Centelha do dia seguinte

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: Jader Souza/AL Roraima

 

          Após o período mais intenso das queimadas que, este ano, varreram boa parte de nossas matas, matando milhares e milhares de espécies de animais e plantas, de Norte a Sul do país, é necessário, a exemplo do que fazem os bombeiros nos rescaldos dos sinistros, a realização de um levantamento sério, para que se conheça os reais prejuízos causados pelas queimadas em 2024.

          De certo, os prejuízos, apenas no âmbito da diversidade biológica, serão catastróficos. O que aconteceu este ano, equivale, em termos de pesquisas científicas e de preservação, a dezenas de incêndios como aqueles que consumiram os Museus Nacionais nos últimos anos. E pena que esse sentimento de perda irreversível só seja sentido por pesquisadores e cientistas que estão mais envolvidos com essas riquezas pouco cuidadas por nós.

         Pela extensão das queimadas neste ano, é provável que algumas espécies de plantas e animais, que sequer tínhamos correto conhecimento, tenham se perdido para sempre. Sem o devido conhecimento do bioma que nos cerca e qual sua importância para nosso meio ambiente, em termos de simbiose e outras trocas, é certo que, a longo prazo, outras espécies venham sentir essa perda e acabem por desaparecer também. O equilíbrio do meio ambiente é delicado e sente as interferências humanas.

         Pelo o que conhecem os cientistas, e não é muito quando se trata do vasto bioma, algumas espécies de aves só se alimentam de determinados frutos, produzidos por determinada planta. Com o desaparecimento dessa espécie vegetal, também essas aves estão condenadas. O inter-relacionamento entre as espécies é um mecanismo delicado que trabalha como um relógio, o desaparecimento de uma peça produz um colapso em série para todo o sistema.

         O mais triste em todo esse episódio que expôs o país a um vexame internacional, é que essas tragédias parecem não ter surtido grande efeito internamente.

          O sinal errado emitido pelas autoridades tem funcionado como um incentivo para a depauperação das riquezas naturais do país. Esse nacionalismo às avessas, que age com o pensamento de que “é meu e faço com ele o que quiser”, é um caminho que leva seguramente à perda não só dessas riquezas em si, mas à perda da autoridade moral de posse sobre esses bens.

         Não bastasse essa tragédia, o tráfico e contrabando de espécies de vegetais e animais ainda é uma prática corrente em nosso país. Trata-se da terceira maior atividade ilegal de todo o mundo, responsável, segundo os pesquisadores, por retirar, do meio ambiente, dezenas de milhões de espécies a cada ano. Além de exportar ilegalmente espécies de animais para todo o mundo, o Brasil passou também a importar de outros países, espécies estranhas ao nosso meio ambiente, o que tem acarretado graves problemas para o equilíbrio ecológico interno. “A fauna exótica introduzida pode se tornar invasiva, conquistar áreas muito maiores do que as previstas, suprimir a fauna nativa e transmitir novas doenças. Mais de 180 tipos de zoonoses transmitidas por animais já são conhecidos”, alertam os cientistas.

         No dia consagrado à São Francisco de Assis, protetor dos animais, e em que igrejas em todo o mundo abençoam os animais, é preciso um olhar de atenção com as espécies que habitam este mesmo espaço e que aqui estão, muito antes da chegada dos homens e da civilização.

 

A frase que foi pronunciada:

“É realmente devastador ver mais uma vez incêndios devastando os ecossistemas mais vitais da América do Sul – a floresta amazônica, a savana tropical do Cerrado, as zonas úmidas do Pantanal e o Gran Chaco – ameaçando comunidades, a biodiversidade e nosso clima global. Esta é uma emergência climática, ambiental e humanitária que deve ser tratada com ação urgente e imediata pelos governos nacionais e globais na Assembleia Geral da ONU (…)”

Amazon Whatch

Incêndio no Parque Nacional de Brasília | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

 

