Tag: #SecaNoBrasil
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
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Hoje já são mais de 160 mil focos de incêndio por todo o Brasil, com o fogo se alastrando até por regiões que antes se acreditava livre desses desastres. As regiões Norte e Centro-Oeste têm sido as mais afetadas, com parte da floresta amazônica e do Pantanal queimando há dias ininterruptamente. Todo o país está em meio a uma seca recorde jamais vista, com altas temperaturas e ventos cortando o continente de Norte a Sul e ajudando a espalhar as queimadas e as nuvens gigantescas de fumaça tóxica.
Aos olhos do mundo o Brasil está vivendo seu inferno astral, com a natureza, antes exuberante, sendo reduzida a cinzas. As consequências dessa multiplicidade de foco de incêndios, ainda não foram contabilizadas em sua inteireza. Quando os cálculos dos prejuízos forem fechados, veremos que o Brasil terá registrado dezenas de bilhões em perdas, tanto para o meio ambiente, como para a economia em geral.
O que se mostra patente é que o nosso país não se preparou minimamente para enfrentar tanto o aquecimento global e as mudanças climáticas, como para prevenir materialmente para o combate aos milhares de focos de incêndios. Há nesse quadro de desastre anunciado, uma sequência tal de imprevidência e prevaricações, que se fossem devidamente levadas aos tribunais, para verificação de culpas e de crimes, poucos gestores municipais, estaduais e mesmo federais escapariam de severas punições.
Agora, depois que o país inteiro parece ter sido lançado numa fogueira continental é que algumas medidas estão sendo anunciadas e prometidas. Se o imperador romano Nero (séc I a.C) pudesse presenciar o que acontece hoje com o nosso país, veria que o incêndio que consumiu parte da Roma antiga, atribuída por ele aos cristãos, não passou de brincadeira de criança.
Mapas de satélite mostram a evolução das queimadas em todo o território nacional e não deixam dúvidas de que os focos foram sendo multiplicados por mil ao longo dos meses desse ano. A parte central de nosso país, onde se encontram as maiores áreas de cerrado, tem sido enormemente impactada pelo fogo. O Cerrado, considerado pelos ambientalistas como sendo o berço das águas ou caixa d’água do Brasil, pois das 12 principais regiões hidrográficas do país, responde por nada menos do que oito nascentes que formam as bacias Amazônica (rios Xingu, Madeira e Trombetas); a bacia do Tocantins-Araguaia (rios Araguaia e Tocantins); a do Atlântico Norte Oriental (Rio Itapecuru); a Bacia do Parnaíba ((rios Parnaíba, Poti e Longá), na Bacia do São Francisco (rios São Francisco, Pará, Paraopeba, das Velhas Jequitaí, Paracatu, Urucuia, Carinhanha, Correntes e Grande) Bacia do Atlântico Leste (rios Pardo e Jequitinhonha); a Bacia do Paraná (rios Paranaíba, Grande, Sucuriú, Verde e Pardo); além da Bacia do Paraguai (rios Cuiabá, São Lourenço, Taquari e Aquidauana).
Deixar uma região com essa importância à mercê do fogo ou de um agronegócio do tipo predatório (latifúndios e monocultura), que visa apenas o lucro e os resultados da balança de comércio, é um crime de grande monta, quase um crime contra a humanidade e uma condenação antecipada as futuras gerações, que terão que conviver com imensas áreas desertificadas pela ação humana desastrosa e cheia de ganâncias.
Tivessem juízo, nossas autoridades deveriam fechar toda essa imensa região a toda e quaisquer atividades, que não visassem exclusivamente a preservação desses recursos hídricos. O certo, como vem alertando há décadas muitos ambientalistas, seria criar um parque nacional em torno de todas essas nascentes formadoras das principais bacias hidrográficas do país. Ou é isso, ou não se pode falar em futuro e muito menos nas próximas gerações.
A frase que foi pronunciada:
“Justificar tragédias como vontade divina tira da gente a responsabilidade por nossas escolhas.”
Umberto Eco
Oportunidade
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História de Brasília
Nesta história da Novacap, a solução é a gente recorrer ao filósofo de Mondubim, que costumava dizer: não há governo sem ladrão no meio, mas cabe aos direitos, mandá-los para a caixa prego. (Publicada em 17/4/1962)
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Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Desde tempos imemoriais, e por razões óbvias, a humanidade buscou estabelecer e desenvolver suas cidades ao longo dos cursos de água potável. Dessas civilizações antigas, fundadas às margens dos rios, os destaque são os egípcios, ligados ao Rio Nilo, os mesopotâmicos, fixados no vale fértil entre os rio Eufrates e Tigre, e os Indus, assentados ao longo do sagrado Rio Ganges. Aqui no Brasil, o grosso das nações indígenas também ergueu suas aldeias próximas aos grandes cursos de agua doce. Essa relação de dependência da água era reconhecida e, por isso mesmo, os rios eram adorados como verdadeiras divindades, fertilizando e irrigando as terra, tornando-as propícias para a prática da agricultura, para a pesca, para os transportes, para a fabricação da cerâmica, entre outras dádivas de vida trazidas pelas corredeiras d’água.
