Vox populi, vox Dei

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Com a interação crescente e instantânea, propiciada pela internet, leitores e redações de jornais e revistas, as notícias ganharam em qualidade e confiabilidade. Essa interação de mão dupla é hoje fundamental e imprescindível para as mídias sérias. O leitor é o objetivo da notícia. Na expressão vox Populi, vox Dei, concentram-se as muitas facetas que fazem da avaliação do público sobre determinado fato a quintessência da comunicação. Os comentários postados pelos leitores têm o poder de esmiuçar a notícias, retirando delas toda e qualquer informação necessária, além de abrir interrogações sobre assuntos que passaram despercebidos.

Nesse sentido, parece estar em estágio embrionário novo modelo de jornalismo, conectado e on-line 24 horas. Ganham profissionais e leitores em geral. A figura do jornalista, correndo atrás da notícia ou isolado em torre de marfim, é desconstruída e substituída, agora, pela visão multiplicadora dos diversos leitores atentos. Essa nova imprensa, de mil olhos e mil ouvidos, instantânea e onipresente, é hoje realidade, bem-vinda e necessária. Exemplo dessa interação automática entre imprensa e público em geral está nos comentários diários dos leitores dos jornais, pelos avisos das condições de trânsito, feitos, ao vivo, pelos motoristas diariamente nas rádios, pelo povo fala, nos noticiários de tevês, pela participação ativa da sociedade nas redes sociais e em outras modalidades.

O humor e a língua afiada do povo também dão tom mais leve às notícias, mesmo as mais sisudas, emprestando mais sabor e fluidez aos textos. Essa visão feita a partir da plateia é mostrada sempre por  um ângulo pouco explorado. Enquanto os órgãos de imprensa ressaltavam a entrevista coletiva dada pela presidente Dilma, durante um café da manhã organizado pelo marketing de Comunicação no Palácio do Planalto, alguns leitores simplesmente deixaram de lado as análises da fala ensaiada da chefe do Executivo e chamaram a atenção para o prosaico fato da mansidão amestrada dos profissionais. Os questionamentos nada mais eram do que oportunidades para dona Dilma discorrer sobre as maravilhas de seu governo. Por fim, os leitores estranharam o fato de os jornalistas fazerem selfies com a presidente, como se ela fosse pop star. Resumiram que se tratava de um grau de servilismo explícito e de falta de isenção de alguns órgãos de imprensa.

Os mesmos leitores, ao comentarem o grau de implicação de figuras centrais do governo com sérias denúncias de corrupção, principalmente na Casa Civil, chamada por eles de Casa Covil, consideraram que, pelo andar das investigações, logo a presidente terá que despachar com seu ministério, diretamente de algum presídio. Quanto à afirmação feita à mídia pelo ministro Jaques Wagner de que o governo não tem coelho para sacar da cartola, os leitores consideraram que isso se deve ao fato de que o coelho simplesmente foi roubado e servido ensopado em algum sítio em Ibiúna, no interior de São Paulo.

O filósofo de Mondubim não se cansa de repetir a expressão: “as ruas têm olhos por todos os lados”. Desprezar a parceria entre a redação e as ruas é virar as costas para a realidade que chegou trazendo lufada de ar fresco para boa parte da imprensa, principalmente a escrita. Afinal, não se deve desprezar a voz de Deus.