Entre a coragem e a hesitação

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Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

 

          Pesquisas de opinião recentes revelam um sentimento quase unânime entre os brasileiros: cerca de 73% da população deseja que as organizações criminosas sejam classificadas como grupos terroristas, segundo levantamento da Quaest Consultoria, divulgado em agosto de 2024. O dado, em si, expressa mais do que uma preferência política, traduz o desespero de uma sociedade que já não distingue com clareza as fronteiras entre Estado e crime. Há muito, os tentáculos do poder paralelo não se limitam às vielas das grandes cidades. Estendem-se às estruturas públicas, aos contratos de transporte coletivo, à distribuição de gás, às licitações e, cada vez mais, aos corredores onde circula o poder institucional.

         O que antes parecia mera especulação agora ganha contornos de diagnóstico. Relatórios da Polícia Federal e do Ministério Público apontam para a infiltração de facções criminosas em ao menos 23 unidades da federação, operando tanto nas franjas urbanas quanto nas altas esferas administrativas. Estima-se que o crime organizado movimente anualmente mais de R$ 300 bilhões no Brasil, valor equivalente a cerca de 3% do PIB nacional, conforme levantamento do Instituto de Estudos Avançados da USP. Tamanho poder econômico explica por que as fronteiras da legalidade se tornaram tão porosas, e o Estado, tão vulnerável à cooptação. Em muitos lugares, as facções substituem o poder público com uma eficiência que o governo parece incapaz de reproduzir — cobram tarifas, impõem normas, punem e protegem, operando um simulacro de soberania.

         Enquanto isso, o país assiste ao avanço da criminalidade com o mesmo olhar apático com que se observa uma tempestade inevitável. A taxa de homicídios, que havia caído até 2022, voltou a crescer em 2024, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com 47.000 mortes violentas intencionais registradas no ano. Mais que números, trata-se da radiografia de uma sociedade em decomposição moral, onde a vida se torna estatística e o medo se converte em política de Estado. O cidadão comum, acuado, vive o paradoxo de pagar por uma segurança que o Estado não entrega e por uma liberdade que se esvai sob o peso da intimidação.

         Há, nesse quadro, uma omissão deliberada. Parte da classe política evita tratar o crime organizado como terrorismo por cálculo ideológico, como se admitir essa realidade implicasse trair antigas narrativas sociológicas. Para alguns setores do governo, os criminosos ainda são “vítimas do sistema”, expressão que desumaniza o cidadão honesto e romantiza o agressor. O sociólogo José de Souza Martins já advertira que “a tolerância com o crime é o primeiro estágio da degeneração democrática”. Ignorar isso é naturalizar o horror cotidiano.

         A infiltração das facções nas instituições republicanas revela algo ainda mais grave: um Estado em processo de captura. Em 2023, investigações da Controladoria-Geral da União e da Polícia Federal mostraram conexões entre servidores e esquemas de lavagem de dinheiro ligados ao tráfico de drogas. Em São Paulo, o Primeiro Comando da Capital (PCC) expandiu sua atuação para além das fronteiras nacionais, estabelecendo rotas de exportação de cocaína para a Europa, com lucros estimados em R$ 2,5 bilhões anuais, segundo a Europol. No Rio de Janeiro, as milícias já controlam mais de 70% das comunidades da capital, de acordo com o Instituto Fogo Cruzado, configurando uma governança paralela que atua à margem da lei, mas dentro da rotina.

         O Estado, acuado e hesitante, reage com discursos e comissões. Falta-lhe coragem para enfrentar a realidade que o oprime de dentro. Ao não classificar as facções como organizações terroristas, o governo perpetua a ficção de que enfrenta uma questão social e não uma estrutura político-militar que disputa o controle do país. Em nome de uma falsa sensibilidade, abdica do dever de proteger. A omissão se traveste de prudência, e o medo, de política pública.

         Quando o crime define as regras e o Estado as cumpre, o pacto social se rompe de modo silencioso e irreversível. O Relatório Global de Criminalidade Organizada da ONU (2023) colocou o Brasil entre os dez países mais infiltrados por redes criminosas no mundo, ao lado de nações em conflito civil. A fronteira entre legalidade e delinquência se esgarça, e o que resta é um território administrado pelo terror cotidiano. O país que se recusou a admitir o óbvio agora negocia sua soberania no varejo das alianças políticas e dos conchavos corporativos.

         Há um silêncio perigoso pairando sobre as ruas e sobre o poder. O medo tornou-se o idioma nacional. E quando o medo é política de governo, a liberdade passa a ser concessão. O Brasil precisa escolher entre a hesitação e a coragem, entre a cumplicidade e a restauração da autoridade. O tempo de negar o abismo já passou. Agora, o que se discute não é mais a intensidade da crise, mas se ainda há país a ser salvo — ou se já nos tornamos, definitivamente, reféns.

 

A frase que foi pronunciada:

“Aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança.”

Benjamin Franklin

Benjamin Franklin. Imagem: Joseph Siffrein Duplessis, en.wikipedia.org

História de Brasília

O Bloco do Palácio do Ministério da Justiça teve a sua pedra fundamental lançada com solenidade. Ficou nisto. O Itamarati, também, até hoje não começou a construção. (Publicada em 11.05.1962)

Antes que seja tarde

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Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

 

A megaoperação policial deflagrada no Rio de Janeiro revela um país em convulsão e um Estado que perdeu o controle sobre vastas porções de seu território. As cenas de guerra urbana, helicópteros sobrevoando favelas e confrontos que duram horas, não são apenas sinais de um problema localizado, são sintomas de uma doença nacional. O crime organizado brasileiro já não se limita a ser uma ameaça doméstica; transformou-se em um poder paralelo, com tentáculos que alcançam o exterior, articulando-se como uma verdadeira multinacional do crime. Mais uma vez, o que está em jogo, neste momento, é a própria soberania do país.

As facções criminosas, outrora limitadas ao tráfico de drogas, expandiram suas operações para o garimpo ilegal, o contrabando de armas, o tráfico de pessoas e até a corrupção política. São conglomerados que movimentam bilhões por ano, lavam dinheiro com eficiência empresarial e impõem regras próprias em regiões inteiras. Em muitas áreas, o Estado já não dita as normas, apenas as observa impotente. A fronteira entre o legal e o ilegal se tornou porosa, e há cada vez mais evidências de que agentes públicos, empresários e políticos atuam como intermediários dessas organizações. Quando o crime penetra o tecido institucional e passa a influenciar decisões de governo, o país dá os primeiros passos rumo a um narcoestado. Esse processo de corrosão não se fez do dia para a noite. Décadas de descaso, de políticas públicas inconsistentes e de discursos ideológicos mal calibrados prepararam o terreno. A atuação de certas organizações e setores políticos, que, sob o pretexto de defender os direitos humanos, passaram a deslegitimar qualquer ação de enfrentamento, criou uma paralisia operacional.

