Brasília não merece

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: Renato Alves/Agência Brasília

 

Ainda com relação à questão da revitalização do Setor Comercial Sul, proposta pelo Governo do Distrito Federal (GDF) em conjunto com a Câmara Legislativa, o que mais surpreende, em toda essa discussão, é a ausência e a atitude de alheamento, tanto dos departamentos do GDF que cuidam disso quanto das instituições de ensino e pesquisa pertencentes às universidades públicas e privadas que lidam com o intricado assunto do urbanismo.

Nesse ponto, todos parecem fazer cara de paisagem, deixando tão importante assunto ao alvitre de políticos e de empresários de visão utilitarista e curta. Todos afoitos na tentativa de solucionar um problema que, por sua complexidade e organicidade, não pode ser tratado de forma isolada, ainda mais por pessoas não gabaritadas para tão delicado tema.

A transformação de parte do Setor Comercial Sul em moradias, como parece ser a proposta do GDF, poderá, em última análise, vir a ser uma opção viável apenas numa etapa final, depois que forem devidamente cuidados os problemas com a decadência crônica apresentados pelas avenidas W3 Sul e Norte. De maneira até simplória, seria preciso que aqueles que vão se debruçar sobre esse importante assunto visualizem todo o Plano Piloto do alto, (bird view), como fazem os verdadeiros urbanistas, para entenderem o desenho no seu todo.

Dessa forma, poderiam começar a ter uma pálida ideia do contexto geral e de sua mecanicidade complexa. Entender essa questão, em seu conjunto, facilitaria a compreensão de todo o sistema urbanístico e, quem sabe, abriria clarões para iluminar o caminho a ser percorrido na confecção de um projeto digno de uma cidade tombada, projetada por figuras do mais alto refinamento que o país já teve tanto em arquitetura quanto em urbanismo.

A intervenção isolada apenas no SCS não resolveria a questão da revitalização dessa área, como criaria outros problemas ainda inexistentes nessa região. Criar ambiente de moradias não se resolve apenas fazendo adaptações em antigos edifícios comerciais. É importante que se discuta a interligação de todo o conjunto central da capital.

O projeto de Lucio Costa, ao obedecer à orientação de eixos básicos entrecruzados selou, de forma indelével, o destino urbanístico da própria capital. Desse modo, os eixos ou artérias comunicam o que a cidade tem de saudável e de enferma também. Por isso mesmo, não se permitem intervenções dissociadas do conjunto.
Como foi mencionado nesse mesmo espaço, na coluna anterior, todos os eixos ou linhas ortogonais irradiaram para as áreas centrais da capital e dela refletem o que a cidade tem de orgânica. Esse é um tema central e de vital importância para entender Brasília.

Como visto, não se trata aqui de uma questão a ser resolvida apenas no âmbito político. E muito menos restrito aos empresários locais, reconhecidamente ávidos por brechas legais para aumentarem seus lucros. O que esses atores parecem não perceber, ou fingem entender, é que o Setor Comercial Sul integra, por suas características de projeto urbano, concebido por Lucio Costa, uma extensão natural da própria W3 Sul, assim como o Setor Comercial Norte, em relação à W3 Norte. Ambos representam a integração e o interligamento dessas duas artérias comerciais, deixadas, por décadas ao abandono. É preciso, pois, cuidar para que essa proposta de rezoneamento não se transforme numa espécie de zoneamento de uma zorra deixada para outros governos e para outras gerações. Brasília não merece.

 

A frase que foi pronunciada:
“Arquitetura é, antes de mais nada, construção, mas construção
concebida com o propósito primordial
de ordenar e organizar o espaço
para determinada finalidade
e visando a determinada intenção.”
Lúcio Costa, arquiteto, urbanista, professor nascido na França.

Lúcio Costa e presidente JK. Foto: arquivo.arq

 

CEB
Espalham, pelas redes sociais, que funcionários da CEB começam a articular uma greve. Nada de privatização é a opinião.

Cartaz publicado na página oficial do Sindsasc no Instagram

 

Elas
A mulher brigava com o marido aos tapas no gramado perto da Funarte. Estava ensandecida. Era quem agredia o marido. Um transeunte viu a cena e o desespero do marido e gritou se poderia ajudar em alguma coisa. “Pega a minha filha no carro!” A criança tremia de pavor. Há mulheres agressoras e há maridos que não registram ocorrência.

 

Na mesma
Festas de fim de ano, confraternizações a todo vapor. Convites por todos os lados. Sem a consciência da população, a questão pandemia deverá se estender por 2021.

