Vamos para casa

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ARI CUNHA – In memoriam

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

com Circe Cunha e Mamfil;

colunadoaricunha@gmail.com;

Facebook.com/vistolidoeouvido

Foto: oglobo.globo.com

Das centenas de milhares de vídeos que vêm circulando pelo oceano humano das redes sociais e que mostram cenas de um Brasil popular que resolveu sair às ruas a partir de 2013, um, em especial, tem chamado a atenção de muita gente, principalmente daqueles brasileiros que hoje lutam desesperadamente para criar e educar filhos adolescentes, num país conturbado por divisões e manifestações políticas de toda a ordem.

No vídeo, capturado durante manifestação ocorrida nas ruas de São Paulo, um pai reconhece, em meio a turba agitada, seu filho, com o rosto parcialmente encoberto por uma espécie de balaclava improvisada feita com a própria camiseta. Sem se intimidar com a massa de revoltosos, retira o menino, à força, do meio da agitação, enquanto justifica sua ação firme: “ele é meu filho, ele é meu filho”, sai exclamando.

Diante de uma situação tão inusitada como essa, nem Salamão, com toda a sua sabedoria, conseguiria um argumento para condenar a atitude protetora desse pai.  Por instinto, pais sabem e pressentem que revoluções são alimentadas pela explosão de hormônios e que eles são combustíveis naturais para as manifestações, elevando a temperatura dos protestos ao ponto de fusão. O forte odor da adrenalina, exalada no ar pelas ruas enfurecidas, incendeia os corações dos moços que buscam uma revolução por um idealismo inconformista. Acontece que, no quebrar da esquina, as forças de segurança do Estado estão a postos, armadas até os dentes. De repente, hormônios podem ser transformados em sangue derramados pela calçada. Revoluções existem para cobrar vidas. Sempre foi assim em todo tempo e lugar.

De repente, lentes e microfones dos repórteres que cobriam a manifestação, passam a focar na discussão carregada de sentimentos íntimos entre um pai aflito e seu filho. “Eu quero um governo certo, diz o rapaz”. “Deixa eu protestar”, “Deixa eu correr atrás dos meus direitos”, argumenta o rapaz. Num gesto brusco, o pai retira a balaclava que cobria o rosto do filho e volta a dizer: “Você é meu filho, vamos para casa”.

Nessa altura, o que era uma manifestação de protesto, vira uma questão de família, incômoda, necessária e atual. Os manifestantes, diante de uma cena tão impensada como essa, começam a pedir que o pai libere o filho para que os protestos possam seguir. A revolução reclama por carne humana.  O que para alguns poderia ser uma cena de profundo constrangimento, expõe, com clareza, o drama vivido em muitos lares brasileiros, invadidos, da noite para o dia, pela propagação das ideologias do ódio, pregadas por abutres políticos que não se importam em pavimentar sua estrada para o poder com os cadáveres de muitos. Revolucionário de verdade, naquela cena, era esse pai, que teve a coragem e ousadia para a enfrentar sozinho as dezenas de manifestantes raivosos que, como robôs, gritavam palavras de ordem.

Por certo também e é seguro dizer que o rapaz tinha suas razões em protestar contra um governo que reduziu toda uma nação a pedaços. De fato, havia ardor revolucionário dos dois lados desse conflito, no entanto, o amor paterno falou mais alto e calou fundo no coração de muitos. Vamos para casa, meu filho, encerrou o pai.

 

A frase que foi pronunciada:

“A escuridão não pode expulsar a escuridão: apenas a luz pode fazer isso. O ódio não pode expulsar o ódio: só o amor é capaz disso.”

Martin Luther King Jr.

PJC

Mais um texto saboroso do professor Paulo José Cunha. Fala sobre o tempo e o boato na corrida eleitoral e as medidas pouco eficazes na luta contra essa arma digital. Leiam no blog do Ari Cunha

–> Fake news: qualquer coisa é melhor do que diabo de nada

Paulo José Cunha¹

Qualquer marqueteiro político responde na ponta da língua se lhe perguntam qual é o maior adversário numa campanha. Não dirá que é o concorrente, como seria óbvio, mas sim o tempo.  

Administrar o tempo, ter boa noção de timing, dosar na propaganda eleitoral as mensagens propositivas, de ataque ou de defesa, conforme o humor do eleitorado, são as principais responsabilidades do bom profissional de marketing. Dessa administração resultará a vitória ou a derrota. O bom profissional desenvolve um faro, um feeling, um instinto, a partir da experiência e da atenção que dá a TODOS os movimentos, internos ou externos, durante uma campanha. Esse faro tem outros ingredientes, como a compreensão exata do momento político em que a campanha ocorre, e dos acontecimentos locais, estaduais, nacionais e até internacionais que mais se destacam no noticiário. Tudo influencia os rumos de uma campanha, e precisa ser considerado na definição da estratégia. O bom profissional de marketing sabe que a campanha precisa estar sintonizada com seu entorno e com seu momento, sob pena de jogar pérolas aos porcos.

Pois é justamente na desorganização do tempo do adversário que as fake news apostam. São capazes de destroçar uma campanha vitoriosa, que vinha empinada, e que de repente pode enfiar a cara no chão. Se disparada na reta final, faltará tempo para uma fakeser desmentida e, assim, neutralizada. 