Ao mesmo tempo, governos se alternaram no poder sem formular uma política de segurança nacional articulada, preferindo respostas imediatistas: operações espetaculares que produzem manchetes, mas não resultados duradouros. Combater o crime é necessário; mas sem inteligência, sem planejamento e sem vontade política, o esforço se converte em mero teatro.

No cenário internacional, a percepção sobre o Brasil se agrava. O governo dos Estados Unidos, em recente pronunciamento, classificou organizações criminosas latino-americanas como terroristas, equiparando-as a grupos que representam ameaça direta à segurança global. Essa decisão é um divisor de águas: ao redefinir a natureza desses grupos, Washington abre espaço para ações extraterritoriais e sanções financeiras que podem atingir inclusive o território brasileiro. O alerta americano soa como uma advertência diplomática e como uma constatação desconfortável  de que o problema aqui já ultrapassou fronteiras.
Se o Brasil continuar negando a dimensão internacional do crime organizado, poderá assistir, em breve, à ingerência de potências estrangeiras em sua própria política de segurança. A omissão do governo federal diante dessa escalada preocupa. O discurso de negação, a crítica automática às forças de segurança e a insistência em soluções puramente sociais necessárias, mas insuficientes — apenas aprofundam a crise. O que está em curso é uma simbiose entre crime, poder econômico e estruturas políticas, e enfrentá-la requer algo mais que slogans.

É preciso inteligência integrada, cooperação internacional em bases de soberania e, sobretudo, coragem para desmontar os esquemas de corrupção que sustentam o crime por dentro do Estado. Sem isso, o país continuará a reagir de modo errático, oscilando entre a violência e a impotência. O risco de o Brasil tornar-se um modelo acabado de narcoestado é real. Quando o poder das armas e do dinheiro ilícito se sobrepõem ao das instituições, a democracia se desfaz silenciosamente. O que se inicia nas vielas e fronteiras termina nas cúpulas do poder.

Evitar esse destino exige um pacto republicano que ultrapasse ideologias: segurança pública eficiente, justiça independente, fortalecimento das fronteiras e políticas sociais que retirem das facções suas principais forças de recrutamento: a miséria e o abandono. A operação no Rio não deve ser lida como um episódio isolado, mas como um grito de alerta.

Se o Estado não reconquistar sua autoridade, se a sociedade continuar a relativizar a gravidade da ameaça e se a classe política insistir em discursos de conveniência, em breve, o Brasil deixará de ser apenas um país violento para tornar-se algo pior: um território governado pelo medo, pela corrupção e pelas armas. A hora de reagir é agora.

 

A frase que foi pronunciada:
“Continuaremos firmes no enfrentamento ao tráfico de drogas e ao crime organizado.”
Lula

Lula. Foto: Getty Images

História de Brasília
Nada mais injusta do que a campanha que vem sendo mantida contra o engenheiro Waldemar Lucas, prefeito de Taguatinga. Até hoje ninguém assumiu aquele cargo para dedicar a mesma atenção, e o mesmo interêsse pela solução de milhares de lotes ocupados ilegalmente do que o atual subprefeito. (Publicada em 11.05.1962)

Discursos

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Charlie Kirk. Foto: The Deseret News / AP / Tess Crowley

 

Nos últimos anos, duas expressões têm sido repetidas quase como mantras pela mídia, por organismos internacionais e por lideranças políticas: “discurso de ódio” e “fake news”. Em tese, ambas guardam sentido nobre: evitar que a violência verbal se torne ação concreta e impedir que mentiras deliberadas comprometam a saúde pública, a política e a confiança social. Mas, no terreno da política, sobretudo dentro do que se convencionou chamar de nova ordem mundial e de globalismo, esses conceitos deixaram de ser simples categorias éticas ou jornalísticas para se tornarem instrumentos de poder.

De maneira cada vez mais evidente, o que se vê é o uso desses rótulos como mecanismos de censura seletiva. Enquanto qualquer opinião divergente do consenso progressista pode ser tachada de discurso de ódio, agressões físicas e tentativas de assassinato contra líderes de direita não recebem o mesmo enquadramento moral.

O atentado contra Jair Bolsonaro em 2018, por exemplo, não foi amplamente narrado como fruto de uma cultura de ódio político, mas como episódio isolado. Já as críticas duras a figuras ou agendas progressistas, mesmo quando se tratam de argumentos fundamentados, são rapidamente classificadas como intolerância ou desinformação. Essa assimetria não é acidental. Trata-se de uma estratégia calculada de controle narrativo. O globalismo, mais do que um fenômeno econômico, é um projeto cultural e político que busca uniformizar padrões de pensamento, relativizando tradições nacionais e impondo parâmetros ideológicos.

Para isso, precisa reduzir ao silêncio as vozes que se opõem a esse processo, e nada mais eficiente do que aplicar rótulos morais contra quem questiona. É nesse ponto que a frase de Olavo de Carvalho ganha caráter profético: “A esquerda move contra a direita uma crescente e bilionária guerra de extinção enquanto a direita não lhe opõe senão uma polida concorrência democrática. É uma luta de assassinos contra idiotas”.

O que Olavo denunciava não era apenas uma desproporção de forças, mas uma diferença de estratégia. A esquerda global, com acesso a fundos bilionários de fundações, organismos internacionais e governos simpáticos à sua agenda, transformou o combate ideológico em uma verdadeira guerra de eliminação. Já a direita, presa ao ideal da concorrência dentro das regras democráticas, não percebeu que as regras do jogo haviam mudado. O resultado é um embate desigual, onde de um lado se utilizam todos os recursos — censura, cancelamento, perseguição judicial, ataques midiáticos e até violência física, e do outro, predominam respostas tímidas, “polidas”, ancoradas numa fé excessiva na institucionalidade..

É claro que a democracia não pode se converter em guerra aberta, mas ignorar que a disputa política assume contornos de guerra assimétrica é fechar os olhos para a realidade. Quando a censura se torna rotina, quando líderes conservadores sofrem atentados e quando cidadãos comuns têm medo de expressar opiniões por receio de sanções, não se trata mais de uma competição democrática: trata-se de uma luta pela sobrevivência política e cultural.

O uso das categorias “discurso de ódio” e “fake news” pela nova ordem mundial revela exatamente isso: uma arma semântica com poder de deslegitimar adversários, antes mesmo que possam apresentar seus argumentos. Trata-se de um processo de sufocamento lento, mas calculado, que vai desde a exclusão digital até a exclusão física. Nesse contexto, a advertência de Olavo ecoa com força redobrada: ou a direita entende que está diante de uma guerra de extinção ainda que travada sob formas disfarçadas—, ou continuará a desempenhar o papel de “idiota útil”, incapaz de perceber que, enquanto acredita disputar eleições, seu adversário disputa o próprio direito de sua existência.