Charge do Jorge Braga

 

História de Brasília
Na homenagem dos Diários Associados ao prefeito Sette Câmara, um detalhe muito comentado foi o sapato e a boca da calça do prefeito completamente enlameados. (Publicado em 16/12/1961)

Revitalização urbana é assunto sério demais para ficar nas mãos de políticos

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Foto: Lúcio Bernardo Jr. / Agência Brasília

 

Com relação ao que seria o estabelecimento de um amplo plano de revitalização do Setor Comercial Sul (SCS), a prudência manda que, antes de tudo, seja necessário a convocação de uma junta de arquitetos e urbanistas e outros técnicos gabaritados na delicada questão de soerguimento de áreas decadentes para, numa primeira etapa, elaborar o que seria apenas um pré-projeto para esse endereço.
Nesse caso, não basta atacar, especificamente, o problema da decadência do setor, com uma visão parcial da questão, uma vez que até um aluno do primeiro ano de urbanismo sabe muito bem que, dentro da macroestrutura que compõe a cidade, esse setor representa apenas uma ponta, não isolada, no intricado e orgânico projeto elaborado por Lucio Costa para a capital.
Cuidar do que seria a revitalização do SCS, desconsiderando as artérias que ligam esse ponto às extremidades do Plano Piloto, tanto Sul quanto Norte, será um desperdício enorme de tempo e de dinheiro. E o que é pior: poderá acarretar ainda mais problemas para a cidade, com reflexos, inclusive, no tombamento da capital, reconhecido pela Unesco em dezembro de 1987.
Tanto o Setor Comercial Sul, seu espelho, quanto o Setor Comercial Norte, do outro lado do Eixo Monumental, e área central do Plano Piloto entraram num processo paulatino de decadência a partir do fim do século passado, em decorrência e por contágio do que acontecia com suas artérias comerciais de ligação, representadas aqui pelas avenidas W3 Sul e Norte. Foi justamente o abandono, por décadas, dessas vias de comércio que acabou por contaminar as áreas centrais da capital.
Para quem percebe a questão crucial dos eixos que perpassam todo o desenho do Plano Piloto, fica claro que o que acontece numa parte acaba irradiando para outra ponta e vice-versa. Dessa forma, de nada adiantam esforços isolados para um rezoneamento do SCS, visando a sua revitalização urbana, sem atentar para a questão maior que é o soerguimento de todo eixo que compõe as avenidas W3 Sul e Norte.
Somente após a realização de obras de modernização e limpezas dessas avenidas é que se pode partir para a revitalização de outras áreas centrais ligadas a esses eixos. Sem isso, qualquer projeto é falho e vai representar apenas mais um puxadinho do tipo político empresarial, com objetivos distantes dos necessários.
Trata-se, aqui, de questão fundamental que precisa ser resolvida o mais rapidamente possível, porém , sem açodamentos e medidas paliativas, sob pena de irradiação dessa decadência urbana para outras partes, contaminando igualmente todo o conjunto urbanístico de Brasília, tornando esse problema de resolução cada vez mais difícil e com prejuízos para todos igualmente.
A frase que foi pronunciada
“A violência contra pessoas negras e a repetição de casos brutais, como o de João Alberto, não podem passar despercebidos pela sociedade, pelas autoridades e pelos políticos brasileiros.”
Damião Feliciano, deputado federal pela Paraíba
Damião Feliciano. Foto: camara.leg
No caminho
Criada uma comissão externa na Câmara dos Deputados para acompanhar a investigação sobre João Alberto Silveira Freitas, espancado até a morte por seguranças em uma loja do supermercado Carrefour, em Porto Alegre. O deputado Damião Feliciano coordena o grupo.
Reprodução / Arquivo Pessoal
A se pensar
Leitor nos envia uma questão sobre imóveis e Imposto de Renda. O valor do imóvel é corrigido anualmente pelo boleto do IPTU emitido pelo governo local. A Receita Federal não permite, no Imposto de Renda, que o valor do imóvel seja atualizado. Resultado: na venda do imóvel, o ganho de capital é calculado pelo valor de compra do imóvel, o mesmo declarado no imposto, o que é um absurdo. Outra observação feita é que a cobrança do ganho de capital é implacável, mas do mesmo caixa não sai verba para a perda de capital do imóvel do contribuinte.
Foto: ultimasnoticias.inf.br
Para sempre
Fabrício, assessor de imprensa do senador Petecão, explicou a razão desse nome peculiar adotado pelo parlamentar. Na verdade, foram os colegas de infância que o chamavam assim. Tudo começou, como se diz, no Ceará, rebolando a capsulinha na coxia. No Acre, a capsulinha ou bolinha de gude é chamada de peteca. O senador jogava com a criançada de Inãpari, cidade peruana onde eram conhecidas como bolitas. De peteleco em peteleco o campeão virou Petecão.
Sérgio Petecão. Foto: Sérgio Petecão
História de Brasília
A Novacap está levando avante uma política extremamente danosa para os trabalhadores. Isto de dar comida de graça é acintoso, e foco de agitação. É que em muitos casos há, realmente, necessidade, mas a maioria se encosta para receber alimentação, e não quer mais trabalhar. Há o caso de vários operários de uma obra, que pediram as contas e foram para a fila da Novacap. (Publicado em 16/12/1961)

Uma cidade precocemente envelhecida

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Foto: chiquinhodornas.blogspot.com

 

Ao percorrer algumas áreas da parte central de Brasília, um turista acidental, do tipo que conheceu a capital ali pelos anos setenta, ou uma década após sua inauguração, constata, sem esforço, que a cidade idealizada por um dos maiores urbanistas do planeta envelheceu precoce e severamente em pouco mais de algumas décadas.

