Um modelo esgotado

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha com MAMFIL

Com a aprovação do relatório do senador tucano Antônio Anastasia instaurando, de fato, o julgamento derradeiro do impeachment contra Dilma Rousseff, e com a data, também já definida pela Câmara dos Deputados, para a sessão que decidirá sobre a cassação do peemedebista deputado Eduardo Cunha, dois dos maiores processos políticos, envolvendo lideranças do Poder Executivo e Legislativo, entram na reta final de definição.

É preciso aplainar os primeiros trechos do extenso terreno político à frente, abrindo, também, as possibilidades para que o país avance, mais ligeiro, rumo às reformas urgentes e necessárias. Resta ainda, em todo esse processo político, o desfecho para a volumosa quantidade de denúncias levantadas pela Operação Lava-Jato.

No entanto, é possível que, no decorrer da citada investigação do Ministério Público e da Polícia Federal, fique demonstrado que o veio da corrupção se estende ainda mais profundamente terra adentro. Nesse caso, será preciso aguardar mais um pouco até que todos os envolvidos nos episódios sejam publicamente conhecidos e alcançados pela lei. Cumpridas essas etapas, terá chegado o momento de reconhecer, com franqueza, a falência do modelo que conduziu o país para a maior crise de todos os tempos. Ao governo interino, caberá a importante tarefa de chegar, sem maiores traumas, até as próximas eleições, fazendo os ajustes necessários para deter a queda dos indicadores da economia.

O ano de 2016 não terá passado em branco, se for reconhecido que ele marca o ponto de partida para a reestruturação e modernização profunda de nosso modelo de democracia. A libertação do ciclo secular de crises só será possível se forem abandonados os antigos modelos, principalmente aqueles que favorecem apenas a cúpula do Estado. O problema com a reforma política — a mais necessária, por isso chamada a mãe de todas as reformas — é que ela não poderá ser levada a bom termo enquanto não for esclarecida a participação de cada parlamentar nos episódios de desvios de dinheiro público investigados pela Operação Lava-Jato.

Só um Congresso totalmente isento e ilibado poderá empreender reformas políticas verdadeiras. Por enquanto, ficam as certezas de que o atual modelo partidário, com uma infinidade de legendas de aluguel, não serve mais e é danoso, como não serve mais o instituto da prerrogativa de foro, da nomeação política de membros para a Alta Corte. Nossa triste experiência demonstrou que, quanto maior o Estado, com grandes empresas estatais, maiores e mais fáceis são os casos de corrupção.

Mostrou-nos ainda que governos moldados com características do tipo populista arruínam a economia. Ensinou-nos também que modelos políticos importados, tipo bolivariano, não servem sequer para os países que o inventaram. Os brasileiros aprenderam, a duras penas, que o apoderamento da máquina do governamental por um partido político é extremamente nefasto para os interesses da nação e para os negócios de Estado.

Graças à crise sem precedente, ficamos mais experientes e precavidos contra a cantilena demagoga. A população que foi às ruas deixou isso bem claro. Urge a implementação completa da lei contra a corrupção e da ficha limpa. Os brasileiros têm pressa e sabem bem que o tempo não espera por ninguém.

A frase que foi pronunciada

“De repente todo mundo virou especialista em Educação.”

Rosilene Corrêa, do Sindicato dos Professores, em crítica à coluna

Explicação

Caso haja curiosidade do leitor em saber onde se iniciou essa lide com o Sindicato dos Professores, o ponto conflitante foi a opinião da coluna de que nossas escolas públicas reproduzem muito mais o pensamento de uma categoria — como grupo fechado em torno de um sindicato — do que o pensamento de pais, alunos e educadores.

Alvo

Para atestar o que disse a coluna, basta visitar as salas de aula nas escolas públicas no turno noturno para atestar que vários professores adotam o discurso contra a imprensa, contra patrões, contra disciplina. Isso é fato. E mais: antes de o sindicato apoiar o governo com a ideia de horário integral, é preciso ouvir pais e mestres.

Na prática

Como valorizar o professor com o estímulo da adoção do período integral, se com uma sala de aula de cada período com 40 alunos por meio expediente, os professores batem recorde em atestados médicos por exaustão? Se não defende hoje, vai defender com a aplicação do período integral? Será que o sindicato vai batalhar para que a escola atenda as exigências dos mestres, como turmas menores e salas decentes? E o plano de saúde para os professores?

História de Brasília

O sr. João Goulart decepcionou, ontem, pela primeira vez, a população de Brasília, deixando de aparecer para os trabalhadores que o esperaram quase duas horas, em pé, para ver pelo menos uma saudação do presidente da República. (Publicado em 13/9/1961)

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