Minas e Energia       

Neste ambiente democrático, nada mais interessante que saber a opinião dos trabalhadores sobre o horário de verão. A intenção de estabelecer um horário diferente é mudar o horário do pico de consumo de energia para um horário com mais luz solar, diminuindo a necessidade de ligar as usinas termelétricas para dar conta da demanda. As luzes acesas e o banho na madrugada para ir ao trabalho trouxeram uma mostra diferente apontada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), onde no resultado é assinalado o seguinte: “a redução observada no horário de maior consumo”, das seis horas da tarde até as nove da noite, “é compensada pelo aumento da demanda em outros períodos do dia, especialmente no início da manhã”, quando ainda é escuro, na maior parte das regiões, durante o horário de verão.

Charge do Ricardo Magalhães

 

História de Brasília

Depois de entregar declarações impressas, e de se negar a responder às perguntas dos jornalistas, o sr. Laranja Filho viajou para o Rio, onde tratará do assunto Novacap com o Primeiro Ministro e o Ministro da Justiça. (Publicada em 19.04.1962)

Quando o circo pega fogo

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Imagem aérea mostra incêndio no Parque Nacional de Brasília. Imagem: g1.globo.com

Em dezembro de 1961, num domingo de verão, o Brasil inteiro tomava conhecimento do que foi considerado o maior incêndio já registrado no país. Naquela ocasião, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, um enorme incêndio consumia por completo o maior circo da América Latina, Gran Circo Norte-Americano, deixando 503 mortos, dos quais 300 eram crianças. A causa dessa tragédia teria sido a imensa lona que cobria o circo, feita de uma mistura de algodão com parafina.

Nessa ocasião, o presidente da República era Juscelino Kubitschek, e o Brasil registrava uma população de aproximadamente 71 milhões de habitantes. Passados 63 anos, o episódio trágico, como tudo neste país, caiu no esquecimento e poucos ainda se recordam do acontecido. Para os moradores de Niterói, ficou um certo temor e uma fobia contra espetáculos circenses de qualquer natureza. O que teria esse acontecimento do passado a ver com a situação atual de nosso país, cercado hoje por mais de 200 mil focos de incêndio, mergulhado na maior e mais escandalosa nuvem de fumaça e fuligem de toda a nossa existência como nação?

Por certo, no futuro distante, o ano de 2024 ficará registrado nos anais do país como o ano da calamidade nacional. A começar pelo Sul, vítima do maior dilúvio já registrado na região. Agora, Norte e Centro-Oeste são consumidos por chamas colossais, varrendo o que resta de cobertura vegetal e, com ela, milhares de animais silvestres, todos igualmente reduzidos a cinzas e mostrados ao vivo e a cores para todo o país e para o resto do mundo.

Alguns mais apressados correrão para anunciar que o Gran Circo Brasil está em chamas. Os rescaldos materiais desses fogos continentais ainda não são conhecidos. Talvez, um dia, venhamos a saber. Também não se conhece o número de vítimas humanas dessas queimadas. Por certo existem, e devem ser muitas. O fato aqui, e que corrobora para o prosseguimento dessas tragédias, é que não aprendemos nada com nossa história. E pior: buscamos não aprender nada, deixando que as culpas recaiam sempre nas costas daqueles que pouco ou nada podem fazer em sua defesa.

Os políticos brasileiros, em sua grande maioria, fazem até o impossível para serem eleitos. Uma vez no cargo, deixam de lado suas responsabilidades e miram apenas no poder que ser governo dá. Apenas uma pequena e ínfima minoria entende que governar, em um país como o nosso, é um apagar de incêndio diário. Para os demais, somente quando o fogo começa a lhes arder as vestes é que correm para agir.

