Carcarás humanos

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Casa de taipa de Jacinta Helena Gomes da Silva em Coysapira, 24 de fevereiro de 2021. Foto: Tommaso Protti. (https://soudecanoas.com)

 

Ninguém sabe ao certo o montante de dinheiro que foi investido ao longo de quase um século nos chamados “polígonos da seca”. Mas, se fôssemos “ladrilhar” com moedas de cinco centavos as imensas regiões onde, ao longo de décadas, foram investidas montanhas de recursos da União em nome do combate à seca, por certo não haveria um só espaço vazio.
A cada temporada de estiagem severa, mais e mais aumentam as áreas de seca abrangidas sob a responsabilidade de órgãos que, em tese, cuidam para amenizar esse problema secular. Fala-se, em valores atualizados, em trilhões de reais despejados, a cada governo federal, para amenizar a sede dessas populações.
A questão aqui é por que esses investimentos consideráveis não têm sido suficientes para deixar o problema como um fato resolvido. Por que, por sua ineficácia comprovada, prosseguem esses investimentos a fundo perdido, quando poderiam ser alocados para soluções verdadeiramente eficientes?
São questões que, mais do que “bulir” com os brios dessas populações, incomodam e afetam, diretamente, a classe política e seus herdeiros diretos locais, que passaram a ser largamente financiados por esses recursos, enriquecendo às custas do sofrimento de sua gente.
O fato é que as Superintendências de Desenvolvimento, que foram criadas nas décadas de 50 e 60, justamente para tratar desse e de outros problemas afetos à essas regiões, foram miseravelmente dilapidadas pela corrupção de classes políticas e dirigentes, instalados nessas instituições, com o propósito exclusivo de drenar recursos para esses grupos.
A situação de descontrole e de rombos sucessivos que ocorriam em órgãos como a Sudene, a Sudam e, posteriormente, a Sudeco, levou o governo Fernando Henrique, em 2001, a extinguir essas instituições, para gritaria geral dos políticos, que tradicionalmente sempre se beneficiaram desses organismos. A raiz do problema não reside propriamente nesses órgãos, que têm, em sua formulação, os mais louváveis dos propósitos.
Criados no governo de Juscelino Kubistcheck, a partir de propostas sérias e embasadas do economista Celso Furtado, Sudam, Sudene e Sudeco logo receberam o apoio entusiástico de personalidades da época, como Dom Hélder Câmara; Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas; e sociólogos como Francisco de Oliveira e Gilberto Freire; além de muitos outros intelectuais envolvidos na questão do desenvolvimento dessa parte esquecida do país.
Com a chegada dos militares, em 1964, todo esse ideal social e desenvolvimentista foi destruído, época em que a máquina burocrática tomou conta desses órgãos, diluindo sua atuação e dando brechas, posteriormente, para a ocupação de políticos fechados com o novo regime, que nada mais eram do que os novos coronéis da região. A partir dessa intervenção, esses órgãos foram perdendo espaço de atuação e servindo, cada vez mais, como valhacouto de corruptos do colarinho branco.
A chegada do populismo de esquerda ao poder serviu para a recriação desses órgãos, que ressurgiram das cinzas para atender, dessa vez, aos novos mandatários sob a bandeira do Partido dos Trabalhadores. Mais uma vez, essas instituições passaram às mãos de políticos alinhados com a nova ideologia, dando prosseguimento a dilapidação desses organismos, sob o olhar de aprovação do então ocupante do Palácio do Planalto, que via nesses descaminhos e nessas sinecuras, uma forma de manter esses grupos políticos em apoio ao novo governo.
Entre idas e vindas, esses órgãos de desenvolvimento, que na sua origem tinham um propósito correto e que pouco duraram dentro desse espírito de igualar regiões desiguais do país, voltaram a ser sorvedouros de recursos públicos, que se transformam em poeira e se perdem com o vento, prolongando um problema que parece eterno.
A frase que foi pronunciada

