça, a água cobriu a cidade de acanhamento e vergonha. Não fica nisso. O plano não pode nem deve ficar circunscrito a pouca gente. Brasília está com o cofre furado.
Em se procurando detalhes, voltamos a dizer que melhor seria a Comissão do Distrito Federal do Congresso. Todos os senadores trabalhavam com ideal de dar à cidade condições habitáveis e de trabalho. Senadores queriam vida na cidade com lisura.
A Câmara Distrital carrega a culpa por tornar a cidade impraticável. Distritais recebem dinheiro na meia, na cueca, no sapato. Aquele dinheiro era suborno para se comportarem quando o fornecedor exigisse.
Cenas do inferno de Dante foram filmadas com distritais orando pelo roubo feito, bolsa grande para caber muito mais dinheiro, pacotes enchendo os bolsos, meias e cuecas.
Houve época em que os moradores da cidade acusavam os legisladores federais e ministros de se excederem, e a população levar a culpa. Não vale a pena falar que se mora em Brasília. Os olhos se abrem e a situação piora.
Ninguém quer acreditar mais nos moradores da cidade, que sempre defenderam a paz e a cordialidade. A placa tectônica estava fendida. E os escândalos brotaram como devastadores tsunamis e terremoto. O escândalo poderá adiar até as eleições presidenciais deste ano. Tudo é possível a partir do que estamos vivendo. Há carne noutros angus.
No estado de Goiás, que o presidente do Banco Central, Henrique Meireles, tinha o gosto de dirigir, a situação está de mal a pior. Cidadão universal, Meireles desistiu. Seu passado ia ser manchado se eleito. E talvez nem sequer chegasse ao poder. O ponto de corrupção em Goiás se propaga por todo o Brasil.
Outros estados sofrem dos mesmos males. Há uma onda de corrupção cobrindo o Tesouro Nacional. O governo cobra impostos altíssimos para atender ao que os gulosos chamam de necessidades. Dinheiro roda pelo Brasil como se fosse apenas coisa de papel. O governo federal tira do bolso do trabalhador.
Impossível previsão para 2010. Está muito curto o tempo para se resolver mais coisa no país. Nada se resolverá num dia, porém a precaução exige prudência.
Na República e nos estados, dinheiro público é rolo compressor, dominando a pobreza com favores pequenos. Os grandes abocanham o maior bocado. Mesmo assim pagam menos impostos que o povão.
O Brasil não será consertado num abrir e fechar de olhos. O presidente Lula da Silva usou seu chavão de sempre: não há nada que não se possa negociar.
O país não pode parar, nem mudar de governo sem raios X que mostrem quem é, de onde veio, qual a profissão.
A permanência de Paulo Octávio no governo é dificuldade para resolver o assunto. Trata-se de um cúmplice do complô.
Qualquer candidato está na obrigação de dizer o que fez para merecer qualquer posto. Sem isso, estaremos caminhando para tapar o sol com a peneira e favorecer aos que não merecem.
“Cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém”, como ensina o filósofo de Mondubim. Muito menos à cidade cinquentona.
(Coluna originalmente publicada em 13/2/2010)