Ânimo histórico

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

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“A ferrovia chega a Brasília: 22 de abril de 1968, fotografia, p/b, Arquivo Nacional, Fundo Correio da Manhã, Rio de Janeiro”. Cf. Brasil, Brasília e os brasileiros. Composição de aço inox da Cia. Mogiana de Estradas de Ferro, possivelmente na curva da Vila Nova Divinéia, no Núcleo Bandeirante.

 

Quando começaram a sair das pranchetas os primeiros traços que iriam definir o desenho urbano e arquitetônico da nova capital do país, sessenta anos atrás, o Brasil vivia um momento totalmente diferente do atual. A maioria das pessoas que estiveram unidas nesse projeto ciclópico de transferir a capital para o interior de Goiás, é unânime em reconhecer que o país, naqueles distantes dias, vivia um clima de grande otimismo em relação ao futuro.

Esse era, para todos, o principal sentimento a animar as pessoas naqueles dias. E foi graças a esse entusiasmo ímpar, que se apoderava de todos, é que foi possível a realização de tamanho empreendimento. Os desafios dessa empreitada eram enormes, mas a vontade parecia ser ainda maior. Não se conhece, na história recente do país, outro momento semelhante em que grande parte da nação uniu esforços e dedicação voluntária para a realização de um projeto em comum.

Mesmo sabendo que o futuro sítio, onde seria implantada a nova capital, não possuía estradas que o ligasse ao restante do país, brasileiros vindos de todos os pontos cardeais rumaram para a aventura que se apresentava com a construção de uma cidade do futuro. Para muitos, esse ânimo cívico incomum, que levantava os brasileiros naquele instante, tinha entre algumas outras explicações racionais, político e econômicas, certas interpretações extraordinárias, fundadas no esoterismo, que atribuíam à figura naturalmente magnânima e aglutinadora do presidente Juscelino Kubitschek, uma certa áurea que fazia com que ele se portasse como um profeta bíblico a guiar seu povo rumo a uma longínqua terra prometida.

Isso não quer dizer que não havia, por parte dos políticos daquela época, uma oposição ferrenha a essa ideia que era taxada, entre outros adjetivos, de lunática. De fato, fazendo uma retrospectiva dos enormes empecilhos que haviam pela frente, principalmente quando se sabe que naquele período o Brasil ainda ensaiava os primeiros movimentos em direção à construção de seu parque industrial.

As adversidades logísticas, materiais e humanas e mesmo de financiamento de um projeto desse porte eram tão imensas e aparentemente intransponíveis que o próprio presidente cuidava, pessoalmente, da divulgação dos projetos. Para a realização desse monumental projeto, JK chegou a imprimir dinheiro sem lastro (ouro) real, pois sabia que tinha apenas o tempo de seu mandato para concluir Brasília.

Por conhecer em seu íntimo as dificuldades que tinha pela frente, nesse projeto que era a própria razão de ser de seu mandato presidencial, JK vinha, constantemente durante a semana, visitar pessoalmente o andamento das obras. Algumas vezes, pelo andar apressado das horas, pernoitava na capital, seguindo no dia seguinte para a então capital federal, Rio de Janeiro, onde o ambiente político era sempre hostil e instável.

Não poder ficar muito tempo distante dessas duas capitais que fervilhavam, cada uma à sua maneira, obrigou o presidente a literalmente instalar o Poder Executivo a bordo de uma aeronave modelo Viscount, vencendo seguidas vezes a distância de mil quilômetros entre o Rio e Brasília. Uma epopeia que seguramente não se repetirá jamais.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“O número dos que nos invejam confirma as nossas capacidades.”

Oscar Wilde, escritor e dramaturgo inglês

Oscar Wilde, 1882. Courtesy of the William Andrews Memorial Library of the University of California, Los Angeles (britannica.com)

 

 

Castração

Em 2020 as castrações gratuitas de animais começam no dia 18 desse mês, na Administração Regional de São Sebastião. Antes será necessário cumprir a fase de inscrição. Basta levar RG e CPF e um comprovante de residência.

Foto: Brasília Ambiental / Divulgação

 

De olho

Moradores de 5.570 municípios, onde muitos acreditam estar a sede do Brasil real, irão voltar as urnas para escolher prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Serão milhares de candidatos, com os partidos podendo lançar até 150% do número de vagas existentes nas Câmaras Municipais.

Charge do Duke

 

Impresso já

Legendas prometem fazer chover candidatos, mesmo com o estabelecimento do fim das coligações. Com um pleito dessa magnitude, talvez um dos maiores do mundo, é claro que as atenções de todos se voltam, mais uma vez, para a questão central, e ainda não estabelecida, de modo definitivo, pelo Supremo Tribunal Federal, do uso do voto impresso pelas urnas eletrônicas.

Foto: blogdoeliomar.com.br

 

Tejo

João Doria e empresários da comunicação conversando no restaurante Tejo, em Brasília. A informação é de um leitor assíduo.

Foto: istoe.com

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

A Novacap está disposta a reaver as granjas distribuídas a pessoas que não residem em Brasília, nem nunca tomaram posse da terra que lhes foi cedida. Há muita gente importante na primeira relação. (Publicado em 15/12/1961)

Cerrado: Sem o C, de conservação, todo o resto irá dar errado

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ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

com Circe Cunha e Mamfil

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Foto: df.gov.br
Foto: df.gov.br

       Transferir a capital de um país continental, deslocando a sede administrativa da república de uma cidade já consolidada e internacionalmente conhecida, para uma área de Cerrado, distante mais de mil quilômetros para o interior, completamente desprovida de infraestrutura, foi de uma ousadia tamanha que dificilmente seria feita nos dias de hoje.