É sabido ainda que algumas culturas simplesmente desapareceram devido às secas prolongadas e, consequente, extinção dos cursos d’água, como parece ser o caso de Ankor, na Ásia, um complexo urbano erguido no século VIII, com uma área que se estendia por aproximadamente 650 Km e onde viviam mais de 750 mil habitantes. Milhares de anos depois, a humanidade continua dependendo desses mesmos recursos naturais, mas com uma diferença significativa e preocupante: o aumento da população e o consequente aumento da produção de bens têm levado não só ao esgotamento acelerado desses recursos, como também têm provocado uma crescente poluição dessas águas, tornando-as impróprias para o consumo humano.
O descaso com importantes rios se repete Brasil afora, inclusive já afetando o maior rio do planeta em volume d’água, o Rio Amazonas. O Nordeste convive hoje com a maior seca dos últimos trinta anos. Calcula-se que mais de cem importantes cidades nordestinas estão enfrentando um sério colapso no abastecimento de água. A escassez de água tem prejudicado a agricultura e a geração de energia. “As ruínas de várias cidades afundadas com a construção das hidroelétricas no rio São Francisco reapareceram. Minha Bem Bom, minha história e dos meus antepassados estão aqui neste local”, conta Iranildo, artista plástico que reencontrou seu passado no chão rachado pela seca. “É difícil compreender. Agora, a natureza anda cobrando a ganância dos homens do poder”, diz o morador do povoado de Bem Bom, na Bahia.
Projetos importantes, como a produção de frutas variadas ao longo do Rio São Francisco, estão sendo reorganizados ou simplesmente abandonados, tragados pela seca incomum. Cerca de 50 milhões de brasileiros nas regiões Sudeste e Nordeste estão com o fornecimento de água e luz comprometidos ao extremo. Trata-se de uma situação que tende a aumentar. Para um país que, até a pouco tempo, gabava-se da quantidade e variedade de suas bacias hidrográficas, a situação está literalmente no vermelho. O pior é que tanto o governo quanto a população ainda parecem indiferentes com a atual situação e seguem ou com políticas insuficientes para o problema, ou, no caso da população, consumindo nos mesmos níveis anteriores.
Um quinto dos brasileiros convivem hoje com os efeitos da estiagem prolongada e insuficiente de chuvas. A maioria das bacias hidrográficas da região Nordeste e Sudeste estão sob séria ameaça de existência, com os níveis dos reservatórios abaixo do normal. Trata-se da menor média histórica na quantidade de chuvas. Importantes áreas urbanas já convivem com o acionamento no fornecimento de água.
O comprometimento para a produção de energia elétrica tem estendido seus efeitos para a produção industrial e agrícola, ocasionando prejuízos ainda não calculados para a economia dos estados afetados. No ano passado, 1.280 municípios de treze estados do Sudeste e do Nordeste decretaram situação de emergência pela falta de água. Neste ano, o número se repete. A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil está literalmente inundada com os pedidos de socorro e emergência, vindos de toda parte e ao mesmo tempo.
As práticas de pesca e a navegação no Velho Chico estão, hoje, seriamente comprometidas, trazendo ainda mais problemas para a sofrida população ribeirinha. O desabastecimento entrou para o vocabulário das autoridades e da população e, em alguns casos, este fato é inédito. A captação de água nos chamados reservatórios de volume morto está sendo utilizada, em alguns lugares, pela primeira vez.
O acidente ocorrido no Município de Mariana em Minas Gerais, considerado como o maior na área de mineração do Brasil e um dos grandes mundialmente, agora junta forças para tentar reanimar o Rio Doce, agonizando com a perda de espécies animal e vegetal e ainda prejudicando a agricultura e a indústria localizadas ao longo desse rio. Autoridades ligadas ao meio ambiente alertam ainda que as 27 barragens espalhadas pela região comportam ainda 27 bilhões de toneladas de rejeitos industriais carregados de produtos venenosos que, por falta de fiscalização adequada, podem simplesmente inviabilizar a permanência de população nestas regiões.
Aos poucos, o governo federal desenha o futuro da mineração para o próximo triênio. Foi lançado, pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, o Programa de Mineração e Desenvolvimento (PMD), que inclui 110 metas com foco na economia mineral, sustentabilidade, conhecimento geológico, investimentos, financiamentos para o setor mineral e exploração em novas áreas. Uma das metas do PMD é a regularização da exploração em áreas indígenas, o que será resolvido pelo Congresso.
A tragédia em Minas Gerais fez acender o alerta sobre o Marco Regulatório da Mineração e mesmo reaver o estatuto que regulamenta a extração de minerais, excessivamente permissivas às grandes e riquíssimas empresas mineradoras, cujo o lobby é poderoso e bastante operante em Brasília. Todo cuidado é pouco!
A frase que foi pronunciada:
“Dinheiro é como água do mar: quanto mais se toma, maior é a sede.”
Arthur Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
A informação é do Serviço Social: não dê dinheiro para ninguém comprar remédio. É exploração, porque para isso existe o SS no Hospital Distrital. (Publicado em 18/01/1962)