“Se a igualdade entre os homens — que busco e desejo — for o desrespeito ao ser humano, fugirei dela.”
Graciliano Ramos
Graciliano Ramos. Foto: Arquivo público do estado de São Paulo
Doação
Próximo ao parque de Águas Claras, um posto de teste de Covid está recolhendo cestas básicas, material de limpeza, brinquedos e roupas.
Foto: Blog do Ari Cunha
Registro
Sr. Dutra era o garçom e mordomo de JK. Caprichosa, a filha que tem o nome em homenagem ao presidente e à esposa compilou a história do pai, hoje transformada em documento. Acompanhe a informação sobre as Memórias Dutra postadas pela Jussara no Instagram. A seguir, o caminho.
Foto: reprodução
–> Memórias Dutrahttps://www.instagram.com/p/CPZN4BOgsfp/?utm_medium=copy_link

Hoje é dia de #tbt e nada melhor do que explorar a história do Presidente JK, pela perspectiva de seu garçom e mordomo, Sr. Dutra.

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Reconhecimento
Uma das formas de sustentação da Casa do Ceará é a doação. Nos termos da Lei, a Superintendência da Receita Federal anualmente faz doações que podem ser vendidas na Casa, revertendo em dinheiro para obras assistenciais. Nesse sentido, Rosana Esteves, da Receita Federal no DF, tem sido de fundamental importância pela conduta profissional e competência no atendimento.
Foto: casadoceara.org.br
História de Brasília
“Já está quase pronto o abrigo de passageiros em frente à Escola Parque. Se nos fosse dado sugerir o local para outro, indicaríamos a Caseb, onde os alunos ficam expostos ao sol ou à chuva.” (Publicado em 02.02.1962)

Rios de dinheiro

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Foto: Iranildo Moura (2017)

 

Desde tempos imemoriais, e por razões óbvias, a humanidade buscou estabelecer e desenvolver suas cidades ao longo dos cursos de água potável. Dessas civilizações antigas, fundadas às margens dos rios, os destaque são os egípcios, ligados ao Rio Nilo, os mesopotâmicos, fixados  no vale fértil entre os rio Eufrates e Tigre, e os Indus, assentados ao longo do sagrado Rio Ganges. Aqui no Brasil, o grosso das nações indígenas também ergueu suas aldeias próximas aos grandes cursos de agua doce. Essa relação de dependência da água era reconhecida e, por isso mesmo, os rios eram adorados como verdadeiras divindades, fertilizando e irrigando as terra, tornando-as propícias para a prática da agricultura, para a pesca, para os transportes, para a fabricação da cerâmica, entre outras dádivas de vida trazidas pelas corredeiras d’água.

É sabido ainda que algumas culturas simplesmente desapareceram devido às secas prolongadas e, consequente, extinção dos cursos d’água, como parece ser o caso de Ankor, na Ásia, um complexo urbano erguido no  século VIII, com uma área que se estendia por aproximadamente 650 Km e onde viviam mais de 750 mil habitantes. Milhares de anos depois, a humanidade continua dependendo desses mesmos recursos naturais, mas com uma diferença significativa e preocupante: o aumento da população e o consequente aumento da produção de bens têm levado não só ao esgotamento acelerado desses recursos, como também têm provocado uma crescente poluição dessas águas, tornando-as impróprias para o consumo humano.

O descaso com importantes rios se repete Brasil afora, inclusive já afetando o maior rio do planeta em volume d’água, o Rio Amazonas. O Nordeste convive hoje com a maior seca dos últimos trinta anos. Calcula-se que mais de cem importantes cidades nordestinas estão enfrentando um sério colapso no abastecimento de água. A escassez de água tem prejudicado a agricultura e a geração de energia. “As ruínas de várias cidades afundadas com a construção das hidroelétricas no rio São Francisco reapareceram. Minha Bem Bom, minha história e dos meus antepassados estão aqui neste local”, conta Iranildo, artista plástico que reencontrou seu passado no chão rachado pela seca. “É difícil compreender. Agora, a natureza anda cobrando a ganância dos homens do poder”, diz o morador do povoado de Bem Bom, na Bahia.