         Até o mundo se espantou com nossa coragem, mandando seus repórteres para testemunhar aquela aventura louca e sem precedentes no mundo moderno e que tinha tudo para dar errado. Naquela ocasião, os motivos relevantes evocados para esse deslocamento de sede foi o da segurança nacional, que só seriam alcançados, de fato, com a integração regional do Brasil e com a descentralização política e administrativa do país.

         Para tanto, a sede do governo federal deveria estar situada num ponto equidistante geograficamente, tornando as decisões de governo mais equilibradas, ao mesmo tempo em que se promovia o desenvolvimento da região central do país, deixada à própria sorte desde o descobrimento.

         Vencida essa etapa preliminar, depois de superar críticas e sabotagens vindas de todo o lado por aqueles que eram contrários à ideia de transferência da capital, Brasília foi consolidada, se firmando como a moderna capital de todos os brasileiros.

      Passado mais de meio século dessa epopeia, que repetia, na era moderna, o gesto de interiorização dos Bandeirantes, permanece ainda aceso o alerta sobre a questão da segurança da capital, agora não mais por motivos de invasão por tropas estrangeiras e outras razões de estratégias bélicas. A segurança hoje da capital, sua manutenção como sede do Poder central, encontra-se ameaçada por motivos internos e ainda muito mais graves do que aqueles imaginados no passado, quando o inimigo e suas intenções eram bem conhecidos.

         Hoje, o que ameaça a existência da capital é um poderoso exército formado por enormes máquinas agrícolas que já reduziu a poeira e cinzas nada menos do que metade do bioma do cerrado, transformados em imensos latifúndios para o pastoreio e para o plantio de monoculturas para a exportação. Os primeiros sinais dessa razia no campo cerrado já surgiram na forma de severa crise hídrica, que, por mais de um não, obrigou os moradores da capital a um inusitado racionamento no fornecimento de água tratada, fazendo com que o governo local buscasse alternativas emergenciais como o da captação de água do Lago Paranoá.

        A destruição contínua de matas ciliares com suas nascentes, a retirada da cobertura natural já dizimaram metade do Cerrado, principalmente das áreas no entorno da capital. Dentro do quadrilátero, desenhado ainda no século XIX pela Missão Cruls, a situação também se repete. Naquela ocasião, já destacava o geodesista belga em seu relatório, depois de 13 meses de exploração dessa região: “É exuberante a fertilidade do solo; a salubridade, proverbial; grande abundância de excelente água potável; rios navegáveis, extensos planos sem interrupções importantes; soberbas madeiras de construção de suas grandes florestas; tudo, enfim, que tem as mais estreitas relações com os progressos materiais de uma grande cidade e com o bem-estar de seus habitantes. ”

         Pudesse verificar, depois de 125 anos dessa missão, o que restou daquele paraíso natural, com certeza o grande sertanista teria se arrependido de ter aberto o caminho para a transferência da capital. De fato, a destruição de todas as áreas naturais do entorno da capital e sua substituição por lavouras exóticas, dentro do espírito de lucro máximo do agronegócio, já abriu o caminho para a inviabilização da própria capital, já que a redução dos recursos hídricos naturais tornará insustentáveis, a médio prazo, a manutenção de uma população de mais 3 milhões de habitantes.

          Se fora do quadrilátero a destruição do Cerrado para instalação de lavouras já é um fato consumado, dentro dos limites desse retângulo a coisa não é diferente. O desmatamento de imensas áreas para nela plantarem invasões desordenadas, assentadas inclusive em áreas de proteção ambiental, é também uma realidade que infelizmente vem se expandindo velozmente desde a emancipação política da capital, criando não só problemas ambientais, como sociais e econômicos incontornáveis.

         O problema com questões futuras, mesmo aquelas vitais para todo o mundo, é que não há lugar na preocupação da maioria dos políticos nacionais, obcecados apenas, com as próximas eleições.

 

A frase que foi pronunciada:

“Toda riqueza existente/Vegetal ou mineral/Não é moeda corrente/É tesouro ambiental./Não pertence a qualquer gente/Mas com o uso racional/E exploração consciente/Todos ganham por igual./”

Autoria de Geovane Alves de Andrade, no livro Embrapa Poesias elaborado no IX Simpósio Nacional Cerrado

Tirinha: capimdouradissimo.blogspot.com/
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Deságua

De madrugada, na ponte JK, sentido Plano Piloto, jorravam litros e litros d’água, enquanto a Caesb dormia. Veja no blog do Ari Cunha.

Culpa consciente

Volta e meia, a DF 005 é palco de motos de alta velocidade que colocam em risco a vida do motociclista e dos motoristas que por ali trafegam. A falta de policiamento é o que estimula o gosto pela velocidade e pelo perigo.

Lewandowsky

Comentaristas esportivos disseram que ele não fez nada que prestasse nessa Copa.

Boca miúda

Por falar em jogo, o comentário no cafezinho da Câmara era o seguinte: voto impresso deveria ser exigência não só da população, mas principalmente dos candidatos, que curiosamente permanecem silentes diante da ameaça à democracia.

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Com o aumento do salário mínimo, as utilidades que estão chegando para a venda ao público estão num preço absurdo. Absurdo, mesmo. O governo, que tem falado muito em defesa do povo, precisa agir, também. (Publicado em 25.10.1961)