O desafio está lançado: a direita precisa decidir se continuará a agir como concorrente em um jogo democrático que não existe ou se assumirá a gravidade da guerra que lhe foi imposta. O futuro da liberdade de expressão, da pluralidade política e das
nações que resistem ao globalismo depende dessa escolha. O assassinato cometido, agora, contra o líder da direita americano Charlie Kirk, mostra que não se pode mais tratar com luvas de pelica aqueles que só conhecem o uso de luvas de boxes, reforçados com pregos. Há quem veja que pode, detrás desse nevoeiro escuro, luzes e ventos vindas de longe, lá da região dos Himalaias, ser capaz de inspirar aqueles que entendem de coisas como a liberdade.

 

A frase que foi pronunciada:
“Não se pode condenar por violência simbólica”.
André Marcília

André Marsiglia, colunista da Brasil Paralelo

 

Escorregador
Veja, a seguir, as fotos do escorregador do parquinho da 214 Norte. Desleixo total com a meninada da região.

Foto: arquivo pessoal

 

Foto: arquivo pessoal

 

História de Brasília
O Correio Braziliense publicou ontem uma nota dizendo que o governo da Alemanha Ocidental proibiu à fábrica Volkswagen aumentar os preços dos seus carros. Mas isto não é nada não, porque no Brasil eles tiram a diferença. (Publicada em 9/5/1962)

Via sem retorno próximo

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Foto: ogritonews.com

Há episódios que condensam, num único gesto, o cansaço de uma população inteira. O caso do proprietário do restaurante Dom Léon na 112 sul, que reagiu a uma tentativa de invasão e matou o ladrão que avançava contra seu lar e sua esposa, tornou-se, em poucas horas, mais do que um crime noticiado: virou um símbolo. Esse e tantos outros mais atuais são símbolos de um esgotamento moral que atravessa todas as classes sociais, da indignação que já não se limita aos grupos de mensagens, mas transborda para as ruas digitais, onde milhares se manifestam em apoio ao comerciante que ousou fazer aquilo que o Estado, por inércia, recusa-se a fazer: defender. A polícia prende, o juiz solta.

Entre fotos de pratos e relatos da clientela, as redes sociais do Dom Léon transformaram-se num fórum improvisado, onde se deposita não apenas solidariedade, mas também uma acusação difusa contra os que terceirizaram a segurança pública ao improviso. O contraste é grotesco: quem trabalha, cria empregos e mantém a dignidade de portas abertas vê-se algemado e levado à delegacia, enquanto quem rouba, quando sobrevive, costuma voltar brevemente às ruas para cometer novos crimes, digno de piedade, com apoio de psicólogo do Estado e advogado pago pelo erário. A fiança de oitocentos reais paga pelo dono do restaurante não é só o preço burocrático da liberdade: é o recibo de uma inversão de valores que trata o trabalhador armado de coragem como se fosse o delinquente e o delinquente como se fosse o verdadeiro injustiçado. Não faltam oportunidades para melhorar de vida. Mas a lacuna educacional dificulta cada passo. Mais uma vez, apesar dos impostos, não há investimentos do capital humano.

Em casos onde os bandidos são surpreendidos, talvez o que mais venha a revoltar tantos brasileiros não seja apenas o crime em si, mas o que ele representa: a completa naturalização de uma rotina de medo. Não se trata mais de casos pontuais ou de violência episódica. Trata-se de um estado de sítio informal, uma resignação coletiva em que cada família se torna refém da estatística, sabendo que poderá ser a próxima. O restaurante, que deveria ser um lugar de convívio, sustento e partilha, converte-se em trincheira improvisada, cada comerciante num vigia relutante que paga impostos a um poder público que só aparece para multar, taxar ou condenar.

O episódio não se explica apenas pelo contexto imediato, mas por um processo mais longo e corrosivo. Durante anos, parte das autoridades preferiu minimizar a criminalidade, tratando o problema como uma “questão social”, passível de retórica e seminários. Enquanto isso, a população comum coleciona boletins de ocorrência, câmeras de vigilância, grades nas janelas e medo noturno. No fundo, a comoção que se viu não é apenas pelo dono do restaurante, mas pelo pressentimento de que todos poderíamos estar em seu lugar. A indignação, nesse sentido, não é apenas moral, mas existencial: o brasileiro médio percebeu que sua vida vale menos que o discurso oficial. São muitos os brasileiros que saem de casa para o trabalho sempre com a sensação que talvez não voltem.

São crimes em todo o DF onde a reação popular é imediata e quase unânime. Uma espécie de plebiscito informal: milhares de comentários nas redes sociais, do cidadão anônimo ao pequeno empresário, dizendo que não suportam mais o constrangimento de pedir licença para existir. O caso do Dom Léon deixa explícito que a sociedade civil tão difamada por quem insiste em vê-la como “massa ignorante” ainda conserva algo que o Estado perdeu: senso de justiça.

O episódio do Dom Léon não deveria ser tratado como exceção, mas como sintoma. Um sintoma de que chegamos ao ponto em que a paciência do cidadão comum, aquele que trabalha e paga todas as contas, esgotou-se. O apoio quase unânime que se viu é mais do que solidariedade. É um recado, um basta coletivo ao desamparo. É o aviso de que o povo cansou de ter vergonha de viver, de ter medo de existir.

Chama atenção que, entre as milhares de manifestações de solidariedade, muitos brasilienses tenham encontrado uma forma simples de se posicionar: prometem frequentar o Dom Léon, consumir seus pratos e manter acesa a chama que, por ora, o Estado parece empenhado em apagar. A clientela diz, em uníssono, que há gestos que transcendem o comércio e que ocupar uma mesa de restaurante pode se converter, silenciosamente, em um ato de desagravo. Cada visita planejada carrega algo maior do que o simples apreço pela gastronomia local: carrega o reconhecimento de que quem protege seu lar merece, ao menos, o benefício da dúvida — e, se possível, o calor discreto de uma casa cheia.

Tem havido algo de reconfortante nessa mobilização pacífica, nesse desejo quase instintivo de retribuir coragem com presença, dignidade com afeto econômico. Entre as linhas de cada comentário de apoio, há uma torcida muda para que o Dom Léon prospere, não apenas como restaurante, mas como lembrança viva de que a sociedade civil, por mais exausta que esteja, ainda sabe distinguir o justo do arbitrário. Se a omissão virou rotina e a covardia se fantasiou de protocolo, resta ao cidadão comum essa forma modesta de resistência: sentar-se à mesa, consumir com respeito e, sem alarde, afirmar que não desistimos por completo uns dos outros.

 

 

A frase que foi pronunciada:

Poder e violência são opostos; onde um reina absoluto, o outro está ausente. “A violência surge onde o poder está em perigo, mas, deixada à própria sorte, termina com o seu desaparecimento.”

Hannah Arendt

Hannah Arendt. Foto: brasil.elpais.com

 

História de Brasília:

O nome empregado na maioria dos golpes foi do servidor Barros de Carvalho, e os chantagistas conheciam tanto seus hábitos, que falando pelo telefone para sua residência, recomendavam com insistência para que quando fizessem a mala não esquecessem dos remédios. (Publicada em 06.05.1962)

Acabando o mal pela raiz

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Foto: Diego Indriago/Pexels

Segundo estimativas do Sindhobar, hoje, há mais de 12 mil bares e restaurantes em todo o Distrito Federal. Entre eles, aproximadamente 8 mil são bares onde são vendidos bebidas alcoólicas e tira-gostos para uma clientela crescente, que inclui desde jovens até idosos, todos apreciadores, moderados ou não, de bebidas destiladas ou fermentadas.