Projetos importantes, como a produção de frutas variadas ao longo do Rio  São Francisco, estão sendo reorganizados ou simplesmente abandonados, tragados pela seca incomum. Cerca de 50 milhões de brasileiros nas regiões Sudeste e Nordeste estão com o fornecimento de água e luz comprometidos ao extremo. Trata-se de uma situação que tende a aumentar. Para um país que, até a pouco tempo, gabava-se da quantidade e variedade de suas bacias hidrográficas, a situação está literalmente no vermelho. O pior é que tanto o governo quanto a população ainda parecem indiferentes com a atual situação e seguem ou com políticas insuficientes para o problema, ou, no caso da população, consumindo nos mesmos níveis anteriores.

Um quinto dos brasileiros convivem hoje com os efeitos da estiagem prolongada e insuficiente de chuvas. A maioria das bacias hidrográficas da região Nordeste e Sudeste estão sob séria ameaça de existência, com os níveis dos reservatórios abaixo do normal. Trata-se da menor média histórica na quantidade de chuvas. Importantes áreas urbanas já convivem com o acionamento no fornecimento de água.

O comprometimento para a produção de energia elétrica tem estendido seus efeitos para a produção industrial e agrícola, ocasionando prejuízos ainda não calculados para a economia dos estados afetados. No ano passado, 1.280 municípios de treze estados do Sudeste e do Nordeste decretaram situação de emergência pela falta de água. Neste ano, o número se repete. A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil está literalmente inundada com os pedidos de socorro e emergência, vindos de toda parte e ao mesmo tempo.

As práticas de pesca e a navegação no Velho Chico estão, hoje, seriamente comprometidas, trazendo ainda mais problemas para a sofrida população ribeirinha. O desabastecimento entrou para o vocabulário das autoridades e da população e, em alguns casos, este fato é inédito. A captação de água nos chamados reservatórios de volume morto está sendo utilizada, em alguns lugares, pela primeira vez.

O acidente ocorrido no Município de Mariana em Minas Gerais, considerado como o maior na área de mineração do Brasil e um dos grandes mundialmente,  agora junta forças para tentar reanimar o Rio Doce, agonizando com a perda de espécies animal e vegetal e ainda prejudicando a agricultura e a indústria localizadas ao longo desse rio. Autoridades ligadas ao meio ambiente alertam ainda que as 27 barragens espalhadas pela região comportam ainda 27 bilhões de toneladas de rejeitos industriais carregados de produtos venenosos que, por falta de fiscalização adequada, podem simplesmente  inviabilizar a permanência de população nestas regiões.

Aos poucos, o governo federal desenha o futuro da mineração para o próximo triênio. Foi lançado, pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, o Programa de Mineração e Desenvolvimento (PMD), que inclui 110 metas com foco na economia mineral, sustentabilidade, conhecimento geológico, investimentos, financiamentos para o setor mineral e exploração em novas áreas. Uma das metas do PMD é a regularização da exploração em áreas indígenas, o que será resolvido pelo Congresso.

A tragédia em Minas Gerais fez acender o alerta sobre o Marco Regulatório da Mineração e mesmo reaver o estatuto que regulamenta a extração de minerais, excessivamente permissivas às grandes e riquíssimas empresas mineradoras, cujo o lobby é poderoso e bastante operante em Brasília. Todo cuidado é pouco!

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Dinheiro é como água do mar: quanto mais se toma, maior é a sede.”

Arthur Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX

Arthur Schopenhauer. Pintura de Jules Lunteschütz, 1855.

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

A informação é do Serviço Social: não dê dinheiro para ninguém comprar remédio. É exploração, porque para isso existe o SS no Hospital Distrital. (Publicado em 18/01/1962)