Bastou o Distrito Federal ser coberto por grossas nuvens de queimadas para os ocupantes da Praça dos Três Poderes sentirem a necessidade de gritar: Fogo! O Congresso, como sempre, preocupado e envolto em questões argentárias de orçamento, pouco ou nada tem feito. Do mesmo modo, o Executivo, alheio ao que se passa além das janelas do Palácio, mesmo avisado com muita antecedência sobre os sinistros que viriam, resolve agora fazer reuniões para estabelecer estratégias visando, quem sabe, impedir que o país volte a arder em chamas.

Não há quem possa acreditar que o que não foi prevenido será, doravante, efetivado. É tudo uma grande pantomima a mostrar, mais uma vez, que os brasileiros, de modo geral, estão entregues à própria sorte. Não chega a ser surpresa que o Gran Circo Brasil, aquele cujo picadeiro fica em Brasília, está em chamas, sendo imolado no altar das vaidades e das políticas sem lastro na ética pública. Tivéssemos aprendido com os acontecimentos daquele longínquo dezembro de 1961, por certo, não voltaríamos a nos reunir debaixo dessa lona.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“A nossa preocupação é que, ao longo do dia, com o aumento da temperatura e queda da umidade, esses focos possam se propagar novamente”
Coronel Pedro Aníbal, comandante operacional do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal

Coronel Pedro Aníbal. Foto: agenciabrasilia.df.gov

 

Alerta para alagamentos
Enquanto o DF permanece atrás de uma cortina de fumaça, as faixas de pedestres continuam sem tinta, as bocas de lobo não foram revisadas e não há contenção para as chuvas vindouras. Hora de prevenir!

 

Agenda
Hoje é dia da Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados promover um debate virtual entre os pré-candidatos à presidência do Comitê Olímpico do Brasil (COB): Paulo Wanderley Teixeira, Marco Antonio La Porta e Yane Marques. O evento será realizado às 14h, no plenário 4, e atende a pedido do deputado Luiz Lima (PL-RJ), que será o moderador do debate.

Foto: cob.org

 

Inclusão
Projeto incentiva produção cultural que busca incluir idosos. A proposta trata de idosos internados em instituições de longa permanência, asilos e residência assistida. Já que o deputado federal David Soares (União-SP) se empenhou tanto nesse objetivo, poderia simplesmente prever a participação de idosos com um aporte maior se forem de instituições.

David Soares. Foto: camara.leg

 

História de Brasília
Para os que querem entender demais, e que receitam a torto e a direito sem ser médicos, o nome da doença é laringite estridulosa. (Publicada em 18/4/1962)

Verde ardente

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Foto: veja.abril.com

 

Obviedades são como almas de outro mundo. Só são vistas por indivíduos dotados de percepções acima da média, com uma espécie de paranormalidade. São, nesse caso, aquelas pessoas capazes de enxergar além do que parece ser à primeira vista, esmiuçando o objeto com os olhos e as lupas de um especialista. O dramaturgo e jornalista, Nelson Rodrigues (1912-1980), costumava dizer que só os gênios enxergam o óbvio. Ou, em outras palavras, a obviedade é ululante.

Com essa premissa, fica evidente que o período estendido de quarentena fornece somente, àqueles dotados de olhos para enxergar, a oportunidade única de avaliarem, com precisão, o mundo e a sociedade em volta. A virose, ao proporcionar a espetacular chance de uma espécie de retiro espiritual forçado, tem facultado a muitos a experiência de uma revisão do mundo, da humanidade e sobretudo das diversas e intrincadas relações que amarram esses dois sujeitos num destino comum, mas que dá ao planeta a vantagem de naturalmente prescindir dos terráqueos.

O mesmo não se pode dizer da espécie humana, umbilicalmente ligada à Terra e dela totalmente dependente para sobreviver. Espoliada e degradada pelos humanos, há muito o planeta vem emitindo sinais claros de esgotamento do modelo de exploração imposto pela sociedade de consumo. Na realidade, e os constantes alertas de cientistas e ambientalistas vão nesse sentido, o planeta já não consegue mais repor ou renovar os recursos naturais extraídos de modo irracional e, pior, sem quaisquer critérios ou preocupações com as futuras gerações.

