Desde 1960
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com Circe Cunha e Mamfil
Digam o que quiser do atual presidente norte-americano, Donald Trump. Que ele é um legítimo exemplar wasp (anglo-saxão protestante). Que ele é uma espécie de Paulo Maluf do primeiro mundo, só que com muito mais dinheiro. Aventureiro, belicoso, arrogante, vaidoso, ou o que quer que seja. Trump é, queiramos ou não, o retrato de nosso tempo. De um tempo de superficialidades e futilidades, em que o poderio dos grandes grupos econômicos nunca foi tão assustadoramente onipresente.
Com Trump encerra-se definitivamente o antropocentrismo, e inaugura-se a era do absolutismo presidencial. Trump é a resposta americana ao Putin, na Rússia. Seja o que for, o sujeito, com seu comportamento mal-educado e grosseiro, teve a audácia de enfiar o dedo na cara da imprensa americana, considerada, há muito tempo, um verdadeiro poder paralelo, capaz de fazer e destruir presidentes, com um simples editorial. Trump reintroduz em cena a figura do Cidadão Kane, deixada para trás, depois da Segunda Grande Guerra.
Acostumados a presidentes dóceis e amedrontados, com Trump a grande imprensa americana, autoproclamada paladina das liberdades públicas e da democracia, tem comido o pão que o diabo amassou. Não que a verdade dos fatos para Trump tenha qualquer relevância. Com ele, a imprensa local terá que se reinventar. O mais incrível é que ele faz isso sabendo que seu currículo passado não é bem um cartão de visitas em bom mocismo. Não se sabe onde essa beligerância toda com a mídia terminará. Uma coisa é certa, daqui para a frente ou mudam-se as estratégias dos órgãos de comunicação, ou o grande público, se é que ele realmente existe, começará a pôr em dúvidas o que ouve, ou vê ou lê diariamente.
Curioso é que o mesmo fenômeno ocorre agora, guardadas as devidas proporções, também na Venezuela agonizante de Maduro. Naquele pobre país, a imprensa livre foi praticamente dizimada. Na América do Norte, a imprensa livre vive dias de grande angústia. O monopólio dos jornais e revistas foi posto abaixo com o advento das mídias sociais na internet.
Como bilionário, Trump sabe que o mundo vai se transformando numa enorme e homogênea megalópole. Obviamente, para que esse novo fenômeno às avessas possa ser implementado, pelo menos parte das propostas anunciadas terá que enfrentar o touro da mídia mais poderosa do planeta à unha. Trump, assim como os magnatas da grande imprensa que ainda dão as cartas naquele país, longe dos flashes e dos repórteres, vivem em harmonia e se confraternizam regularmente em festas luxuosas e exclusivíssimas.
A fake news, apontada por Donald Trump, é retrato do mundo fake, das personalidades fakes, da moda e das artes fakes. Transformado numa grande e caótica rodoviária, com todos se esbarrando na maior solidão, o mundo hoje, tal como lutamos arduamente para conceber por séculos, se tornou o palco perfeito, preparado para a performance desse personagem fake que, de dedo em riste, não se acabrunha em afirmar que somos todos iguais em mentiras e fantasias.
A frase que não foi pronunciada
“Quem rouba perde.”
Regra de um jogo ainda desconhecido no Brasil
Notícia
» Roldão Simas nos envia a notícia de que a maior entidade humanitária mundial Médicos sem Fronteiras está com dificuldades financeiras. No ano passado, para se manter fiel aos seus valores de imparcialidade e independência, MSF tomou a difícil decisão de abrir mão do financiamento da União Europeia. Fundada na França em 1971, atua hoje em 67 países, principalmente nos mais necessitados, em sua maioria (32) africanos. Para milhares de pessoas são a única alternativa de cuidados de saúde. A importância do seu papel foi reconhecida ao lhe ser outorgado o Prêmio Nobel da Paz em 1999. Nada mais justo do que a premiar novamente neste ano. E divulgar mais ainda seu trabalho, sugere nosso leitor.
Pesquisa de campo
» Calouros de diferentes nacionalidades do curso de administração da UnB fazem pesquisas nos supermercados do DF e do Entorno. No Lago Norte, estavam Alexandre Zwetsch Marr, Dan Maloba, Igor Henrique Silva, Thiago Ferreira e Amanda Melo. Alunos do professor Edgar Reyes Jr., admiram o mestre pela rigidez das cobranças. “Se um aluno de Harvard tem tempo de ler 80 páginas por semana, vocês também têm.” O trabalho final com no mínimo 140 páginas deve trazer o resultado das pesquisas, que também abrangem empreendedores e o setor público.
Impressionante
» Continuam no Aeroporto de Brasília agindo livremente os estelionatários do golpe da assinatura de revistas. Com vários processos na Justiça, o grupo usa o nome de bancos, bandeiras de cartão e editoras de revistas. Mas durante a lide ninguém é responsável. A revista se comunicou por e-mail, o banco permitiu a negociação e o cartão de crédito aceitou a transação.
História de Brasília
O Supermercado do Ipase (UV-2) nunca vende filé mignon e, ao que consta, recebe, também, sua quota de carne de primeira. As donas de casa, desde cedo, sempre ficam reclamando nas filas. (Publicada em 5/10/1961)