O que, à primeira vista, parece apenas uma recreação para a população esconde um fato nada saudável e, o que é pior, devastador para a saúde pública e para a segurança da cidade. Bebidas alcoólicas não podem, ou jamais deveriam ser, consideradas como recreação. Mesmo sabendo que esse setor do comércio responde por mais de 100 mil empregos diretos e indiretos, não é segredo nenhum que o consumo de álcool é um dos maiores responsáveis pela violência, pela desagregação familiar e por uma série de problemas que só terão solução satisfatória quando a população se conscientizar de que o que parece ser uma espécie de brincadeira, ou passatempo dos indivíduos é, na realidade, ou uma chave de cadeia, ou um prego de caixão, ou uma cama de hospital, ou de um hospício.

Se hoje os brasileiros bebem demais, os brasilienses bebem muito mais e com maior frequência. Talvez isso explique o fato de que os bares e os botecos se multipliquem como moscas em nossa cidade. O Distrito Federal experimenta uma febre de alcoolismo que não distingue os personagens, tenham eles casas para morar, ou estejam em situação de rua. Todos bebem e bebem muito. Paralelo a esses estabelecimentos, não é difícil encontrar, misturados aos consumidores, traficantes de drogas de todo o tipo e para todos os bolsos. Onde quer que existam aglomerações de bares, o sossego dos moradores é perturbado, a segurança, comprometida e toda área em torno se transforma em terra de ninguém.

Os moradores de locais próximos aos bares conhecem essa realidade de perto e não se atrevem mais a reclamar contra os proprietários desses estabelecimentos ou registrar ocorrências em delegacias. Ligar para a polícia, nesses casos, é perder tempo. Depois de encherem a cara, os beberrões saem sem rumo, urinando onde querem, brigando e fazendo arruaças sem temor algum das autoridades. Depredam o que encontram pela frente, pois tudo isso para eles é diversão. Álcool e violência generalizada têm andado de mãos dadas nesses últimos anos, aumentando as ocorrências policiais e as ocupações de leitos em hospitais.

Os estragos trazidos pelo consumo exagerado de álcool têm provocado, como não poderia ser diferente, prejuízos incontáveis à economia da capital. O GDF, que, durante muito tempo, fez cara de paisagem ante o problema, resolveu agora, diante que uma situação que escalou para o patamar de calamidade pública, tomar as primeiras providências no sentido de abrandar um problema que não para de crescer. Portaria baixada pelo governo da capital restringe o horário de funcionamento dos distribuidores de álcool em toda a região. Pelo documento, os estabelecimentos só poderão funcionar das 6h à meia-noite. Trata-se de um primeiro passo no sentido de minorar esse problema, mas ainda não é ideal.

O certo, para muitos moradores que vivem esse drama de perto, seria o fechamento dos bares juntamente com o comércio: às 18 horas. Toda essa preocupação tardia do GDF faz algum sentido quando se verifica que o Distrito Federal ocupa, hoje, o segundo lugar no ranking nacional de consumo excessivo de álcool, perdendo apenas para Salvador, na Bahia. Não apenas os adultos bebem muito, como cada vez mais esse hábito é visto também entre os jovens.

Pelos levantamentos da Secretaria de Saúde, mais de 25% dos adultos bebem regularmente, o que é considerado um índice preocupante. Outros dados mostrados no último levantamento indicam que, dos 135 homicídios ocorridos em janeiro e fevereiro deste ano, quase 25% ocorreram próximos aos estabelecimentos de venda e consumo de álcool.

Para os mais radicais, o simples fato de o consumo de álcool induzir casos de violência diversos, como homicídios, abuso sexual, uso de armas, furto, violência doméstica e tantos outros, seria suficiente para a decretação até mesmo de uma lei seca em todo o Distrito Federal, acabando com o mal pela raiz. É como dizem: “Bebida não traz felicidade, apenas traz mais dinheiro para quem vende”. Talvez o dia em que os proprietários desses estabelecimentos forem obrigados a custear o tratamento médico para seus clientes ou as custas processuais dos crimes cometidos por eles, a situação chegue a um bom termo.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“A pior e mais devastadora doença da humanidade é o alcoolismo. A bebida, como droga lícita, é incentivada pelo marketing, glamourizada pelos meios de comunicação, pela música, e sinal de status social, em algumas culturas.”
Guto Maia

Guto Maia, neurocientisa. Foto publicada em seu perfil oficial no Facebook.

 

Roleta-russa
Perfeitamente perceptível que quem resolveu instalar os pardais ao longo da DF-005 não conhece a área em absoluto. Se conhece, a intenção é arrecadar. Não fazem sentido tanta variação de velocidade no percurso e imposições totalmente descabidas.

 

Ponto cego
Quem aguarda o ônibus na parada da plataforma superior da Rodoviária, sentido Asa Norte, é impedido de visualizar a vinda do transporte. Um totem de comercial, mal localizado, atrapalha a visão dos passageiros, forçando a chegar mais perto da pista para enxergar o próximo veículo.

Foto tirada por Ediane M.

 

História de Brasília

Há uma onda de moscas em Taguatinga. Isso é resultado da falta de higiene nos bares e restaurantes. (Publicada em 29/4/1962)

O descaso em forma de violência

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Charge do Duke

 

Repensar a democracia no Brasil, suas virtudes e vícios, talvez seja o principal desafio a ser enfrentado em nosso tempo por todos aqueles que, de uma forma ou de outra, desejam o bem do país, a pacificação da nação e, sobretudo, um futuro menos distópico para as próximas gerações.

De fato, pelo que temos assistido até aqui, não há, por parte do Estado, nem vontade, nem iniciativas que busquem um verdadeiro projeto para o Brasil. Talvez, por isso, o tão sonhado país do futuro vai, como em outras ocasiões, sendo postergado. Afinal, pensar o país fora da bolha política e em total sintonia, como deseja a maioria da população, virou uma espécie de ultraje aos que desejam a manutenção do status quo. Nem mesmo nas universidades, berços do pensamento, observa-se iniciativas sinceras devotadas a pensar o Brasil. Permanecemos naquele limbo de dúvidas, com a única certeza de que existe um projeto para o país que aponta sempre para o atraso e o descaso.

A perversidade herdada de tantos séculos de escravidão e exploração do homem pelo homem moldou entre nós uma classe dominante e política insensível a questões como as desigualdades. Uma elite incapaz de se situar dentro do Brasil real. Observe, como exemplo desse desdém pelo país, a reunião entre os governadores e o atual presidente para tratar de um plano de segurança, a fim conter, segundo o governo, o avanço contínuo do crime organizado sobre a estrutura do Estado. Se houvesse, de fato, um projeto para o Brasil, esse teria começado lá atrás, quando problemas dessa natureza estavam apenas dando seus primeiros passos.