Pouco tempo antes de os eventos que conduziram a pandemia de características bíblicas, a agenda mundial vinha se ocupando dos fenômenos do aquecimento global e de todo o stress que o meio ambiente vinha apresentando. Os prognósticos, com base científica, de um futuro sombrio para toda humanidade, caso persistisse o modelo atual de exploração, vinham sendo observados paulatinamente por alguns países mais comprometidos com a agenda ambiental do que outros.

Infelizmente, no rol dos países que passaram a dar pouca importância a essa agenda, o Brasil passou a ser o destaque internacional. Ao contrário dos países desenvolvidos, o Brasil, por força do poderoso lobby do agronegócio e do grande apoio que esse grupo fornece ao atual governo no Legislativo, passou a empreender uma agenda própria, voltada mais para o interesse imediato dessa classe do que ao atendimento de questões ambientalistas.

Para essa turma, que também inclui os extrativistas de minérios e madeiras na Amazônia, o meio ambiente nada rende comparado a outras atividades. É justamente essa agenda suicida que o atual governo resolveu adotar, forçando o Brasil a nadar contra a correnteza mundial e contra as evidências de que o planeta pede socorro. As queimadas na Amazônia, as invasões de terras indígenas e os desmatamentos nunca foram tão intensos como agora. O Alerta tem sido feito tanto por monitoramento de satélites, como por denúncias que não param de chegar.

Aproveitando o período de pandemia e quarentena, quando os brasileiros estão alarmados e aflitos em preservar a própria vida, os habituais depredadores, inclusive bancados com o dinheiro de poderosos grupos estrangeiros, estão agindo livremente, promovendo um saque ao país. O governo, para quem esses grupos são importantes para o “processo de desenvolvimento”, faz vistas grossas, ou seja, não enxerga o óbvio.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Se queres provar-nos que és competente em agricultura, não o proves semeando urtigas.”

Georg Christoph Lichtenberg, filósofo, escritor e matemático alemão.

Georg Christoph Lichtenberg. Imagem: wikipedia.org

 

Sempre burocrático

Cartório do 4º ofício, na Asa Norte, quadra 504, anuncia pelo site que é possível fazer agendamento. Ao tentar marcar data e hora, a instrução é que o interessado vá pessoalmente agendar o atendimento no próprio cartório. Chegando lá, recebe um papel para marcar data e hora ou opta por enfrentar a fila.

 

Ruim

Avaliação dos usuários em relação ao aplicativo do BRB é nota 2. Quem tenta abrir uma conta pelo celular simplesmente não consegue. Como o caso do cartório comentado acima, exige, na realidade, a presença do cliente.

 

 

Cidade fantasma

Se, antes da pandemia, andar pelo Setor Comercial Sul já era desolador, aquele mesmo cenário está se estendendo pelas áreas comerciais da cidade. Até um site já foi criado com a lista de restaurantes fechados por toda a cidade. Veja no link Vendo Restaurantes.

Restaurante fechado na quadra 405 Sul. Foto: Blog do Ari Cunha

 

Covid-19

Um túnel de ozônio. Foi assim que a fábrica da Klabin resolveu manter seus colaboradores protegidos. Veja a seguir.

 

 

Megafone

Comemorações do Dia Internacional da Enfermagem usam o microfone para pedir melhores condições de trabalho.  Reconhecimento é bom, mas dar condições no trabalho é fundamental.

Cartaz publicado no perfil oficial do Governo do DF no Instagram

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

E vive, também, como sede do governo, como centro convergente do país, como cidade, como comunidade. Antes, quando os blocos não estavam habitados, reclamavam contra a falta de choro de crianças, a falta de cheiro de bife nos corredores. Hoje, os que não querem ver a obra, dizem que a acústica faz com que se ouça o choro da criança vizinha, e há quem reclame contra o cheiro de bifes nos corredores de serviço. (Publicado em 06/01/1962)