A decadência de áreas como as W2 e W3 Sul e Norte, das quadras 700, dos setores bancários, do setor comercial e principalmente de todo o perímetro em volta da Rodoviária do Plano Piloto, deixa claro que esses endereços, outrora chiques e disputados pela valorização local, hoje se apresentam como lugares perigosos, sujos, mal iluminados, tomados pelo mato, com calçadas quebradas e lixo, muito lixo, espalhado por onde quer que a vista alcance.

O Plano Piloto, ou seja, o coração da capital, com suas belezas arquitetônicas, seus espaços bucólicos, arborização, sua setorização arrumada, vai, pouco a pouco, desaparecendo ante o descaso, a falta de preservação adequada e outras atitudes de seguidos governos.

Não bastasse esse desmazelo com a capital de todos os brasileiros, circular por esses locais e mesmo em meio as Superquadras é se deparar a todo momento com menores abandonados, homens, crianças e idosos cheirando derivados de petróleo, usando entorpecentes à luz do dia. A poluição visual, com letreiros ocupando cada centímetro do espaço livre, as pichações e depredações dos móveis urbanos, fornecem os indícios de que essa é uma cidade sem lei ou, ao menos, sem fiscais da lei.

Difícil é andar nesses locais sem ser abordado por todo o tipo de pedinte, alguns ameaçadores. O descaso com a cidade, a falta de ação por parte das autoridades e mesmo de moradores, com muitas exceções, e comerciantes, parecem decretar o fim dos espaços públicos ou ao menos o respeito pelos espaços que são de todos. A noção errada de que nossa cidade termina onde começa a porta de nossas casas precisa ser reaprendida, sob pena de ficarmos ilhados e fechados dentro de quatro paredes.

Com isso, nossas ruas vão se transformando em áreas hostis, sem policiamento, escuras e malcheirosas, tal qual uma cidade abandonada à própria sorte. O desrespeito pelas normas urbanas está por todo lugar. Invasões, barracos de lata de comércio precário, puxadinhos dos comércios locais sem cerimônia. Vão se espraiando por áreas verdes, ocupando calçadas, canteiros, com cada um fazendo o que bem quer sob o olhar indiferente das autoridades.

A fragilidade de uma cidade planejada ou seu Tendão de Aquiles está justamente no comportamento sem urbanidade de seus cidadãos e dos seus responsáveis. A obediência aos códigos de postura, de edificações e ao que delimitam as leis é condição fundamental para a continuidade de toda e qualquer cidade. No caso de Brasília, considerada por muitos uma joia do modernismo e do empreendedorismo de uma nação, o descaso e o abandono continuado de suas áreas centrais, poderá, dentro do que ensina a Teoria das Janelas Quebradas, conduzir a capital para um estágio tal de desestruturação de seus espaços, que torne impossível a recuperação da beleza e harmonia originária, condenando a cidade e entrar para o rol das muitas capitais brasileiras depredadas e abandonadas pelo poder público.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.”

Juscelino Kubitschek

Foto: doc.brazilia.jor.br

 

BSB, meu amor!

Por falar em Brasília, nas comemorações dos 59 anos da capital, as fundadoras do movimento Mexeu com Brasília, Mexeu Comigo – lançaram a primeira edição do Prêmio Olhar Brasília de Fotografia. O projeto tem curadoria do fotojornalista Alan Marques. As jornalistas convidam os brasilienses para se inscreverem até o dia 21 de abril com fotos que mostrem o amor pela cidade.

 

Cartaz: facebook.com/olharbrasilia

 

Arte

Até o dia 25 de maio, mais de 30 artistas participam da exposição Entre Cores e Utopias, que mostra os grafites da cidade. Renata Almendra, com fotografias de Juliana Torres, apresenta o movimento de Brasília nas mãos dos grafiteiros. Suas propostas, crenças e protestos. Veja o vídeo no blog do Ari Cunha sobre o lançamento do livro de Almendra sobre o assunto.

Foto: facebook.com/entrecoreseutopias

 

NET

Enquanto o internauta pensa que parece ter uma conta vencida sem ter sido paga, aparece no email uma mensagem falando exatamente sobre isso. Com dados completos, nome do cliente, endereço e a melhor parte: a Net propõe que você não fique inadimplente. Por isso dará 50% de desconto na mensalidade. Preocupado em não deixar passar mais nenhum dia de inadimplência, o internauta paga pelo código de barras. Confere e percebe que quem recebeu o pagamento foi uma pessoa física.

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Mais de meio milhão, custou a limpeza dos trevos durante a última inundação. Nós já havíamos chamado a atenção contra a suspensão da plantação da grama, agora atacada pela Novacap. (Publicado em 17.11.1961)