Há décadas, o educador Darcy Ribeiro alertava para o crescimento desse problema: “Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios.” De lá para cá, a situação da violência em nosso país foi num crescendo tal que, hoje, o governo busca soluções milagrosas e ainda enviesadas de ideologias para resolver um problema que parece ter crescido para além das possibilidades de o Estado resolver.

Talvez tenhamos, nos últimos anos, mais presos nas celas que existem ou construído mais presídios do que universidades e escolas. Isso é uma anomalia que não tem fim. Estamos fadados a correr eternamente atrás do rabo, como um cão endoidecido, consertando a fechadura depois de ter a porta arrancada. Reuniões como a ocorrida nesta semana no Palácio do Planalto mostram que, além das pantomimas habituais, o cerne do problema escapa das mãos dos políticos, como areia fina.

Ao mesmo tempo em que presídios de segurança máxima são erguidos, o Estado, pelas mãos de seus magistrados, libera o uso das drogas, um dos principais insumos para mover a máquina do crime organizado. Boa parte de nossas metrópoles ostenta hoje periferias que são áreas controladas por uma criminalidade fortemente armada e que não aceita a intromissão do Estado. Nessas periferias onde mandam as quadrilhas, as escolas foram transformadas em zonas de alto risco para os professores, com o tráfico de drogas correndo solto e todo o tipo de violência.

Ciente dessa questão, muitos governadores buscaram, no modelo de escolas militares, uma solução exitosa para fazer com que esses estabelecimentos funcionassem com um mínimo de eficácia. Educação não se faz sem um mínimo de disciplina. Muitas mães de alunos aprovaram o modelo, mas o Estado, por questões ideológicas, achou por bem pôr um fim nessas escolas, sem ouvir os contribuintes, retornando ao modelo antigo no qual os alunos mandam. E pensar que existe país pelo mundo que transforma antigos presídios em escolas ou hospitais, por absoluta falta de meliantes para prender. Acreditar que a maioria dos políticos resolverá o problema de violência em nosso país é persistir na ilusão. O descaso é também uma forma de violência e uma derrota para todos. Diante de uma situação que tomou proporções continentais, o que temos que fazer agora é buscar meios para que, num futuro breve, não tenhamos que negociar diretamente com uma espécie de Estado paralelo governado por facções do crime.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“A escola é uma prisão onde se aprende a ser livre”
Quintino Cunha

 

Errei
Na última quinta-feira (31/10), cometi dois erros. O primeiro é referente ao número de mortos no rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, que foram 19 no total. O outro é referente a Fundação Renova, que continua ativa, e não extinta como diz no texto. Veja mais detalhes do assunto a seguir.

–> Conforme previsto no acordo de repactuação, a transferência das iniciativas executadas pela Fundação Renova para a Samarco será feita de forma gradual e planejada em até doze meses, com aproveitamento do conhecimento das equipes da Fundação. As ações realizadas pela Fundação Renova, que passam a ser obrigação de fazer da Samarco no âmbito da repactuação, seguirão em andamento.

A Fundação Renova informa que até setembro de 2024 foram destinados R$ 38,2 bilhões às ações de reparação e compensação. Desse valor, R$ 15,05 bilhões foram para o pagamento de indenizações e R$ 2,99 bilhões em Auxílios Financeiros Emergenciais, totalizando R$ 18,04 bilhões em 447,2 mil acordos. Ações integradas de restauração florestal, recuperação de nascentes e saneamento estão acontecendo ao longo da bacia e visam à melhoria da qualidade da água.

Att,

Assessoria de Comunicação
imprensa@fundacaorenova.org
www.fundacaorenova.org

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A Fundação Renova preza pela qualidade de vida e incentiva a realização das atividades dentro do horário de trabalho. Por isso, se você receber mensagens fora do expediente, sinta-se à vontade para responder quando voltar as suas atividades. . AVISO – Esta mensagem contém informação para uso exclusivo do nome endereçado acima. Ela pode ser reservada, confidencial ou altamente confidencial. Se você recebeu esta mensagem por engano, comunicamos que a disseminação, distribuição, cópia, revisão ou outro uso desta mensagem, incluindo anexos, é proibida. Favor avisar-nos retornando este e-mail e destruindo esta mensagem, incluindo anexos. NOTICE – This message is intended only for the use of the addressee(s) named herein. It may be reserved, confidential or highly confidential. Unauthorized review, dissemination, distribution, copying or other use of this message, including all attachments, is prohibited and may be unlawful. If you have received this message in error, please notify us immediately by return e-mail and destroy this message and all copies, including attachments.”
Fundação Renova – Documento Publico

 

Portas abertas
Centenas de pessoas de Goiás e Brasília com o sobrenome Chaves articulam um grande encontro para os próximos meses.

Foto: picapauentalhes.com

 

Inovação
Abertas as inscrições pela Biolab, até 15 de novembro, para startups com soluções inovadoras para a saúde. É uma grande oportunidade para as universidades com pesquisas de ponta que têm a oferecer propostas efetivas desde o papel da IA e novas oportunidades na jornada médica, soluções em softwares para otimização do desenvolvimento. No blog do Ari Cunha, o assunto com detalhes.

 

História de Brasília
“Na Universidade de Brasília, um tapeceiro chegou para cobrir a parede. O mestre de obras disse que a parede não havia sido levantada. Sente aí e espere um pouco.” (Publicada em 21/41962)

Articulação e convencimento

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Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

 

          É notório que a instalação de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) sempre traz embaraços para o governo, pois quer queira, quer não, acaba despindo o Executivo e colocando-o no olho do furacão. A depender do Palácio do Planalto e do poder de articulação e de convencimento, por meio de liberações de recursos, nenhuma CPI merece ser instalada.

          Como isso nem sempre é possível, mas cabe ao governo se preparar para a possibilidade de o Congresso vir a instalar, não uma, mas cinco Comissões de investigação, conforme informam os principais jornais do país. Nem é preciso dizer aqui que as CPIs, por sua enorme capacidade de bisbilhotar as andanças do governo, conferem ao Legislativo e, sobretudo, aos presidentes das duas Casas, um poder e um instrumento legal extra não só para fustigar o chefe do Executivo e toda a sua equipe, como permite ainda a abertura forçada de canais de negociação dos mais diversos.

         Mesmo sem saber ainda quais CPIs serão instaladas e quando, o certo é que um dessas Comissões irá voltar suas luzes para a delicada questão do crime organizado e todas as suas repercussões. Essa certeza se dá pelo fato de que a violência, conforme todas as pesquisas demonstram, tem crescido assustadoramente, com o aumento exponencial no número de homicídios, tráfico de drogas, roubo a bancos e a carros fortes, preocupando, sobremaneira, governadores e prefeitos por todo o país.

