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ARI CUNHA
Visto, lido e ouvido
Desde 1960
com Circe Cunha e Mamfil
colunadoaricunha@gmail.com;
Uma das lições reveladas por essa que já é considerada a mais persistente e profunda crise já experimentada pelos brasileiros em quinhentos anos de história é que não podemos mais seguir em direção à miragem que nos faz crer que a sobrevivência de nossa democracia está condicionada a rendição da nação aos ditames da política nos moldes em que ela continua sendo feita desde a instalação do esboço de república feito em 1889.
Com a crise, anuncia-se agora também o fim das ilusões. Essa sensação é aumentada ainda, sintomaticamente, quando se observa agora o desfilar de candidatos à corrida presidencial e mesmo aos cargos de governadores. Absolutamente, nenhum deles mencionam, nem de longe, que a origem de nossa crise está no modelo de república que esboçamos lá no final do século XIX e que ainda hoje persiste apenas em seu sentido figurado.
Essa omissão talvez se explique pelo fato de que nenhum deles sabe exatamente do que se trata e por onde começar. Se soubessem recuariam de imediato diante da magnitude da tarefa que se apresenta. Primeiro que a instalação de um modelo de res pública, conforme seu sentido literal de coisa pública, colocaria de imediato em xeque esses postulantes, seus partidos, suas propostas, e, principalmente, todos aqueles que, por décadas, vêm se utilizando da política apenas para o enriquecimento pessoal e de seu grupo próximo.
Entre nós, desde sempre, a ideia do cuidado com o bem comum, da impessoalidade no trato da coisa pública, da meritocracia, características do conceito de república, ficou apenas no papel e, às vezes, nem isso. Em nosso caso, a instalação da república apenas substituiu um mandatário por outro, permanecendo e até acentuando o antigo modelo oligárquico.
De lá para cá, o que se viu foi a privatização sistemática do patrimônio coletivo dos brasileiros por uma elite política que vai se revezando no poder e que tem demonstrado, passados 13 décadas, total insensibilidade para os problemas do país. Talvez esteja no próprio arquétipo dos brasileiros, submetidos, por séculos, ao mais intenso modelo de colonização baseado na exploração exaustiva das riquezas, a raiz dessa deformidade que, ainda hoje, faz de cada um de nós um predador em potencial.
Como bem lembrou a historiadora e cientista política, Heloisa Starling, da Universidade Federal de Minas Gerais, em seu ensaio “Por onde anda a República?”, ainda em 1630, Frei Vicente do Salvador já observava: “Nenhum homem nesta terra é repúblico, nela zela, ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular.”
Mesmo com as prisões agora de parte dessa elite que tem perpetuado o atraso em nome de uma falsa democracia, o que vamos assistindo em paralelo é o esforço sobre humano dos Poderes do Estado, mormente do Judiciário, na figura de sua Suprema Corte, em proteger esses personagens, por meio de habeas corpus descontextualizados, na tentativa de manutenção do status quo. Não chegam a ser surpresas essas manobras e chicanas, vindas do topo da pirâmide do Estado. Afinal são todos, praticamente, farinha do mesmo saco, possuem as mesmas ambições e prezam a eternização de um modelo de Estado que acreditam, piamente, lhes pertencer por direito e herança.
A frase que foi pronunciada:
“A nossa República permanece inconclusa. O Estado é bem pessoal e é patrimônio de quem tenha poder.”
Heloisa Starling, historiadora e coautora de ‘Brasil: uma biografia’, na FLIP.
Novos vereadores
Jovens Senadores é um programa do Senado no qual escolas de todo o país participam de um concurso de redação. Os vencedores vêm para Brasília e passam pela experiência de discutir, propor e votar em leis. Muitos desses jovens optaram por entrar na vida pública, registrou com orgulho o senador Paulo Paim.
Greve à vista
Ibrahim Yusef, do SINDIRETA-DF, convida seus membros para uma reunião no Parque da Cidade, em frente ao Restaurante Alpinus, no dia 11 desse mês, às 14h. Denúncias sobre a situação do IML e possível paralisação são assuntos da pauta.
Agora vai?
Com o mote “Mais Brasil e menos Brasília”, os coordenadores da campanha de Jair Bolsonaro querem descentralizar as discussões fortalecendo Estados e Municípios.
Importante
Terminou ontem o I Seminário Internacional sobre Educação e Saúde na Terceira Idade. O evento foi organizado pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara dos Deputados. O seminário discutiu as políticas públicas, diversidade e empoderamento do idoso no contexto atual, e reuniu pesquisadores, estudiosos, além das Universidades Abertas da Terceira Idade (Unatis) de todo o Brasil.
Coração puro
Veja a foto no blog do Ari Cunha.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Com as obras progredindo lentamente, e sem novos planejamentos de construções, Brasília sofrerá um impacto com o ritmo que o novo prefeito, Sette Câmara, dará aos seus trabalhos. (Publicado em 25.10.1961)