Até agora, todos os projetos em andamento para enfrentar as fake news atuam topicamente. Nenhum tem poder de conter a devastação, seja na neutralização dos mísseis de mentiras, seja na correção dos estragos, seja no indiciamento e punição dos responsáveis. Lá no futuro, quando for feito um levantamento do fato mais relevante deste século, com certeza o fenômeno das fake news estará no topo das citações. E provavelmente, lá no futuro, elas estarão fazendo estragos à democracia.  

Mas, mesmo no deserto de ideias para tentar emparedar as fakes, começam a pingar iniciativas que merecem destaque. A primeira é o surgimento dos institutos de confirmação como a Lupa, que funciona num site permanentemente alimentado com a verificação dos teores de verdade e de mentira contidos em discursos parlamentares, artigos, declarações e manifestações de líderes políticos e econômicos de todos os matizes. Claro que não tem nem pretende ter a amplitude de cobertura capaz de abarcar o oceano de versões, contraversões, assertivas e desmentidos em circulação, para aferir sua veracidade. Ainda assim, iniciativas como a da Lupa merecem saudação especial pela relevância do trabalho que vem realizando em favor da verdade e da democracia, os quais precisam ser massificados cada vez mais para que seus efeitos sejam amplificados.

Uma outra iniciativa, ainda muito tímida, é a de instituições, pela sua própria natureza, desmentirem as mentiras em circulação, com base na confiabilidade decorrente de sua condição de fontes primárias. Até agora são poucas as instituições parlamentares, do executivo e do mundo jurídico que já disponibilizam espaços próprios em seus sites e portais para a publicação periódica de desmentidos sobre fakes que lhes digam respeito. Se começassem a fazer isso em escala maior estariam estabelecendo importante contraponto ao tsunami de mentiras fabricadas e destinadas, sem exceção, ao ataque a pessoas e instituições.

Imagine-se a relevância do serviço que tais organizações poderiam prestar disponibilizando tais informações. Uma instituição como o Senado, por exemplo, poderia disponibilizar em espaço próprio de seu portal um “Verdade seja dita” para desmentir mentiras que correm na velocidade da luz pelos canais da Internet distorcendo fatos, demolindo reputações, semeando ódio, preconceito e intolerância. E dá pra fazer isso de forma bem simples. Uma assembleia legislativa, por exemplo, pode publicar a cada boato com a qual tenha algo a ver uma informação repondo os fatos em seu lugar. Se o boato fala de um projeto aprovado na calada da noite, pode simplesmente dizer que não existem sessões secretas, e sim votações secretas, logo não existem votações na calada da noite.

Tais iniciativas resolverão o problema?  De forma alguma. O boato é muito mais rápido do que qualquer desmentido. Vai demorar até se descobrir um antídoto eficaz contra essa peçonha. Fake news são um mal duradouro, que só seria realmente neutralizado se se “desinventasse” a Internet. Como tal possibilidade não cabe nem na mais delirante criação de um Júlio Verne de nosso tempo, o jeito é ir tentando tudo o que for possível pra reduzir os estragos. Como se diz no meu Nordeste, nesse caso, contra a praga planetária das fake news, qualquer coisa que se faça é melhor do que diabo de nada. 

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Foto: editoracontexto.com.br

 

¹Professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília há 19 anos, onde ministra as disciplinas de Jornalismo e Fake News, Telejornalismo e de Oficina de Texto. Já foi repórter da Rede Globo, do Jornal do Brasil, de O Globo e também trabalhou na Rádio Nacional. Hoje é apresentador da TV Câmara. Publicou os livros Vermelho – um pessoal Garantido e Caprichoso – a Terra é Azul sobre a festa de Parintins; cinco edições de A Grande Enciclopédia Internacional de Piauiês; A Noite das Reformas, sobre a extinção do AI 5; Perfume de Resedá e O Salto sem Trapézio, de poesia.

 

 

Passo

Enquanto os impostos, taxas e contribuições sobem vertiginosamente, a prestação de serviços como segurança, saúde e educação rolam ladeira abaixo. Se a primeira impressão é a que fica, o novo governo vai ter muito trabalho.

Charge do Milton César

Vida

Tetra Pak Brasil apresenta web série sobre histórias de vida daqueles que atuam com reciclagem no país. Além de apresentar a cadeia da reciclagem, a consciência ambiental e a educação complementam as diferentes formas de reaproveitamento e mostram o lado social da prática. Vejam no blog do Ari Cunha.

História

Faz 12 anos que a então senadora Heloísa Helena acumulava informações com a mesa tomada de documentos sobre a CPI do Mensalão e esbravejava: se tivessem quebrado o sigilo dessa CPI, os beneficiários já teriam sido identificados. Nos dias de hoje, as coisas estão bem mais fáceis.

Charge do Quinho

Pensamento

Falando em passado, talvez Joaquim Barbosa tenha desistido da campanha eleitoral pelo mesmo motivo que Nelson Jobim. Tempos atrás, quem alertou Jobim foi o ministro Marco Aurélio. Ele declarou: “A toga não pode ser utilizada como trampolim para alcançar cargo político”.

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Depois que o sr. Wilson Calmon assumiu a 4ª Secretaria, a Câmara dos Deputados passou a editar, diariamente, um boletim informativo para os deputados, contendo uma compilação de todo o noticiário nacional e internacional dos maiores jornais do país. (Publicado em 02.11.1961)