         O fato de a Justiça soltar presos quando a polícia indica a prisão atinge diretamente a paz da população. Exemplo no Recanto das Emas, quando um homem que tinha dezenas de passagens pela polícia estava solto e matou um homem que comprava comida para a mulher que tem câncer e o esperava em casa. Os fatos vão de encontro com a afirmativa de um ministro que apelou para o lado cristão das saidinhas. A diferença é que Dimas se arrependeu de todo o mal que havia feito. Esses bandidos passam longe do arrependimento, mesmo porque não existe empatia com ninguém, não mudam a conduta, nem mesmo o pensamento. Tantos outros crimes poderiam ter sido evitados se houvesse razão para se arrepender. Mas não há. Os casos de vítimas que choram seus entes queridos assassinados contrastam com a liberdade de seus algozes. Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, disse que essa situação só mudaria se os juízes passassem por uma experiência como a que ela passou. Segundo ela, os juízes não podem julgar essa dor se nunca sentiram.

         Se for instalada apenas a CPI tratando do aumento da criminalidade em todo o país, o barulho e os holofotes sobre o governo serão imensos para a imagem do governo, podendo afetar, seriamente, outras pautas de interesse do Executivo. Para piorar essa situação, é sabido que, em época de eleições, tudo o que o governo pretende é se ver fora de confusões e acusações. Para aqueles que irão trabalhar nessa Comissão, a oportunidade de exposição na mídia é tudo o que necessitam para seus currículos. O fato visível e que interessa aos que só têm poder de voto é que o aumento da criminalidade requer providências urgentes. O espraiamento dos crimes organizados nas instituições do Estado hoje é uma realidade das mais perigosas e que precisam ser debeladas o quanto antes.

         Todos os dias, o noticiário vem mostrando que as organizações criminosas brasileiras, à semelhança do que ocorre com as máfias internacionais, diversificaram suas atividades ilegais, investindo grandes somas no controle dos transportes urbanos, na limpeza, na distribuição de gás e energia elétrica, entre outros setores, que antes eram controlados apenas pelos estados.

         Além desse enraizamento em atividades dos estados, o crime organizado investe pesadamente também nas campanhas dos candidatos de sua preferência, penetrando, silenciosamente, no Poder Legislativo, de onde pode vir a dar as cartas, favorecendo as atividades criminais. Além desses crimes, a CPI que poderá cuidar da segurança pública e do aumento das organizações criminosas poderá direcionar seus holofotes para questões ainda mais espinhosas como o tráfico infantil, a exploração sexual, a venda de sentenças, a soltura de criminosos de alta periculosidade pelos tribunais, entre outros assuntos.

         Ainda dentro das investigações dessa CPI, por certo, haverá brechas para que se investigue também o, ainda vivo e atuante, sistema de corrupção, que assola nossas instituições públicas e que é diretamente responsável por todo esse caos instalado em nosso país. Mas tudo vai depender da escolha do relator.

 

A frase que foi pronunciada:

“O MP é parte. O nosso lado é o da sociedade, é o lado da vítima. O réu, com todos os direitos humanos e respeitos que deve ter, tem que ser firmemente apontada a sua responsabilidade e levado aos tribunais superiores para que a sua condenação seja mantida e não gere na sociedade essa sensação de impunidade. Isso desanima as forças policiais, o Ministério Público e o sistema de Justiça.”

Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, Procurador-geral de Justiça de São Paulo

Paulo Sérgio de Oliveira e Costa. Foto: MPSP / Divulgação

 

História de Brasília

O sr. Baeta Neves convidou o sr. Leonel Brizola para se candidatar a deputado ou senador por Brasília. Ainda não foi decidido se haverá eleição em Brasília, e os “donos dos votos” já começam a se manifestar. E o povo? (Publicada em 06.04.1962)

Espadas em arado

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Foto: conexaoplaneta.com

 

Quem, por acaso, conhece o livro de Jean Giono (1895-1970), “O homem que plantava árvores”, de 1953, por certo, leu com a frase: “(…)os homens poderiam ser tão eficazes como Deus em algo mais que a destruição.” Com isso, o autor quis dizer que os homens poderiam, se assim dispusessem, imitar o Criador, erguendo e cuidando de todas as formas de vida sobre a Terra, e não destruindo e reduzindo a cinzas como faz a morte, ao deixar escombros e aridez por onde passa.

A observação de Jean veio a propósito da incansável atividade de Elzéard Bouffier, o personagem principal, que, durante a maior chacina de nossa história, representada pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918), continuava, dia após dia, plantando carvalhos numa região agreste dos Baixos Alpes Franceses, já abandonada pela população local, devido ao desmatamento secular promovido pelos carvoeiros naquela região.

O contraste entre quem cuidava de recuperar a vida da região e o morticínio irracional da Guerra de 14/18, é flagrante e mostra, de forma crua, como os homens podem, ao mesmo tempo, abandonar de lado a vida em sua plenitude e seguir os passos da morte, mesmo sabendo dos resultados dessa opção. O texto chegou ao Brasil, em forma curta em animação, dirigido por Frédéric Back. Laureado pelo Oscar, Annecy, Festival de Animação de Hiroshima e Festival Internacional de Ottawa.

Cada vez mais atual, justamente por mostrar a capacidade do ser humano em mudar o mundo ao seu redor, tanto para o bem como para o mal. Nesses tempos em que o nosso planeta experimenta, por meio do fenômeno do aquecimento global, o que talvez seja o seu maior desafio de todos os tempos, e que pode ser um fim à existência da própria espécie humana na Terra, nada mais hodierno e premonitório do que as mensagens contidas nesse texto escrito ainda no século passado.

Buscar o exato significado para as árvores, num tempo em que ainda se acredita não existir nenhum, é uma tarefa e um desafio que pode nos colocar, hoje, entre permanecer por essas paragens ou ter que sair de fininho para outros mundos para não perecer. O desafio gigante que, na obra, é realizado por um só homem, durante mais de 30 anos em que plantou naquela região milhões de árvores, pode ser uma das respostas para esse dilema da atualidade.

Embora pareça uma tarefa impossível, recuperar o planeta da degradação imposta pelas consequências da Revolução Industrial em sua ânsia por adquirir matérias-primas, o livro mostra que bastou a persistência de apenas um indivíduo para mudar a realidade local. “Um único homem, reduzido a seus recursos físicos e morais, foi capaz de transformar um deserto em uma terra de Canaã”, diz o autor.

O que conhecemos hoje através da palavra muito em moda como resiliência, que é a capacidade de resistir e se adaptar às mudanças, tanto pode ser aplicada ao homem como à própria natureza, desde que lhes sejam ofertados a oportunidade. A esse fenômeno, que muitos classificam como um sinal e uma semente da própria vida, é que pode estar a redenção, ou não da humanidade.

