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ARI CUNHA
Visto, lido e ouvido
Desde 1960
com Circe Cunha e Mamfil;
colunadoaricunha@gmail.com;
Pobre país cuja a democracia republicana, por suas deficiências congênitas, se organiza estruturalmente contando apenas com a atuação aleatória das forças da gravidade. Com um modelo desses, baseado em atrações momentâneas de pessoas e grupos, sem projetos, sem identidade e principalmente sem propósitos, todo e qualquer arranjo, chamado aqui de coligação, tende, invariavelmente ao fracasso.
Com isso, ajudam também a desmontar o próprio Estado, entregue sempre a grupos políticos instáveis e interesseiros. Reformar o modelo parece mais simples do que reformar essas elites que aí estão no reboliço eleitoral. O problema aqui é que, como tecido nas mãos de um alfaiate, o modelo final só se ajusta ao corpo e ao desejo desses grupos.
Na insistência de um modelo dessa natureza, que desde o retorno da democracia tem sido empregado sem cerimônias e que agora passou a ser denominado eufemisticamente de presidencialismo de coalizão, repousam as principais fontes de crises sistêmicas, conduzindo o país a instabilidades não só de natureza política, mas sobretudo afetando a economia e, por tabela, a vida de todos os cidadãos.
O que se tem visto nesse preâmbulo das eleições, com a formação de chapas aleatórias, é a repetição dos mesmos esquemas geradores de repetidas crises. A um quadro, com essa configuração radioativa, se soma uma miríade de legendas políticas estruturadas justamente para colher a maior quantidade possível de vantagens oferecidas por um conjunto de leis eleitorais caridosas e perdulárias.
Para o cientista político Sérgio Abranches, autor da expressão presidencialismo de coalizão, um modelo com essas características acaba por conduzir o país à um dilema institucional, com o Executivo tendo que se render constantemente às vontades pantagruélicas de um Congresso, que, uma vez devidamente empossado, volta as costas para a população e para suas agruras. Não surpreende, pois, que a governabilidade, num sistema assim, esteja sempre sobre o limbo.
Indiferente às crises, que passam sempre a ser debitadas ao presidente e parecem não atingir os parlamentares, não só o Congresso, como a maioria dos parlamentos locais, inclusive a Câmara Distrital, repetem, sem remorsos, esse modelo predador, isolando os Executivos e deles extraindo o máximo de vantagens possíveis.
Obviamente que ao eleitor também cabe parcela de responsabilidade por esse tipo de arranjo, principalmente quando faz suas escolhas usando os mesmos critérios de benefícios imediatos que move a todos indistintamente. É da natureza de um modelo como esse induzir o clientelismo e a corrupção, normalmente negociada num imenso balcão montado permanentemente nas ante salas do poder.
Dessa forma, o que se tem, desde a formação embrionária e instável das chapas, do modelo que irá colhê-las depois de eleitas, pelo grande número de legendas que passarão a disputar os mil e um benefícios de uma legislação feita sob medida, absolutamente tudo, acaba sendo formatado para resultar num modelo gerador de crises e numa democracia de baixíssima qualidade, insuficiente para conduzir o Brasil ao patamar de nações desenvolvidas.
A frase que foi pronunciada:
“A liberdade da imprensa não faz sentir o seu poder apenas sobre as opiniões políticas, mas também sobre todas as opiniões dos homens. Não modifica somente as leis, mas os costumes (…). Amo-a pela consideração dos males que impede, mais ainda do que pelos bens que produz.”
Alexis De Tocqueville
Novidade
É do deputado Wasny de Roure o projeto que institui, no calendário oficial de eventos do DF, o Dia Distrital de Conscientização e Tratamento da Doença Celíaca, que será comemorado no terceiro domingo do mês de maio. Interessante que o título à data comemorativa cita ‘Tratamento’, sendo que essa é uma doença autoimune e o único tratamento é não consumir glúten.
Vácuo
Quanto antes a doença celíaca for diagnosticada, menos sofrimento para os pacientes. Espera-se maior esclarecimento para a população sobre o assunto. Mais interação com os profissionais de saúde, pesquisadores, fabricantes de alimentos, fornecedores.
Realidade
Deu no site Proteste nessa semana. “Teste: detectamos glúten em alimento que afirma não conter essa proteína. Uma marca de macarrão do tipo penne estampa em seu rótulo que é “livre de glúten”, mas as análises demonstram o contrário.” No Brasil, não há preocupação nem em conhecer as estatísticas sobre o assunto. Com isso, políticas públicas estão distantes.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Um deputado muito procurado hoje em Brasília é o sr. Lamartine Távora, que é afilhado do prefeito Sette Câmara. Enquanto isto, o dr. Carvalho Sobrinho diz que o deputado Lamartine Távora será o Carlos Murilo do Sette. (Publicado em 26.10.1961)