Obviamente que os exemplos a seguir não devem se resumir à uma obra de ficção. Mas podem nela inspirar para promover as mudanças necessárias e urgentes que o momento exige. Toda grande obra tem seu início apenas movido pela inspiração trazida pelos belos exemplos, sejam eles reais ou não. O primeiro passo é o das ideias, dado ainda no mundo abstrato dos projetos mentais. Pode vir a ser realidade concreta, pelo esforço físico, o que é uma mera consequência da capacidade de pensar. Nesse caso pensar num mundo em que a vida seja ainda uma possibilidade real e que valha a pena.

Da África, talvez o continente economicamente mais sofrido e espoliado na história da humanidade vem um dos muitos e bons exemplos que precisamos para nossa salvação futura. Como descrito em Isaías: “Ele julgará entre as nações e solverá as contendas de muitos povos; e estes converterão suas espadas em lâminas de arado, e as suas lanças, em foices; uma nação não mais levantará sua espada contra outra nação, nem será necessário que se preparem para batalhas.”

Na Etiópia, um dos países mais populosos e pobres daquele continente, o governo empreendeu uma jornada em que, em apenas 12 horas, uma força-tarefa, atuando em mais de mil áreas daquele país, conseguiu a façanha de plantar mais de 350 milhões de árvores. Um recorde mundial. Também a Índia, castigada pelos desflorestamentos, vem empreendendo um grande esforço para recuperar, ao menos uma parte de suas florestas. Na última empreitada, 800 mil voluntários plantaram mais de 50 milhões de árvores e prosseguem plantando. Na China, parte ociosa do que seria o maior exército do planeta tem sido deslocada para a mesma tarefa no Norte do país. São mais de 60 mil soldados empenhados nessa tarefa. Os fuzis cedem lugar às ferramentas agrícolas.

São esforços pontuais, mas que podem fazer a diferença num futuro não muito distante. Cientistas acreditam que, pelo estágio atual de degradação do planeta, será preciso, ao menos, o plantio de mais de 1,2 trilhão de novas árvores, apenas para arrefecer a Terra e livrá-la dos efeitos maléficos do aquecimento global, que já está atuando entre nós. A situação, que é bem do conhecimento dos técnicos das Nações Unidas, tem estimulado ações dessa Organização, com vistas a um projeto, já em andamento, cuja meta é plantar 4 bilhões de novas árvores nos próximos anos.

Por todo o mundo, projetos semelhantes estão em andamento, uns ambiciosos e outros mais modestos, mas já são de grande valia em seu conjunto. De todos os projetos de plantio de árvores pelo planeta, nenhum é mais ambicioso do que o vem sendo erguido nas bordas do grande deserto do Saara, também na África. Em nenhum lugar do planeta as mudanças climáticas são mais impactante do que as que ocorrem nos países margeados por esse grande deserto. O deserto vem aumentando de área num ritmo assustador nos últimos anos. Com ele, vem o clima cada vez mais inóspito à vida. Com temperaturas que ficam numa média próxima aos 50 graus centígrados. Com esse fenômeno, vem também a escassez de água, cada vez mais assustadora e já motivo de conflitos permanentes na região. Financiado pelo Banco Mundial, a União Europeia e as Nações Unidas, projeto unindo vários países locais, ergueu uma gigantesca barreira verde de árvores, que irá cobrir uma área de mais de 8 mil quilômetros, atravessando todo o continente africano na parte sul do deserto do Saara, formando uma enorme muralha para conter o avanço da areia. A meta é erguer essa Grande Muralha Verde até 2030, cobrindo com reflorestamento uma área de 247 milhões de acres ou aproximadamente 100 milhões de hectares.

Em nosso mundo, em todo o tempo e lugar, sempre existiram homens movidos pela paixão de plantar árvores, como se recebessem essa missão diretamente das mãos de Deus.

 

A frase que foi pronunciada:

“Mesmo se eu soubesse que amanhã o mundo iria desmoronar, eu ainda plantaria minha macieira.”

Martinho Lutero

Imagem: bibliaeteologia.com

 

História de Brasília

O dr. Sávio Pereira Lima, diretor do Departamento Administrativo da Fundação Hospitalar, acaba de ser nomeado diretor do Departamento Hospitalar. É uma garantia para os que desejam ver construídos os hospitais das cidades satélites, e dos nucleos rurais.

Hora de agir

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Foto: jornaldebrasilia.com.br

 

Segundo lição aprendida por aqueles que tiveram treinamento em guerra de selva, talvez o mais traiçoeiro e mortal de todos os combates, é preciso ficar muito atento aos movimentos do inimigo em seu raio de ação. Assim é dito e repetido: “Se o inimigo avança, nós recuamos. Se o inimigo recua, nós avançamos. Se o inimigo para, nos aquietamos”.

Como numa caçada ao rato, toda estratégia e todo ardil são necessários para pegá-lo no momento exato. Por certo, as forças de segurança conhecem essas lições. O problema aqui é que o inimigo, nesse caso aqueles que infernizam, dia e noite, a maior parte da área central da capital, continua a praticar os crimes de roubo, assalto, tráfico de drogas e outras delinquências, transformando essa parte da cidade numa verdadeira selva, habitada por feras de todas as espécies.

A insegurança e o medo são os sentimentos comuns a todos que são obrigados a transitar pela Rodoviária do Plano Piloto e por boa parte da extensa área que circunda essa região. O enorme perímetro urbano, no sentido Leste/Oeste, abrangendo desde a Catedral até ao Centro de Convenções e no sentido Norte/Sul englobando os Setores comerciais e bancários, está, literalmente, tomados por marginais e moradores de rua, que não só perderam o medo de polícia e da prisão, como fazem questão de afrontá-los, certos da impunidade e da pouca efetividade da Justiça.

Também o estado de euforia e coragem, induzido pelo consumo de drogas, dá a esses marginais o falso sentimento de poder e destemor, o que complica, ainda mais, toda essa situação.

Um levantamento elaborado pelo Observa-DF, pesquisa vinculada à Universidade de Brasília (UnB), indica que mais de 60% da população percebem aumento da criminalidade no DF. A pesquisa aponta para a mudança de comportamento vinculada ao medo. Especialistas no assunto já recomendaram aos órgãos de segurança que estabeleçam, na própria Plataforma da Rodoviária, o amplo e moderno centro de monitoramento fixo, com câmeras de última geração, para servir como central de comando e coibir o avanço da criminalidade. O que esses especialistas acreditam é que, tendo a Rodoviária como centro de comando diuturno dessas operações, cobrindo um raio de aproximadamente 5 Km, toda essa região possa voltar a ficar em paz e sobre o controle das forças de segurança, permitindo que essa área, tão nobre da capital, recupere esses espaços para os cidadãos pagadores de impostos.

É preciso lembrar ainda que o abandono de inúmeros imóveis, inclusive prédios inteiros, contribuem para a criação de espaços fantasmas, que são
imediatamente ocupados por moradores de rua e desocupados em geral. Nesse ponto, é preciso ressaltar também que o Teatro Nacional, talvez a obra mais importante da capital, do ponto de vista cultural, por sua situação de completo abandono, é mais um motivo para o processo de decadência dessa região.

Não custa chamar a atenção para o fato de que essas áreas são ainda o cartão de visita de Brasília, visitado por inúmeros turistas, que enxergam essas paisagens apenas pelas janelas dos ônibus fretados. Não por outra razão, os hotéis alertam aos que chegam à cidade para não andarem sozinhos, não portarem joias e bolsas chamativas, não saírem à noite, evitarem tomar táxis e outros transportes alheios ao hotel, entre outras precauções. Todo o cuidado é pouco para circular na área central da capital, tornada agora uma região inóspita. Uma verdadeira selva urbana.

 

A frase que foi pronunciada:

“Entenda, nossos policiais colocam suas vidas em risco por nós, todos os dias. Eles têm um trabalho difícil a fazer para manter a segurança pública e responsabilizar aqueles que infringem a lei.”
Barack Obama

 

Grande alcance
Vereadores podem contar com um novo trabalho produzido no Interlegis, do Senado. O modelo de Lei Orgânica para as câmaras municipais será apresentado na Oficina de Marcos Jurídicos, um dos minicursos oferecidos para capacitar e otimizar o trabalho das casas legislativas em todo o território nacional.

Foto: Pillar Pedreira/Agência Senado

 

Uma pena
Brasília não conta mais com o delicioso croissant da padaria Portuguesa, na 509 Norte. Vidros automotivos São Cristóvão também não conseguiu se manter com tamanha carga tributária. Aos poucos, o comercio tradicional da cidade vai desaparecendo.

 

História de Brasília

O avião do dr. João Goulart, para o vôo direto Brasília-Washington, foi reabastecido em Brasília. Com o peso do combustível o avião baixou demais sobre os calços, e ninguém conseguiu tirá-los. (Publicado em 04.04.1962)

Ensaios sobre garantismo penal e criminalidade no Brasil

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Charge do Edra

 

         Quaisquer pesquisas sérias feitas junto à população apontam sempre, entre os maiores problemas do Brasil na atualidade, a questão da violência desenfreada tanto nas cidades como no campo. Afinal, a violência ceifa mais de 50 mil vidas a cada ano, apenas com base em estatísticas oficiais. Trata-se de uma verdadeira guerra civil interna que, embora não declarada, coloca o Brasil como um dos países mais violentos do planeta.

         As posições nesse ranking macabro variam a cada medição e a cada metodologia empregada nas pesquisas. Mas ainda assim, nosso país figura, seguramente, entre os vinte países mais violentos do mundo. Observe ainda que a maioria desses países listados nessas pesquisas encontram-se, literalmente, em guerras, internas ou externas. Então, se é tão séria essa questão para a população, ninguém, em sã consciência, consegue compreender a razão de o governo resolver cortar, no orçamento para 2024, mais de R$ 700 milhões para a pasta de segurança pública. Eis aí uma questão sem resposta e sem razão.

         Outro assunto intrigante com relação a esse tema está na pouca ou quase nenhuma ação eficaz do Estado, e principalmente da Justiça, em fazer valer as leis. Não é segredo para ninguém que a Justiça brasileira tem demonstrado leniência quando o assunto é punição às ações do crime, principalmente aquele alcunhado de organizado.

          Uma prova desse pouco caso é que as principais organizações do crime organizado, que atuam hoje no Brasil, de Norte a Sul, têm crescido a cada ano em número de integrantes, em poder de fogo, em ousadia e em poderio econômico e financeiro.

          Há ainda um sério complicador nessa questão que é a ramificação e mesmo o espraiamento dessas organizações dentro do Estado e dentro da máquina pública. Para o homem comum, que assiste diariamente e ao vivo, todo esse bang bang e que é pouco afeito aos fatores e às variantes relativas à questão da violência no Brasil, fica sempre uma pergunta em sua cabeça: por que os governos, todos eles, ao longo do tempo, sempre permitiram a continuação da violência e deixaram o problema chegar a um patamar de calamidade pública?

          Para questões dessa natureza, que envolvem, inclusive, outros fatores como a liberalização das drogas, a permanência de crakolândias nas principais cidades do país, entre outros elementos, a resposta pode estar, ao menos, em nível teórico em publicações do tipo: “Bandidolatria e Democídio – Ensaios sobre garantismo penal e criminalidade no Brasil”, de Diego Pessi e Leonardo Giardin, já em sua quarta edição.

          Aqui, o que os autores denominam de bandidolatria pode ser resumido pela prática corrente, sobretudo, no âmbito jurídico e penal brasileiro, de transformar o criminoso em uma pura vítima do sistema social reinante, ao mesmo tempo em que encontra brechas para culpar a vítima por ajudar na manutenção dessa desigualdade.

          É o caso aqui de lembrar a recente afirmação de uma filósofa famosa que afirmou, ao vivo e a cores, “que existe uma lógica no crime.” Para complicar uma situação que em si já é catastrófica, há ainda que mencionar a existência de um ostensivo favorecimento, por parte das elites políticas de esquerda, de certas instituições do próprio Estado, de boa parte dos acadêmicos e dos formadores de opinião, com destaque para certos veículos de comunicação.

          Para os autores dessa obra polêmica e atual, o Estado acaba sendo o principal sujeito do que chamam de “Democídio”, ou seja, contribui por sua omissão expressa, para o extermínio de dezena de milhares de cidadãos a cada ano, vítimas da violência descontrolada em nosso país. Outra questão atinente a essa obra e que é muito bem colocada pelos autores é que, para que o Brasil tenha alcançado uma posição tão destacada no ranking mundial de violência e de criminalidade, contribuíram para esse fato a relativização de conceitos e valores morais e éticos que impregna hoje grande parte das elites responsáveis pela administração do país.

          Para esses mesmos que chegam a afirmar que o conceito de democracia é relativo, a relativização da violência e da criminalidade em nosso país segue causas distantes, muitas léguas, do que seja minimamente entendido como ética pública, se inserindo mais a fundo dessa distopia de proteção, a criminalidade e aos seus atores. Nesse ponto, a criminalidade faz parceria com a corrupção. Um atuando contra a população indefesa e outro contra o Estado Democrático de Direito.

A frase que foi pronunciada:

“O sindicalismo não é socialismo. É o capitalismo do proletariado.”

George Bernard Shaw

George Bernard Shaw. Foto: wikipedia.org

 

Estranho

Interessante é que, apesar de todos os trabalhadores celetistas do Brasil terem obrigatoriamente uma conta bancária, o dinheiro da aposentadoria é depositado pelo INSS em banco aleatório, o que obriga o aposentado a abrir uma conta nesse banco desconhecido, para depois fazer a portabilidade. Essa operação não é a favor do aposentado.

Foto/Exame

 

História de Brasília

Nós, que queremos ajudar a administração do DCT, temos um caso a citar hoje. A Casa da Louça, de Itabana, Bahia, mandou uma carta, pagando 10 cruzeiros de selos para a Mercantil Garboggini Ltda, em Salvador. (Publicada em 28.03.1962)